Dos 50 anos de vida, 30 deles passou em cima do palco. Ora como baixista, ora como pianista, ora como guitarrista. Ora com uma banda. Ora como dupla. Ora sozinho. Humberto Gessinger não é apenas um, mas vários. O talento parece se multiplicar: viaja entre diferentes cenários, compõe diferentes melodias, atinge diferentes sentimentos. Em Passo Fundo - não com a banda Engenheiros do Hawaii, nem com o Duca e o Pouca Vogal -, Humberto traz outras companhias, mente aberta e um novo trabalho - mais dele do que nunca.
Com a banda Engenheiros do Hawaii, Humberto traçou uma carreira incansável. Desde 1986 a 2007 foram 17 discos lançados - quase um por ano. As músicas que povoaram as décadas de 80 e 90, chegaram ao século XXI e conseguem, ainda, falar ao jovem. Os fãs tornara-se pais e a herança dos filhos foi o próprio gosto pela música. A banda - e o próprio Humberto - foram capazes de, ao passar dos anos, acolher, num mesmo espaço, fãs de diferentes idades e contextos sociais.
Depois de Engenheiros, Humberto chamou por Duca Leindecker. Juntos, formaram a banda Pouca Vogal. Ali, tanto Humberto quanto Duca, ultrapassaram os próprios limites e viveram a experiência de ser uma banda apenas em dois. Para os fãs, mais dois discos para ficarem guardados na memória. Em 2013, Humberto decidiu seguir sozinho. O novo projeto, aos poucos, tomou forma, ganhou corpo e sozinho não ficou.
Insular, primeiro CD solo de Humberto, com composições inéditas e autorais, com parcerias variadas e temas que não seguem uma linha específica, é um disco que, sem pretensão, agrada qualquer público. É uma espécie de resgate inconsciente de todas as fases do Engenheiros, mas com a individualidade que só Humberto sabe colocar em um novo projeto. É algo que nunca foi ouvido, mas que as notas te remetem a algo.
Humberto trouxe para perto de si artistas que acreditou encaixarem nas composições. Rodrigo Tavares, Bebeto Alves, Luis Carlos Borges, Frank Solari e Nico Nicolaiewsky. Não há estilo ou gênero. Há, no trabalho de Humberto, a vontade de fazer música. Em Passo Fundo, Humberto apresenta o mesmo show do DVD que será gravado em Belo Horizonte, no fim do mês: uma mistura de músicas clássicas com o novo trabalho. E ele também não vem sozinho: Com ele no baixo, nos teclados e no acordeon, Rodrigo Tavares o acompanha na guitarra e no violão, enquanto Rafael Bisogno comanda a bateria e a percussão.
A terra que o acolhe de dois em dois anos para o ouvir cantar o tema das Jornadas Literárias se cala para o ouvir cantar de si. É hoje, no Gran Palazzo! Antes disso, no entanto, HG conversou com o Segundo e falou mais sobre a fase que vive, o disco e os planos para o futuro.
Fala, HG!
Segundo Caderno: Depois de um ritmo intenso com o Engenheiros, você encarou o desafio do Pouca Vogal com o Duca e, agora, é uma nova fase na tua vida: um CD solo, com parcerias que você mesmo escolheu, músicas novas. Como você define essas escolhas? Qual a tua justificativa pessoal para essa nova fase?
Humberto Gessinger: Às vezes penso que é uma ilusão achar que a gente escolhe os caminhos, eles é que nos escolhem. Sigo intuições tentando não analisá-las demais. Quando comecei a trabalhar no INSULAR notei que as músicas pediam ambientes diferentes e aproveitei para convidar músicos que admiro e que tinham a ver com o material. Foi por não ter uma banda fixa me acompanhando que resolvi lançar como disco solo. Do ponto de vista das composições, poderia ser um disco dos Engenheiros do Hawaii ou do Pouca vogal.
