A primeira sessão do TEDGlobal, no fim da manhã de hoje (7), no Rio de Janeiro, reuniu numerosas histórias da América Latina. Entre os palestrantes, cinco eram latinos, incluindo o cacique brasileiro Tashka Yawanawá, do Acre, Eles abordaram suas experiências nos campos social, histórico e ambiental.
Com palestras rápidas, máximo de 18 minutos, o evento ocorre em sessões diárias até sexta-feira (10). Diante de uma plateia de diversas partes do mundo, o cacique contou a luta por reconhecimento e pela sobreviência da tribo, com aproximadamente 800 pessoas. "Tive de aprender a cultura e a língua dos brancos para defender nossos direitos", disse, manifestando preocupação com a possibilidade de as demarcações indígenas passarem a ser aprovadas pelo Congresso.
Yawanawá lembrou o genocídio dos povos indígenas, mas destacou que a luta por sobreviência não está somente no passado. "O Brasil é um país grande, mas só 1% da população é indígena. Quase desaparecemos, mas ainda estamos vivos. Não estamos apenas no passado ou na história. Os povos indígenas são parte do país, mas ainda lutamos por direitos".
A primeira palestra da manhã foi da escritora peruana Marie Ariana, biógrafa de Simón Bolívar, líder da independência de países latino-americanos. Além de vitórias e derrotas em lutas contra os espanhóis, Marie descreveu a personalidade e a vida pessoal do venezuelano, marcada por tragédias, entre elas as perdas da mãe, mulher, do pai e irmão. "Era um homem pequeno e de mãos delicadas, como as de uma mulher, mas as pessoas sentiam seu poder", salientou. Ela apontou Bolívar como um homem cheio de controvérsias e que até hoje está presente na política do Continente, lembrado tanto por governos de esquerda quanto de direita.
O colombiano Jose Miguel Sokoloff foi o mais rápido e mais aplaudido dos palestrantes. Em15 minutos, explicou as estratégias de marketing e publicidade utilizadas para convencer combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a deixarem seu grupo voltar para casa. Convocado pelo governo colombiano, Sokoloff ouviu histórias de guerrilheiros e chegou à conclusão de que o Natal era a época em que as pessoas desistiam dos combates. "Mostramos que os jovens recrutados e os sequestrados são igualmente vítimas do comando das Farc", ressaltou
"Pensamos, por exemplo, em ações para sensibilizar os combatentes. Começamos a conversar com seres humanos e não com soldados", observou Jose Miguel, lembrando ter conseguido persuadir mais de 300 pessoas. Segundo ele, além de uma rádio transmitindo histórias de ex-guerrilheiros, planejaram outra ação vinculada à Copa do Mundo, a fim de seduzir mais combatentes. "A intenção era a união deles à torcida", disse Sokoloff.
Mais novo entre os palestrantes, o geocientista Andrés Ruzo compartilhou resultados iniciais de sua pesquisa sobre um rio que ferve na Amazônia peruana, mesmo distante 700 quilômetros do vulcão mais próximo. Andrés sempre ouviu falar do rio como uma lenda. Descobriu que, além de real, ele já fazia parte da cultura de populações ribeirinhas, que usavam as águas como remédio e para cozinhar. "O mundo é enorme e está cheio de coisas para explorar. Saia e descubra", alertou o cientista. Ele foi aplaudido de pé ao pedir consciência na preservação daquele espaço, que classificou como "magnífico" e "geologicamente único".
Apesar de fechado, o projeto distribuiu salas de exibição em várias partes da cidade. Na Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio, apenas o professor de inglês Paul Joseph Park, 33 anos, conferiu as palestras transmitidas ao vivo. "Gosto muito do TED, que nos mostra ideias inspiradoras, iluminadas. As palestras podem ser interessantes e nos fazer pensar coisas novas". Paul nasceu nos Estados Unidos, mas vive no Rio há dois anos. Além da biblioteca, escolas estaduais, universidades, naves do conhecimento e museus também farão exibições ao vivo do evento.