No entardecer de sábado, pouco a pouco a Feira do Livro foi se preparando para receber o patrono desta edição. Em um bate-papo descontraído, Juremir Machado fez os passo-fundenses mergulharem na história do Brasil e do estado para compreender parte do que acontece na sociedade atualmente. Também falou das suas histórias, das suas vivências e das experiências em sala de aula e em redações de jornais.
O tema da Feira do Livro, que foca a leitura entre as gerações, nunca foi tão bem desenhado: sentados lado a lado, adolescentes que acompanham as colunas de Juremir, historiadores inspirados pelos seus livros, jovens jornalistas, apreciadores da literatura e do passado não encontraram barreiras para ouvir o patrono. A fala de Juremir é universal. É, também, atual, crítica e provocante. Olhares atentos, expressões concentradas e mentes inquietas: esse foi o cenário da fala do patrono.
Questionador, Juremir iniciou trazendo as eleições de 2014 e a contradição do país – que ora quer uma reforma política e ora não quer tanto assim – como algo que faz parte da cultura do Brasil. Se voltando para a história, o Patrono trouxe a história da escravidão à tona para ilustrar questões que, ainda hoje, fazem parte da nossa sociedade como as leis que não são aplicadas, a política de interesses e necessidade de uma sociedade capaz de aceitar a diferença.
Juremir questionou a incapacidade de seguir leis – especialmente as pequenas, como colocar o cinto de segurança ou não ultrapassar o sinal vermelho – que, consequentemente, se refletem em uma proporção maior no sistema político brasileiro. “Cobramos o cumprimento da lei, mas ao mesmo tempo não queremos cumpri-la. A lei é boa para os outros. Nós precisamos de um grande choque de mentalidade. Queremos uma reforma politica ou não queremos? Se queremos devemos sair as ruas. Esperar que os nossos deputados façam.. eles nunca vão fazer! Não é o interesse deles”, enfatizou.
Juremir criticou, também, o fato de que não há prosseguimento nos protestos ou na insatisfação “A gente reclama, reclama, mas daqui a pouco vamos esquecer. Essa eleição foi mais interessante que a Copa do Mundo, mas terminou. E quando termina passamos para o próximo capítulo, exatamente como as novelas”, criticou. “O que é melhor para democracia? É isso que temos que discutir. A campanha eleitoral deveria ser uma oportunidade de falar sobre as regras e as normas e até sobre a reforma política”, opinou.
Além disso, Juremir trouxe questões como racismo e homofobia como inadmissíveis numa sociedade que luta por democracia e lembrou do caso envolvendo os torcedores do Grêmio para exemplificar. “Está na hora de se livrar disso. Está na hora de vivermos em uma sociedade aberta e com respeito a diversidade. Nesse episódio, o fato de ser Grêmio ou Inter era mais importante do que o racismo. Chega disso. Vamos falar de coisa séria. Falar realmente de uma mudança de imaginário. De algo mais profundo para fazer uma sociedade melhor como essa que num sábado a noite está aqui numa feira do livro batendo um papo sobre história, literatura, política e jornalismo”, concluiu.
Programação
A Feira do Livro segue com a programação até o dia 9 e o Segundo Caderno está fazendo a cobertura do evento. Amanhã, dia 3, às 9h30 e 14h30 acontece o bate-papo “A literatura e a magia da arte de contar histórias” com Gilda Petersen de Oliveira. Mais tarde, às 15h30 o palco recebe a apresentação teatral Meia, Meia Lua, 1, 2, 3, do Projeto Educar Cultura nas Estradas. Às 18h, “A visão através das gerações”, com Ivan Sciessere, às 19h30, Sarau Literário a Academia Passo-Fundense de Letras e, por fim, às 20h30 show musical com Quarteto Morada – Sertanejo. Acesse a programação completa aqui.