Segundo Caderno: Falando em parcerias... Como elas aconteceram? Sabemos que o Rodrigo Tavares é um cara ligado no público jovem, que veio de uma banda atual e também encara um projeto solo. Por outro lado tem o Luiz Carlos Borges, ligado a tradição. Como você fez para definir quem tocaria contigo e em qual música?
Humberto Gessinger: Pois é... estamos tão acostumados a dividir artistas em estilos, vertentes e gerações, que esquecemos que arte rompe barreiras de tempo e espaço. Minha maior preocupação era de que as parcerias soassem naturais, que não se perdesse, no processo, as características mais particulares de cada um. Acho que consegui.
Segundo Caderno: O Nico também teve uma participação no CD. Como foi para ti trabalhar com ele? E na tua opinião, o que a música do estado perdeu com a morte dele?
Humberto Gessinger: Sempre fui fã do Musical Saracura, banda do Nico nos anos 70. Perdemos muito, mas é melhor pensar em tudo que ganhamos com a música que ele fez e que continua viva. Passamos horas divertidíssimas e emocionantes no estúdio, acho que foi a última gravação dele… quando escrevi SEGURA A ONDA de cara pensei em convidá-lo. E acertei na mosca: ele entendeu exatamente qual era o clima.
Segundo Caderno: Insular não segue uma linha reta de temas e melodias. É uma variedade. Tem de tudo, para todos os gostos. Como foi produzir, compor, realizar este CD? Qual a história dele?
Humberto Gessinger: INSULAR marca um momento especial na minha trajetória. É meu retorno ao contrabaixo como instrumento principal. Há 10 anos eu não lançava um disco só de material inédito. Celebra vários encontros, uma abertura maior para tocar com outras pessoas. É um disco que só poderia ter sido feito agora, depois de muita estrada.
Segundo Caderno: Qual a sensação de subir no palco sem os caras do Engenheiros e sem o Duca? Foi um desafio encarar o público "sozinho"? Ainda é a mesma adrenalina?
Humberto Gessinger: A adrenalina é sempre a mesma. Não é bom sentir-se muito seguro, pois nada é certo nessa estrada. Mudanças são constantes na minha carreira. É paradoxal, mas verdadeiro. Esta foi uma das transições mais tranquilas. Com o tempo a gente aprende a se concentrar no que realmente importa e esquecer o que é secundário.
Segundo Caderno:Os teus fãs são os mais diferentes possíveis. Tem a galera que curtia o som de Engenheiros. Tem a galera que conhece o lado Pouca Vogal. Tem a galera que pegou as duas fases. Quando você escreveu as tuas novas músicas e pensou nessa turnê, você pensou em agradar alguém ou pensou em embarcar numa coisa nova mesmo?
Humberto Gessinger: Acho que o artista que respeita seu público não pensa nele. Agradar é ótimo, mas deve ser consequência de uma busca maior. Eu, como fã, não quero ser bajulado por meus ídolos. Quero que eles apostem nas suas intuições e corram o risco de ver o teatro vazio. Não penso no meu público como "consumidores" e espero que não pensem em mim como um "produto".
Segundo Caderno: Qual o segredo para se manter, mesmo depois de tanto tempo de carreira, ainda atual, ainda requisitado e se renovando sempre?
Humberto Gessinger: A vida é muito mais complexa do que os livros de autoajuda que tentam explicá-la. Não há segredos nem atalhos nesse caminho. Mas, às vezes, na solidão do ônibus, cortando a escuridão da noite depois de algum show, me vem a sensação de que cada um tem uma missão, e a minha é essa.
Segundo Caderno: E para o futuro? Qual o plano para Insular? Como vai rolar o DVD? Ou o plano para o Humberto?
Humberto Gessinger: No fim deste mês, gravo, em Belo Horizonte, o show que vai virar um DVD a ser lançado ainda neste ano. No repertório, músicas de todas as fases da minha carreira. Além do show, o DVD incluirá 5 músicas gravadas na serra gaúcha com convidados, num ambiente acústico. Depois, sigo na estrada por mais uns dois anos antes de pensar em algum novo lançamento.