Das páginas para as telas

A Feira do Livro se despede: depois de uma semana de intensas atividades, final de semana de encerramento traz leitores e professores em uma discussão sobre a obra de George R. R. Martin

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O intenso calor que tornou-se um companheiro constante das últimas duas edições decidiu não ser tão presente assim e, em 2014, deu lugar às chuvas, ventos fortes e temporais. Ainda assim, a instabilidade não foi um problema para que os leitores visitassem a Feira e participassem da programação. Na sexta-feira, o palco foi ocupado por apresentações artísticas das escolas e, também, pelo projeto Musicografia Braile, da UPF. Mas ainda não é tudo: o final de semana que encerra a Feira traz, ainda, espetáculos teatrais e um bate-papo sobre a obra de George R. R. Martin que das páginas, foi adaptada para a televisão e conquista, a cada episódio, uma legião de fãs.

Musicografia Braile
A 28ª Feira do Livro teve, até o momento, a característica de oferecer suporte e apoio a todas as pessoas que demonstravam o desejo de participar do evento. Abriu portas e palco: na tarde de sexta-feira, alunos do projeto Musicografia Braile apresentaram os resultados de intensos estudos. Há 13 anos a frente do projeto, Neri Ribeiro é professor da UPF e coordena cerca de 30 alunos divididos em dois grupos, um em Passo Fundo e outro em Carazinho. “Um dos objetivos é a inclusão social do músico cego. Através desse projeto, o aluno tem condições de frequentar algum curso ou superior ou livre de música. É um projeto social e comunitário. É a união do sistema braile e da música”, comenta. Cada aluno tem uma aula individual por semana e o grupo se encontra também semanalmente para ensaiar as apresentações. “Pelo que eu percebi, em treze anos e meio de projeto, é que o Musicografia Braile colabora na carreira musical e na inclusão. Isso é uma gratificação”, explica.

Entre as páginas e as cenas
No entardecer desse sábado, a ficção ganha a Feira do Livro. A obra de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, são o foco de um bate-papo entre os leitores Matheus Colombo, Eduardo Leon de Camargo e Danton Roessler e os professores da UPF Fábio Rockenbach e Vinicius Rauber. Nascidas nas páginas, as histórias dos sete reinos criados por Martin se esvaziaram das prateleiras rapidamente e ganharam uma adaptação para a televisão: Game Of Thrones, exibida pela HBO, estreou em 2011 e conquistou os telespectadores – seja pelo universo ficcional, pela narrativa adotada ou pela profundidade das histórias.

A intenção do bate-papo é, inicialmente, reunir os fãs dos livros e da série para uma análise geral da obra – até o 3º livro. Os três leitores, Matheus, Eduardo e Danton, se conheceram e compartilham discussões sobre a qualidade da leitura e daquilo que é exibido na TV. “Eu consigo separar bem os dois (série e Livro), fiquei boquiaberto com a genialidade do autor até o 3° livro, a complexidade da historia, o aprofundamento dos personagens... Tudo era de longe a demonstração da grande inteligência do autor”, comenta Matheus que ganhou os livros assim que a série foi lançada e escolheu a leitura antes de assistir a primeira temporada.

Para Fábio que, além de professor é coordenador do Núcleo de Estudos em Cinema, a série se assemelha muito à linguagem audiovisual e isso se dá porque as fronteiras entre séries de TV e cinema, em termos audiovisuais, são cada vez menores. “Mas as séries de TV têm uma particularidade toda especial em relação à narrativa, e algumas características de séries como Game Of Thrones têm se modificado nos últimos anos”, explica. A adaptação de uma obra literária para a TV exige, no entanto, algumas escolhas. “Vou enfocar nessas diferenças entre séries e cinema, e na questão da adaptação mesmo, da ausência de um motor protagonista, o tratamento do tempo e do espaço, tipos de tramas”, adianta. O bate-papo acontece às 18h.

A avó que tecia o mundo
Nas páginas, a história de uma avó se confunde entre versos e bordados. Além das palavras, as páginas do livro carregam ilustrações. Ilustrações essas que habitam o outro lado. No meio, entre um lado e outro, a interpretação, o teatro. Teatro esse que ganha o palco da Feira do Livro na tarde de domingo. Escrito por Pablo Morenno, Minha Avó Tecia o Mundo é um livro diferente que carrega, além do texto, ilustrações que remetem ao aconchego do abraço de uma avó. A história narrada, ganhou as prateleiras das bibliotecas, os palcos e a atenção de quem as lê ou de quem as vê encenadas. Adaptada para o teatro pela Cia Arte & Palco, a essência do livro será apresentada no palco da Feira do Livro no domingo, às 16h.

Um bilhete premiado
Antes de o palco ser desmontado, o grupo Timbre de Galo marca presença no evento e apresenta ao público da cidade a peça montada em 2012 e que levou o grupo, que é presença tradicional nas ruas, para o palco. O Bilhete, peça interpretada por Mara Cavalheiro e Edimar Rezende, traz a história de Pedro Paulo e Rosiméri, um casal comum que soma sete anos de casados em uma rotina incansável entre a convivência e o trabalho. No entanto, algo de novo sempre pode acontecer, mesmo para quem não tem expectativas para a mudança. A sorte pode sorrir e, quem sabe, virar do avesso a vida dos dois. Quem sabe, pelo destino, um bilhete de loteria caia nas mãos de Rosiméri?

Um simples devaneio, um voo da imaginação. O casal percebe aos poucos que tudo está amarrado por um laço que, por milagre, continua ali. Tudo poderia mudar se o tal bilhete fosse premiado e trouxesse consigo a promessa de uma vida nova. Inspirada no conto O Bilhete Premiado, de Anton Tchekhov, a peça nasceu, cresceu, teve sucesso em dois anos de apresentações e será apresentada, no encerramento da Feira do Livro, às 19h30 do domingo.

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