De um lado um livro. Nas páginas, a história de uma avó se confunde entre versos e bordados. Além das palavras, as páginas do livro carregam ilustrações. Ilustrações essas que habitam o outro lado. No meio, entre um lado e outro, a interpretação, o teatro. Tudo isso dentro de um Museu. Para quem achava que Museus eram silenciosos, frios e carregados de obras estáticas, o lançamento de Minha Avó Tecia o Mundo comprova o contrário: Museu pode ser o lugar dos livros, das ilustrações e do teatro. Basta abrir as portas.
Escrito por Pablo Morenno, Minha Avó Tecia o Mundo é um livro multimídia. As palavras são acompanhadas de ilustrações em bordados - fruto das mãos de Carla e Maria Helena Furlanetto. As doces frases parecem ser carregadas pelos detalhes de cada trama que as linhas desenham. Depois de tecidas, as obras foram fotografadas por Ervinton Quartieri Jr e habitam as páginas do livro. No lançamento da obra de Pablo Morenno - que acontece no próximo dia 10 no MAVRS, a partir das 19h30 - os bordados - instalados em suportes reais - estarão expostos pelos corredores do Museu. Buscando compreender todos os sentidos, surge o teatro: Helen e Carlos Job, da Cia Arte & Palco foram convocados para interpretar parte do livro. E, assim, aliando a literatura, a arte da costura, da fotografia e do teatro, Minha Avó Tecia o Mundo sai das mentes de Pablo Morenno, Carla, Maria Helena e Ervinton para ganhar as ruas da cidade.
As avós têm o poder de mudar o tempo. Nesta história, a avó aguarda um inverno ao lado de um blusão. Borda flores num pano de prato e a cidade floresce... Trança um chapéu de palha de trigo e o verão se apruma... Pinta folhas amarelas caindo ao vento e a família se reúne num domingo de outono... Os olhos mágicos do neto observam o poder de sua avó enquanto sonham com um mundo bem alinhavado, costurado em pontos firmes de emoções e lembranças. Um dia a avó entrega um poncho para o menino e aponta a estrada. E o neto vai. “Na minha infância, enquanto brincava, via minha avó tecer, costurar, pintar... Ficava olhando aquelas maravilhas saindo de suas mãos, e observando o mundo mudar com cada coisa inventada por ela. Cresci e me dei conta que o mundo imaginado não era igual ao mundo verdadeiro; neste muitas coisas precisam de remendo”, relembra o autor.
De fato, as lembranças de Pablo deram o primeiro sopro para que Minha Avó Tecia o Mundo tomasse forma. “Escrevi este livro em homenagem a todas as avós do mundo”, declara. Ao encontrar as obras do Ateliê Maria Boneca, percebeu que ali estava a companhia exata para as suas palavras. “Elas conseguiram transformar em imagens impressionantes minhas palavras tão simples”, comenta. O encontro parece ser recíproco. Carla é formada em Artes Visuais e, atualmente, se dedica a uma especialização em Arterapia. “Gosto de salvar peças antigas e resgatar nelas coisas bonitas do passado, memórias que aparecem e saem do ateliê para o mundo, como estas ilustrações para a livro do Pablo. Fiquei muito feliz em me inspirar nas palavras poéticas do Pablo para fazer poesia com as mãos”, comenta.
Ao lado dela, Maria Helena. Avó de dois netos e bordadeira há quase setenta anos, aprendeu a arte ainda na infância. “Como a avó deste livro, acredito que vou tecendo um mundo melhor para meus netos em cada peça que criamos eu e minha filha Carla. Lá, além de bordar, vou costurando tecidos, fazendo tricô, encontrando lembranças escondidas entre os fios, contando histórias novas e antigas para quem aparece, especialmente as crianças”. Entre as lembranças de um neto, a inspiração de uma filha e o carinho de uma avó, as páginas ganham vida e voz. Minha Avó Tecia o Mundo não é um livro para ser lido apenas com os olhos. Há palavras para as mãos, para o coração e para a memória.
Lançamento do livro Minha Avó Tecia o Mundo, Pablo Morenno
Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, 10 de abril, 19h30