Há, no Festival Internacional de Folclore, apenas duas certezas. A primeira é que quando o primeiro acorde da música tradicional do evento invade a lona, o coração bate mais forte. A segunda é o fato de que, independente de quantas vezes você tenha sentado naquelas cadeiras, você vai, sim, se surpreender. Nesta XII edição, por exemplo, a surpresa chega antes mesmo de a lona ganhar o Parque da Gare. Pela primeira vez Passo Fundo recebe o Rio Grande do Norte no palco cada vez mais acolhedor.
Do nordeste do país participa do Festival o grupo Pastoril Dona Joaquina, da cidade de São Gonçalo do Amarante. Considerado uma associação cultural, sem fins lucrativos, o grupo busca a preservação de um dos quatro principais espetáculos populares da região: o pastoril. Podendo ser classificado como tradicional religioso ou tradicional popular, o pastoril é uma recriação brasileira dos autos vindos da Península Ibérica, trazidos pelos portugueses durante a colonização. A tradição chegou até o grupo pelas mãos das famílias portuguesas advindas da Província de Pernambuco, há cerca de 360 anos e, hoje, permanece vivo pela incansável luta do grupo que, através do culto ao folclore e da pesquisa histórica, social, etnológica e econômica, busca promover e respeitar a tradição do estado.
Oriundo dos dramas litúrgicos representados nas Igrejas especialmente nas encenações de Natal, o pastoril foi, aos poucos, desvinculando-se dessa característica natalina e tornou-se mais popular. O pastor foi substituído por um palhaço com a função maior de organizar a apresentação, fazendo-a parecer uma brincadeira entre público e pastorinhas - personagens centrais do espetáculo. Justamente por ser uma tradição essencialmente feminina - ainda que a banda seja composta por homens - hoje, na cidade de São Gonçalo do Amarante, o pastoril é considerado uma espécie de herança entre as mulheres da família. O grupo usa de dança e música para misturar elementos pastorais e alegóricos, de bailados, textos, poesia e composições. No pastoril toda gestualidade é elemento de impacto na transmissão e recepção da performance do participante.
O Encarnado e o Azul
Ainda que encontre no solo pernambucano a sua essência, o pastoril potiguar é mais uma brincadeira enquanto que o de Pernambuco usa da dança como forma de cortejo. Permanece, no entanto, a rivalidade entre Encarnado e Azul. No palco, as pastoras se dividem: à direita do palco, as mulheres vestem vermelho, assumem o título de Encarnado e são comandadas pela Mestra; à esquerda, as pastoras são comandadas pela Contramestra, vestem azul e se denominam Azul. No centro da disputa, uma das pastoras - Diana - assume as duas cores e pode dançar ora com um lado, ora com outro e assume a função de apaziguar os ânimos das torcidas enquanto o Palhaço as instiga.
Terceiro grupo a ser confirmado, o Pastoril Dona Joaquina traz na bagagem o mesmo idioma e o mesmo gosto pela tradição que carregam os gaúchos. Entre brincadeiras, dança, poesia e teatralidade, o palco do XII Festival Internacional de Folclore de Passo Fundo parece se engrandecer para receber a tradição potiguar. O evento acontece de 15 a 23 de agosto de 2014, e tem a promoção da Prefeitura Municipal de Passo Fundo e CIOFF, com a apresentação do Ministério da Cultura e o patrocínio de inúmeras empresas privadas além do Município.