Quando criança, as brincadeiras o possibilitavam viajar entre mundos. Quando não era um super-herói pronto para salvar o mundo, era um ninja capaz de enfrentar obstáculos e perigos. Desde cedo, os personagens faziam parte dele. Emiliano Ruschel viu na interpretação uma forma de expressar aquilo de mais íntimo que tem dentro de si. Ele nasceu em Lagoa Vermelha, mas ainda criança se mudou para Passo Fundo e aqui encontrou um lar. Hoje, é do mundo. Morando em Los Angeles há seis meses, Emiliano carrega uma bagagem pesada de experiências.
Emiliano se tornou ator muito cedo. Aos 5 anos de idade, fez a primeira propaganda publicitária e, depois disso, não parou mais. “Tive uma infância divertida. Sempre pratiquei esporte, mas sempre estive envolvido com artes também”, lembra Emiliano. Aos 12 anos, a professora de Educação Artística viu um diferencial nos desenhos de Emiliano e os apresentou no Centro de Desenvolvimento da Expressão Carlos Barone. “Ganhei uma bolsa e comecei a estudar lá também. Depois com uns 14 fui estudar teatro no Campus III da UPF. Tudo sempre me levou pra essa área”, comenta.
A arte em Passo Fundo
Ainda em Passo Fundo, Emiliano se juntou a Cesar Scortegagna e Cristian Cardoso para montar de teatro. Da mente dos três, surgiu a Metamorphosys Cia Teatral. “Todos nós trabalhávamos em outras atividades, o dia era longo e aguardávamos ansiosos a noite chegar para nos reunirmos e ensaiar - na época a peça era ‘Ah se minha cama falasse’”, lembra. Para Emiliano, no entanto, a noite não era suficiente. “Chegou um momento que não aguentei mais e decidi assumir os riscos e também a produção da peça no período integral. Esse foi o primeiro passo”, ressalta.
Emiliano comprova que o clichê de que ator do interior não consegue se aproximar da arte do centro do país é, de fato, um clichê sem fundamento. Ainda que o processo seja difícil, a dedicação torna o trabalho possível. “Realmente é um caminho muito difícil de seguir. Tem que ser uma coisa muito maior que você mesmo pra continuar a trilhar esse caminho. Queria muito poder parar, mas não consigo!”, se diverte.
Voando para o Rio de Janeiro
Quando largou o emprego, em Passo Fundo, para se dedicar a companhia recém montada, Emiliano assumiu o sonho e a intuição de se entregar à arte da atuação. O próximo passo seria embarcar rumo ao centro do país para conhecer, de perto, nomes que admirava. Em 2003, Emiliano embarcou para a cidade maravilhosa. “Chegar no Rio de Janeiro foi um grande passo, um “passo fundo” em direção a realização do meu sonho. Mas tudo tem um preço e a saudade que sinto da minha família, amigos e cidade é indescritível”, comenta.
No Rio, Emiliano iniciou uma carreira que envolve 10 novelas ou produções da Rede Globo e duas novelas da Rede Record. O ator não parou por aí. Além do teatro e da televisão, mergulhou, também, no cinema. Recentemente, trabalhou no seriado “Sem Controle” dirigido e montado por Daniel Rezende, indicado ao Oscar pela montagem do filme “Árvore da Vida”. “O trabalho do ator é muito semelhante, mas os veículos contam histórias com intensidades diferentes e num tempo diferente. E isso, claro, afeta o tamanho da interpretação mas a verdade do ator em cena é uma só”, comenta.
Para ele, a principal diferença nas novelas é a quantidade de capítulos em que se é possível contar a história de um personagem e o contexto em que ele está inserido. “Nos filmes geralmente - com exceções - são historias com menos personagens e uma narrativa natural, mas mais intensa. É uma história completa”, explica. “Gosto de fazer tudo na verdade”, ri. “Gosto de trabalhar como ator e contar histórias”.
Para Los Angeles
Ainda que tenha passado por diferentes cenários e atuado em diferentes contextos, Emiliano destaca que a essência é do trabalho do ator é mesma. Os trabalhos surgem e um dos motivos para ter escolhido os Estados Unidos é o idioma. “Estou aprendendo novas coisas, pois cada profissional tem seu jeito de passar uma mesma técnica, por exemplo. E isso acontece também no Brasil. Um dos motivos de estar nos EUA, estou estudando e aprimorando meu inglês para poder realizar esses trabalhos, que estão surgindo para mim já tem um tempo”, explica.
