William Shakespeare não é tão contemporâneo quanto Clarice Lispector e não está tão presente nas redes sociais quanto Caio Fernando Abreu. Mas, ainda assim, mesmo depois de 450 anos do seu nascimento, a obra do autor inglês parece se renovar e torna-se base para muitos dos sucessos carregados pela Geração Y.
Casal impedido de ficar junto pela família? Mulher de personalidade forte que não se deixa subjugar pelos homens e nega o amor? Personagem principal sempre em dúvida sobre quem realmente é e qual o seu papel no mundo? Uma mulher por trás de um marido inescrupuloso? Poderíamos estar falando de Crepúsculo, O Cravo e a Rosa, Dez Coisas Que Eu Odeio em Você, House Of Cards e tantos outros títulos literários, cinematográficos e televisivos que, hoje, ganham a audiência do público, mas não. Os enredos nasceram muito antes do século XXI e fazem parte de obras de um dos maiores escritores da história. Romeu e Julieta, A Megera Domada, Hamlet e Macbeth são tramas que passeiam pela cultura pop e, ainda hoje, mantém a memória e a dramaturgia de Shakespeare vivas.
Desde o século XVI essas e outras obras percorrem a cultura e carregam consigo a identificação da sociedade. As narrativas se repetem porque fazem sentido e encontram em personagens da vida real as mesmas histórias protagonizadas pela Julieta ou por Hamlet retratados por Shakespeare. O dramaturgo não foi apenas um romancista. Abordou o ciúmes, a batalha dos sexos, os relacionamentos familiares, a política, a moral, a ética, e a morte. Falou de si, por entre linhas. Criticou, no meio das falas. Abraçou os temas e os explorou de forma complexa e profunda. Talvez seja na complexidade da obra de Shakespeare que esteja o motivo da durabilidade.
A ironia e a volta
Ainda que, hoje, seja considerado atemporal, não se pode negar que Shakespeare é, também, um produto do seu tempo - uma época onde era preciso congregar, no mesmo espaço, a elite e o popular. Shakespeare conseguiu. E, por habitar em dois espaços, sua obra foi ironizada e esquecida no Iluminismo do século XVIII e voltou à cena somente no Romantismo do século XIX. O dramaturgo tornou-se, então, símbolo da luta romântica contra a ordem estabelecida e contra o bom gosto clássico. Tornou-se ícone do teatro, símbolo do sofrimento romântico e grande apoiador das causas políticas.
Comemoração que não acaba
As lembranças dos 450 anos de Shakespeare duram o ano todo e seguem até abril de 2015, mês em que se completam 400 anos da morte do dramaturgo. A variedade gigantesca de emoções e sentimentos retratados por Shakespeare parecem vir à tona. Intensidade psicológica e complexidade de sensações voltam a fazer parte de adaptações e releituras. Independente se seguem o roteiro original ou se pescam elementos das histórias shakespearianas, Shakespeare está em todos os lugares da cultura popular.