Novembro de 2010. Cinco policiais trabalham infiltrados no Complexo do Alemão-área que reúne diversas favelas e é considerada um dos locais mais perigosos do Rio de Janeiro. Desmascarados pelos traficantes, eles agora estão presos e aguardam ou a execução ou o resgate. Esta última opção, no entanto, significaria a divulgação de uma missão clandestina realizada pela polícia militar. A trama de Alemão, filme que estreia hoje nos cinemas da cidade, foi escrita por Gabriel Martins, dirigida por José Eduardo Belmonte e ficcionaliza a ação da Polícia no Rio de Janeiro ao retratar a situação política e social da cidade.Diferente de Tropa de Elite ou Cidade de Deus, Alemão foca na relação entre os personagens e usa da briga entre traficantes e polícia como um cenário que impulsiona o roteiro. A instalação das UPP’s (Unidade de Polícia Pacificadora) e a eleição do Rio como a cidade sede das Olímpiadas de 2016 dão o impulso inicial para o longa e o conflito na favela dá o clima de tensão que é capaz de prender o espectador em um gênero já saturado. Grande parte do que roda na tela é a ampliação de uma realidade: tráfico de drogas, esforço do governo em fazer o Brasil parecer um país preparado para os eventos esportivos que sediará e uma população cada vez mais cansada de exigir os direitos. No entanto, o filme não é, de forma alguma, uma conclusão da realidade: cabe ao público a interpretação final.
No enredo, Branco (Milhem Cortaz), Samuel (Caio Blat), Carlinhos (Marcelo Melo Jr.), Danilo (Gabriel Braga Nunes) e Doca (Otávio Müller), policiais descobertos pelo mundo do tráfico, são presos e a atmosfera estabelecida pelas suas histórias traz a sensação de claustrofobia. Boa parte da trama é passada no porão de uma pizzaria e cada um dos atores coloca realismo na inquietude e no desespero dos personagens. Destaque para Cortaz e Blat que, a cada novo trabalho, provam ser dois dos maiores atores do cinema brasileiro na atualidade. Do outro lado da briga, o tráfico é liderado por Cauã Reymond que vive o chefe do morro, Playboy. A ação se desenvolve na exploração do conflito e o fato de que há recortes de cenas reais inseridas no meio da ficção coloca o filme como uma espécie de documentário.
Completando o elenco, Antonio Fagundes vive um delegado de polícia – pai de Samuel – e, ao lado de Caio Blat, são responsáveis pelas cenas que carregam maior emoção. Além dessa relação, outras duas movimentam a trama: Playboy se envolve com a ex-namorada – vivida por Mariana Nunes – e um dos policiais se envolve com a irmã de um dos traficantes. As relações exploram as divergentes opiniões e visões sobre a favela e sobre o processo de pacificação.
Alemão está longe de ser mais um filme sobre a favela brasileira. Apesar dos problemas – a trilha sonora exageradamente regada a funk e pouca profundidade nos personagens -, o longa é uma forma diferente de explorar a realidade do Rio de Janeiro e, ainda, de visualizar a situação política e social do Brasil – especialmente às vésperas de eventos que colocarão os olhos do mundo por aqui. Vale a pena tentar olhar de uma maneira diferente.
Estreia hoje no cinema do Bourbon, às 19h e às 21h10