Seis décadas separam o Godzilla de Gareth Edwards da primeira versão do monstro que apareceu nas telas japonesas e, mais tarde, ganhou o mundo. Na história original, Godzilla se torna a personificação do medo das armas nucleares e o seu tamanho e força seriam uma espécie de representação da destruição causada pelas bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. Ora tratado como vilão, ora como herói, Godzilla é um dos monstros mais reconhecidos do mundo todo e, justamente por isso, a Warner apostou em um remake da história. O resultado disso chega hoje aos cinemas da cidade – novamente com atraso, tendo em vista a estreia nacional que aconteceu em maio.
O filme usa de explicações científicas para tentar explicar tudo o que acontece durante a narrativa: desde o surgimento dos monstros até os experimentos para matá-los. A história se centra na família de Joe Brody – interpretado por Bryan Cranston, o Walter White de Breaking Bad – que criou o filho sozinho depois que a esposa, Sandra, - interpretação de Juliette Binoche – morre, em 1999, em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam, no Japão. Joe nunca aceitou a catástrofe e quinze anos depois continua tentando encontrar alguma explicação para o que aconteceu. Ford Brody, filho do casal interpretado por Aaron Taylor-Johnson, se torna soldado do exército americano e especialista em bombas. Junto com o pai acaba caindo no caminho dos monstros que necessitam de radiação para se proliferar.
Ford acaba se tornando o centro da história e precisa lutar desesperadamente para salvar a população mundial - e em especial sua família - do que seria o principal destaque do filme, o monstro Godzilla. O filme se centra no drama familiar, na tentativa desesperada de voltar para casa e fugir da destruição causada pelos monstros. Monstros esses que demoram a aparecer por completo motivando a ansiedade do público. Quando aparecem, satisfazem – ainda que, segundo Fábio Rockenbach, especialista em cinema e professor da Universidade de Passo Fundo, o excesso de cenas noturnas – erro cometido na primeira refilmagem e repetido aqui – atrapalhem o filme e podem atrapalhar, ainda mais, o efeito 3D.
A narrativa se torna confusa ao tentar colocar Godzilla como herói e não mais como vilão. “Godzilla vira salvação da humanidade, mas ainda assim é coadjuvante do próprio show. Então, o filme só moderniza o discurso e Godzilla surge como a esperança”, acrescenta Fábio. Os movimentos de câmera e a própria estrutura da narrativa colaboram para que Godzilla e Ford dividam o papel de herói, o que colabora para que nenhum dos dois se sobressaia, de fato.
Além da direção de Edwards, o roteiro de Godzilla ficou a cargo de Max Borenstein e Dave Callaham. “É uma produção competente, tem uma criação de clima legal, não tem o humor imbecil do filme anterior, mas tem um ritmo bem irregular e um centro narrativo muito fraco - que é o personagem central -, mas dá pra dizer que é um filme que leva o personagem a sério e se leva a sério, o que é um grande avanço”, conclui Fábio. O fato é que apesar dos problemas, Godzilla é capaz de ressuscitar o Rei dos Monstros. Por quanto tempo isso vai durar, é outra história.