Quando criança, Pablo Morenno pensou, inspirado no livro que leu em sala de aula, ser um menino de asas. Pensou poder voar. Não podia. Pulou do telhado de casa, caiu no esterco do porco, foi para a escola e lá teve uma lição que não esqueceu. As asas, disse a professora, não existem. O que te permite voar, continuou ela, é a imaginação que tem e os sonhos que carrega. “Quero ser escritor!”, ele disse. Colocou força na imaginação, foco nos sonhos e viu na escrita a possibilidade de voar - não do telhado, mas na vida. Pablo voou. Há mais de dez anos escreve e encanta crianças e adolescentes com histórias que possibilitam pensar. Na tarde de terça-feira usou da música, da própria vida e das salas de aula para falar de literatura, sonhos e imaginação.
Quase um passarinho
A história de Pablo não ficou apenas na voz e ganhou as páginas de um novo livro, Quase Um Passarinho. Editado pela Prefeitura de Soledade, dentro do Projeto Garimpando Escritores, Lapidando Leitores que promovo a edição anual de livros. “Eu sempre contava essa história, mas nunca tinha escrito. E a uso como metáfora do poder da imaginação e da leitura. O que um livro provoca na gente?”, questionou o autor. “Provoca mudança, transforma a cabeça da gente e a forma como a gente vê o mundo. A leitura de um livro provoca a imaginação da gente”, enfatiza.
Quase Um Passarinho está disponível na Feira do Livro, mas será lançado oficialmente no início de dezembro. Enquanto isso, Pablo segue imaginando e convidando outros para caminharem com ele. O importante, para o autor, é alimentar histórias.
“Somos seduzidos por histórias”
Histórias, essas, que são o foco da busca de todo o ser, independente da idade. Quem visita a Feira do Livro busca uma história. Quem compra um livro, busca uma história. Quem para para ouvir alguém, busca uma história. Concordando com esse pensamento, Pablo busca a melhor maneira de entregar histórias para o público. “O ser humano é seduzido por histórias. A gente procura histórias”, inicia.
Na era da tecnologia, há competição da fala de quem está no palco contra a história a ser contada no visor de um celular. Ainda assim, para Pablo, o suporte pouco importa quando uma história é capaz de seduzir. “Mesmo no celular ou no tablet o que essas crianças procuram? Histórias. As pessoas assistem séries e procuram outras alternativas, porque querem histórias. Todo o ser, desde a criança até o idoso, é seduzido pelas histórias. A história dá unidade à vida da gente e cria uma lógica. Quando contamos histórias, o suporte não interessa”, explica. O desafio fica por conta do escritor: “O que eu, como comunicador, tenho que mostrar que é que a história que estou contando é mais interessante que as histórias que vão achar no celular”. Pablo chama a responsabilidade para dentro da sala de aula: “O desafio do educador, do professor e do escritor é mostrar que a história que ele tem pra contar é mais importante que a dos meios eletrônicos”, comenta.
Tecendo o mundo
As histórias de Pablo ganham as prateleiras das bilbiotecas, os palcos e a atenção de quem as lê ou de quem as vê encenadas. É o caso do livro “Minha avó tecia o mundo”, lançado esse ano. Depois das páginas, as histórias ganharam o palco através de uma encenação realizada pela Cia Arte & Palco e que será apresentada no palco da Feira do Livro no domingo, às 16h. “É uma parceria. É interessante porque vejo meu livro em outro suporte. Para mim, como escritor, é um momento de ser reconhecido. Me parece que é um sinal que meu texto diz alguma coisa para as pessoas”, agradece.
Pablo é objetivo e enfático, ao mesmo tempo que consegue atingir a subjetividade de cada criança. Parece que a imaginação, aquela que o motivou a pular de um telhado, não o deixou de lado. Pelo contrário: mudou sua vida e possibilita que, agora, o autor mude a vida de outros tantos pequenos.