Revolução. Essa é a palavra que norteia toda a trilogia de Jogos Vorazes. Ainda que nos dois primeiros filmes – e livros -, a história tenha sido desenhada aos poucos, a revolução sempre esteve presente. Jogos Vorazes e Em Chamas parecem ter desenhado um caminho para que A Esperança pudesse lançar no expectador tudo aquilo que não tiveram tempo de mostrar. Emoção. Essa é a palavra que conduz a história e que dá vida a um roteiro que habita as páginas de Suzanne Collins. Dividido em duas partes, A Esperança completa a trilogia: a parte 1 teve sua pré-estreia ontem e, hoje, está em cartaz nos cinemas do Bella Città e do Bourbon – dublado e legendado, respectivamente. A conclusão de toda a saga chega aos cinemas em 2015.
Desde o primeiro minuto do primeiro longa, ainda em 2012, Jogos Vorazes demonstrou que ia além dos clichês adolescentes e dos blockbusters atuais. Ao mesmo tempo em que ofereceu uma alternativa aos fãs órfãos de Harry Potter e Twilight, a trilogia deu o pontapé inicial nas distopias que, mais tarde, dominaram o cinema. O que diferencia Jogos Vorazes de qualquer outro filme pensado especialmente para o público adolescente é o cérebro por trás da saga: a história de uma jovem obrigada a enfrentar um torneio – que é, na verdade, um reality show - de vida ou morte traz entretenimento, mas, acima disso, traz a crítica – de forma clara, mas sutil – a um sistema midiático manipulador, ao consumismo exagerado e às relações cada vez mais frágeis.
Além disso, a trilogia abandonou a princesa e abraçou a heroína capaz de cuidar de si mesma e liderar uma revolução: Katniss Everdeen, personagem central da história, é uma das primeiras personagens a se colocarem como protagonistas de uma situação e é exatamente isso que conquista audiência. Interpretada por Jennifer Lawrence, Katniss é construída, nos primeiros filmes, como o símbolo de uma revolução – ainda que de forma controversa. Em A Esperança – parte 1, ela assume a responsabilidade e se torna a própria síntese da palavra.
Se os fãs esperavam, ansiosos, por uma Katniss totalmente revolucionária e capaz de abraçar toda uma sociedade que deposita suas esperanças em seu arco e flecha, esse é o momento. A primeira parte do fim da trilogia pode deixar de lado a ação – seguindo a divisão proposta no livro -, mas se apoia totalmente na emoção de uma adolescente que, devastada por uma guerra que não concorda, é motivada a enfrentar um governo corrupto, intolerável e assassino.
A história, dessa vez, começa logo após Katniss ser resgatada do Massacre Quaternário pela resistência ao governo tirânico do presidente Snow - interpretado por Donald Sutherland. Abalada, temerosa e sem confiança, ela agora vive no Distrito 13 ao lado da mãe - Paula Malcomson - e da irmã Prim - Willow Shields. A presidente Alma Coin - Julianne Moore - e Plutarch Heavensbee - Philip Seymour Hoffman, que será recriado digitalmente para cenas da segunda parte de A Esperança - querem que Katniss assuma o papel do tordo, o símbolo que a resistência precisa para mobilizar a população.
Ainda que com relutância, Katniss aceita a proposta com uma condição: a resistência precisa se comprometer a resgatar Peeta Mellark - Josh Hutcherson - e os demais Vitoriosos, mantidos prisioneiros pela Capital. A crítica, agora, gira em torno da propaganda e acaba respingando no conceito de ideal democrático. Se comparado aos dois primeiros filmes, esse terceiro é diferente: primeiro porque não há o jogo que garante a ação do longa e segundo porque segue um tom mais pausado e emotivo. A prioridade, aqui, é contemplar o psicológico de quem vive em uma sociedade completamente destruída e é na figura de uma Katniss que precisa redescobrir a liderança a qual é chamada que o longa concentra seu foco.
O tom cinza do filme, o caráter contraditório dos personagens, e o julgamento afetado da sociedade é capaz de fazer de A Esperança – parte 1 um longa que foge do conceito de bem e mal mas, pelo contrário, os aproxima e os torna semelhantes. Dirigido por Francis Lawrence, Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 é mais um passo no caminho da saga e se torna impactante não pela ação, característica dos outros filmes, mas pelos questionamentos capazes de transformar pensamentos.
Assista o trailer: