Amy Dunne desaparece no dia do seu aniversário de casamento. Suicídio, fuga ou homicídio? As dúvidas invadem a cabeça do marido, Nick, que passa a agir de forma descontrolada: apelando para a mentira, se torna o principal suspeito de um desaparecimento que passa a ser tratado como crime. Com o apoio da irmã gêmea, Margô, Nick tenta provar a sua inocência, ao mesmo tempo, em que procura descobrir o que aconteceu com Amy.
Garota Exemplar, escrito por Gillian Flynn, nasceu nas páginas de um livro que ganhou as prateleiras das livrarias no último ano. O suspense envolvente da narrativa de Flynn atraiu David Fincher que deu vida - – ao lado de Flynn que elaborou, também, o roteiro - a adaptação que chegou aos cinemas essa semana e que já se garante como um dos filmes do ano. Apesar de comentários de que as modificações do longa se distanciariam da resenha do livro, Garota Exemplar segue a mesma história na tela e nas páginas; o que muda é a intensidade das relações exploradas. Ponto para o filme.
A narrativa é tão envolvente quanto os atores. A insistência de Fincher em ter Rosamund Pike como a protagonista é justificada: a atriz tem uma beleza intensa, um olhar frio e uma figura misteriosa que fazem jus a descrição de Amy no livro e conduzem, de forma perfeita, o expectador ao encontro de uma anti-heroína trágica – típica escolha do diretor. Ben Affleck não fica atrás: a expressão séria e o estilo do ator parecem ter caído como uma luva para Nick, um marido que não sabe ao certo como agir ao tentar provar uma inocência duvidada. Quando juntos, Rosamund e Affleck são o retrato da contradição e, ao mesmo tempo, um encaixe perfeito. Ponto, mais uma vez, para o filme que parece transferir o sentimento causado pelas páginas para cada nova cena.
Forçados a se mudar para uma cidade do interior, o casal larga a vida agitada de Nova York para viver ao lado da mãe de Nick que já está em estágio avançado de câncer. E é em meio a calmaria que um casamento perfeito começa a desandar e resulta no desaparecimento de Amy. Ainda que desaparecida, Amy parece ressurgir na vida de Nick através de cartas, diários e depoimentos que fazem dele alguém realmente capaz de um assassinato. Ao mesmo tempo em que novas evidências aparecem, o expectador parece entender o que aconteceu, de fato. Apenas parece. A forma como a história se desenvolve, apoiada em flashbacks e sequências que não se sabe se são fruto de imaginação ou a realidade, garante a evolução da história, mesmo quando no passado. Nada, em cena, é por acaso.
Para quem leu o livro e passou por todas as reviravoltas da história de Flynn o filme, talvez, perca um pouco do suspense. Ainda assim, é surpreendente ao retratar relações que vão além de um casamento e passam, também, por amizades forçadas e uma família construída. Surpreende, também, na crítica a imprensa que, capaz de manipular a opinião pública, manipula, também, a inocência. A sinopse, por si só, já garante um bom filme. Contado pela visão de David Fincher, Garota Exemplar se torna uma obra digna de indicações a grandes prêmios do cinema.