O mercado profissional e a própria cultura são as principais diferenças elencadas por Emiliano. “A diferença está em como eles trabalham. Como enxergam o conjunto e principalmente a meritocracia na hora de você ser chamado para um trabalho. Aqui é muito mais evidente o mérito de quem está aonde está. Poderia resumir que a maior diferença é cultural. É uma nova perspectiva de vida. Um novo jeito de ver os dois países. O Brasil e os EUA. Está sendo uma experiência fantástica”, conta.
Falar o idioma fluentemente abriu ainda mais portas para o passo-fundense que será o protagonista do filme “Nova Era”, distribuído pela Europa Filmes. Na pele de um personagem com dupla cidadania, inglesa e brasileira, Emiliano se dedica a oferecer naturalidade ao público. “Já interpretei algumas vezes estrangeiros em trabalhos de TV e cinema no Rio de Janeiro. Já fiz americano, inglês, australiano, alemão, italiano e até francês. Chegou o momento de me aprofundar nesse caminho. Estou numa jornada dupla também, estudo o sotaque americano e o sotaque britânico e é um desafio imenso é um trabalho gigantesco na verdade. E sempre será, é um trabalho diário e continuo”, explica.
Para Sempre Nunca Mais
Outra produção recente de Emiliano foi o longa Para Sempre Nunca Mais. Ambientado na Revolução Constitucionalista de 1932, o longa conta a história de Luiza, interpretada por Larissa Vereza, uma camponesa casada com um impetuoso e dominador colono italiano, Domingos Miguiare Rosso, personagem de Emiliano Ruschel. Luiza, vive um amor proibido com Quim, - interpretado por Bruno Dubeux- soldado da revolução enviado ao front de batalha. Cheia de reviravoltas dramáticas a trama desemboca na revelação de um grande segredo capaz de transformar a vida de todos. “Foi uma experiência inesquecível. A gente sempre entra num novo universo a cada personagem. Esse me resgatou da cidade e me levou pro campo, para as raízes italianas da família da minha mãe”, lembra.
Filmado em Minas Gerais, com uma equipe do Rio e de São Paulo, o longa foi todo ambientado no campo. “Ao invés de estúdios, estávamos vivendo ali naquele lugar, vivendo naquele sítio, levando aquela vida. Foi uma experiência marcante e transformadora. Compararia essas experiências vividas no set como uma viagem no tempo”, explica.
De volta para Passo Fundo
Mesmo atuando em Los Angeles, Emiliano segue de olho em Passo Fundo, tanto que faz parte do grupo de oficineiros da Escola de Atores. “Todo ano venho visitar minha família, meus amigos e sinto uma alegria de poder realizar uma oficina um workshop na cidade, dividir um pouco daquilo que tenho aprendido mundo afora. Uma espécie de agradecimento por aquilo que recebi e que me impulsionou para seguir meu caminho”, comenta.
É possível!
Emiliano tem uma carreira sólida, repleta de experiências gratificantes que aconteceram como resultado de dedicação. O Segundo Caderno questionou Emiliando se ele teria alguma dica para quem também deseja seguir esse caminho. Ele destacou três palavras: “Estudo, estudo e estudo”. Para ele, leitura e prática devem andar juntas para que a carreira engrene, de fato. “[Atuar] tem que ser uma necessidade de expressão, manifestação artística e cultural, não vai ser por dinheiro, pelo menos no início. Isso vem com o tempo e nem sempre pra todos. É como todas as profissões na minha opinião. Você percebe na hora em que você vai em uma loja, ou num serviço publico e as pessoas fazem aquilo sem amor. Claro que a maioria das pessoas precisa trabalhar para sustentar seus sonhos, às vezes precisamos deixar como hobby até que você consiga seguir em frente. Vou recorrer ao pensador e filósofo chinês de 551 a.C. – 479 a.C Confúcio "Escolha um trabalho que você ame e não terá de trabalhar um único dia de sua vida."”, conclui.