Na parede, a linha construía o destino de cada obra. No chão, uma cadeira de balanço, uma colcha de lã, produto das mãos de alguém que carrega carinho. Ao lado delas, um carretel. Do outro lado, um livro aberto revela botões de todas as cores e tamanhos. Nas paredes, histórias. Histórias contadas pela linha que faz o mesmo caminho da tinta. A exposição Fio da Meada, composta pelos bordados e ilustrações que estampam as páginas do livro Minha Avó Tecia o Mundo, é uma espécie de volta a um passado onde enrolar-se numa das colchas feita pela avó era a melhor forma de passar o tempo.
Na última quinta-feira, o Museu de Artes Visuais Ruth Schneider abriu as portas para receber um público sedento por arte. Escrito por Pablo Morenno, Minha Avó Tecia o Mundo é um livro multimídia. As palavras são acompanhadas de ilustrações em bordados - fruto das mãos de Carla e Maria Helena Furlanetto, do Ateilê Maria Boneca. As doces frases parecem ser carregadas pelos detalhes de cada trama que as linhas desenham. Depois de tecidas, as obras foram fotografadas por Ervinton Quartieri Jr e habitam as páginas do livro. O lançamento do livro de Pablo Morenno, no dia 10, não veio sozinho. Trouxe consigo música, teatro e a abertura da exposição Fio da Meada, resultado do trabalho de Carla e Maria Helena.
O fato de mãe e filha trabalharem juntas deu à exposição o toque de intimidade e pessoalidade que, por vezes, faz falta. Em cada peça era possível enxergar a delicadeza dos detalhes e o cuidado com que cada escolha foi feita. “A exposição foi feita a quatro mãos. Eu fiz a parte do desenho e toda a parte criativa das peças. Depois passava para a minha mãe, que bordava e me repassava para que eu fizesse os acabamentos”, conta Carla que é formada em Artes Visuais e, agora, se dedica a uma especialização em Arteterapia.
Todo o trabalho de produção durou seis meses. Depois de escritos os poemas, Pablo repassava para Carla e Maria Helena que faziam três desenhos para que fossem escolhidos. “Foi um trabalho de parceria. Passamos o tempo todo fazendo reuniões. Foi um trabalho gerado com muito carinho”, comenta a artista. Carinho que surge da identificação com o livro. Maria Helena, avó de dois netos, é bordadeira há quase setenta anos e aprendeu a arte ainda na infância, com a mãe. Para Carla fazer parte dessa história é significativo. “A minha avó era uma pessoa que trabalhava com as mãos, fazia as costuras e os bordados dela. Minha mãe aprendeu isso com 9 anos de idade. E esse resgate do antigo sempre foi o foco principal do meu trabalho. Fico muito emocionada. Foi uma experiência gratificante”, conclui.
A exposição é composta por 26 bordados que resgatam os poemas do livro e ficará aberta para a visitação até o dia 11 de maio no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider.
Exposição Fio da Meada
Até 11 de maio, no MAVRS