Em um quarto de hotel ordinário, um ciclo infinito: dois personagens, Preto e Verde, espionam um terceiro, Azul, e discutem sobre as conclusões que tiram de cada novo olhar. Em uma atmosfera de suspense e comicidade, os fatos revelados, aos poucos, os levam ao caminho do inesperado. A Vida Dele, peça vencedora do prêmio Myriam Muniz, foi desenvolvida com base na dramaturgia de Paul Auster e traz, no palco, uma atmosfera de suspense e dinamismo.
Com direção de Ramiro Silveira, gaúcho que, agora, mora em São Paulo, A Vida Dele é a mais recente produção companhia teatral gaúcha In.Co.Mo.De-Te, que estreou no mês de agosto, no Teatro São Pedro. O espetáculo é o encerramento da trilogia inspirada em Paul Auster que iniciou com O Gordo e o Magro vão para o Céu e DentroFora. Michelle Ferreira, responsável pela adaptação dramatúrgica do texto, uniu Fantasmas e Blecautes, ambos do escritor americano, e dessa soma nasceu o roteiro de A Vida Dele. Dando vida à este texto, Liane Venturella, Nelson Diniz e Carlos Fensterseifer são os protagonistas da trama que se passa no quarto do hotel.
Liane, que interpreta Verde, comenta que a peça estreia em um momento onde o contexto social estimula uma espécie de espionagem. Em meio a redes sociais, curtir e compartilhar, basta um clique e a vida do outro se escancara a sua frente. São 45 minutos de uma ficção que insiste em colocar um pé na realidade. “A história traz duas pessoas que espionam uma terceira pessoa. É, na verdade, uma brincadeira sobre controlar a vida do outro. E isso é um assunto muito atual, nessa era de redes sociais. A peça é divertida, é bem humorada. A pessoa sai de si, e observa uma outra vida”, comenta a atriz.
Além dos atores, o clima da peça é composto, também, por uma trilha sonora, luz e sombra que, unidas, levarão a trama a caminhos inesperados. “Luz e som são colegas de cena. Tem momentos em que a cena é a luz. A luz e a trilha são personagens a parte. Ficou uma unidade muito bacana. Foi uma evolução da parceria que temos”, explica. Liane comenta, ainda, que todas as escolhas da peça trouxeram um resultado muito bom para a companhia, ainda que inesperado. ““Estávamos muito temerosos com a peça. É muito difícil, quando você já tem uma peça de sucesso, que algo consiga entrar no lugar disso. Tudo é comparação”.
Ainda que seja envolta em um ar de suspense, a comicidade aparece entre as linhas do caminho escolhido pela peça. Enquanto todos seguem o caminho de Preto e Verde, que pensam estar observando Azul, o desenvolvimento da peça permite um entendimento diferente daquilo que acontece em cena. “Na verdade, um espia a vida do outro. É isso. E a narrativa é muito dinâmica!”, conclui a atriz.
IV Mostra de Teatro Sesc
A Vida Dele
27/09, 20h
Teatro do Sesc