Mistério da escrita

Juremir Machado da Silva, Patrono da 28ª Feira do Livro de Passo Fundo, alia jornalismo, história e literatura na busca incessante de encontrar as palavras certas

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Jornalista, historiador e professor. Com mais de 20 livros publicados, 19 anos em sala de aula e quase 30 no jornalismo, Juremir Machado da Silva, Patrono da 28ª Feira do Livro de Passo Fundo, tem bagagem. Entre histórias romanceadas e relatos históricos, busca encontrar a fórmula certa, embora acredite que ela não exista. Juremir chegou a Passo Fundo no fim da tarde de ontem, participou da abertura da Feira do Livro e, na noite de hoje, conversa com o público sobre o último livro lançado 1964 Golpe Midiático-Civil-Militar e sobre o se processo de criação. 

O convite para acompanhar esta edição a Feira chegou junto com a felicidade de estar presente, mais uma vez, na Capital Nacional da Literatura. “Eu fiquei muito feliz. É um reconhecimento. Passo Fundo é muito importante e tem uma tradição forte no cenário da literatura. É uma referência no Brasil em função das Jornadas. Então o convite me tocou muito. Fiquei honrado. Sempre é bom ser convidado a ser Patrono de uma Feira do Livro, mas em Passo Fundo é ainda mais especial. Recebo o convite como uma homenagem”, agradece.

“Não existe fórmula”
A responsabilidade, agora, é encontrar a melhor forma de se relacionar com um público tão diverso quanto a 28ª Feira do Livro pretende abrigar. Com o tema “A leitura entre as gerações”, a proposta é que o palco seja ocupado não somente pelas crianças trazidas pelas escolas, mas pelos adolescentes cada vez mais sedentos de ficção, pelos adultos em busca de clássicos e por idosos que colecionam leituras. E para cada uma dessas fases, a abordagem deve ser diferente.

Juremir Machado acredita que existe um tipo de leitura para cada idade. “Ninguém discute a importância da obra de Machado de Assis, mas um adolescente de 15 anos não vai ler. Aos 50 anos eu entendo a obra de Machado de Assis. Um adolescente não tem como entender. É preciso aceitar que a literatura é algo muito maior. O leitor é um mistério e fazer um livro é um mistério”, sentencia. Ele completa: “Há um mistério quando escrevemos:  não sabemos se vai dar certo, se vai cativar. Nunca ninguém tem garantia. Não existe fórmula. Conseguir incentivar a leitura é um mistério. O que funciona com um, não funciona com outro”.

Sobre sensibilizar a juventude
O cenário da literatura atual, para o Patrono, consegue contemplar as diferentes propostas exigidas pelos leitores. Quando o assunto é a literatura juvenil, tão difícil de agradar, Juremir acredita no mercado nacional. “Eu noto em feiras de livro de escolas que as crianças até dez doze anos gostam muito de livros. A grande passagem complexa é a adolescência. Ali é que há o desinteresse ou outros interesses mais pulsantes aparecem. Mas existem nomes no Brasil que parecem ter grande capacidade de sensibilizar adolescentes”, comenta. A experiência com os alunos nas salas da Faculdade de Jornalismo garante uma relação que possibilita o patrono conhecer o universo da juventude. “Ao contrário de muitos jornalistas, eu acredito que os jovens são muito inteligentes e com muita informação”, acredita.

Jornalismo, história e literatura
Formado em história e jornalismo, Juremir usou da paixão pela literatura como uma forma de unir as duas formações. “Em determinado momento comecei a escrever livros que cruzavam história, jornalismo e literatura ou romances com um material histórico”, conta. Pouco a pouco, os relatos históricos ganharam mais força e as últimas produções do jornalista seguem, de fato, um caráter voltado para a realidade contada. “Finalmente fui cedendo ao meu lado historiador. E é a força da minha paixão pela história que foi se impondo”, explica. Ainda assim, não é um resultado conclusivo já que para o patrono o mistério da escrita é contínuo e exige uma luta pela qualidade. “Eu acho uma luta nobre. Tem que se fazer. Tem que se trabalhar. É uma luta no escuro, mas é uma luta apaixonada”, conclui.

O quê o Juremir lê:
“Na minha adolescência me marcou profundamente “A educação sentimental”, de Gustave Flaubert. Foi um livro que me marcou muito. Mais recentemente, um livro que me chamou atenção e que estou relendo pela quarta vez  é “Os Últimos Anos da Escravatura no Brasil”, de Robert Conrad. É um livro que me impressiona.”

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