Pedro Paulo e Rosiméri são um casal comum. Somam sete anos de casados em uma rotina incansável entre a convivência e o trabalho. Porém, algo de novo sempre pode acontecer, mesmo para quem não tem expectativas para a mudança. A sorte pode sorrir e, quem sabe, virar do avesso a vida dos dois. Quem sabe, pelo destino, um bilhete de loteria caia nas mãos de Rosiméri?
Um simples devaneio, um voo da imaginação: “E se fôssemos ricos?” A vida que parecia estável e segura – originada de 10 anos de uma relação – de repente parece absurda. O casal percebe aos poucos que tudo está amarrado por um laço que, por milagre, continua ali. Tudo poderia mudar se o tal bilhete fosse premiado e trouxesse consigo a promessa de uma vida nova.
Inpiração que gera aplauso
Inspirada no conto O Bilhete Premiado, de Anton Tchekhov, a peça do grupo Timbre de Galo – O Bilhete – nasceu, cresceu e teve sucesso com uma nova proposta. Da rua, o grupo foi para o palco e, agora, completa dois anos de apresentações que receberam os aplausos de uma plateia que riu do início ao fim. “Entrando na sala de ensaio, naquele fim de ano de 2012, pela primeira vez com dois atores que eu acabara de conhecer me vi diante de dois enigmas”, lembra Guedes Betho, diretor do espetáculo. “Ensaiamos uma média de dez horas por dia. Íamos ao extremo e aos poucos nos permitíamos conhecer uns aos outros. A dupla de atores me impressionava por sua disponibilidade e todas as minhas provocações eram respondidas. Aquela temporada de ensaios fez de mim um diretor mais observador, onde cada detalhe de um movimento feito pelo Edimar e qualquer intenção dada por um texto da Mara me enchiam de inspiração”, avalia.
Eles são nós
“Isso não é teatro, é a vida real”, grita, em uma das cenas, uma Rosiméri apavorada com a vida que lhe foi apresentada. A decepção que se faz presente a partir dos devaneios do casal toma o palco e contagia a plateia que vê, em cena, um reflexo do seu cotidiano. Apesar de trágica, a peça não é triste, mas pelo contrário: a realidade fica tão estampada que o riso é inevitável. Não há como fugir: O Bilhete é o retrato fiel não só de casais que há 10 anos mantém uma relação, mas também daqueles que nem tem uma relação. E se você não é Rosiméri, você é Pedro Paulo. Ou os dois – um pouco de cada.
Entre o palco e a rua
E é por isso que o sucesso da peça é inegável. Ao retratar a realidade, tanto casal quanto plateia se entregam. “O espetáculo fala do amor ao próximo. É muito mais que a questão de ficar rico ou não. É a busca pelo verdadeiro e genuíno amor. Rosimeri e Pedro Paulo estão em busca de sim mesmo”, completa o diretor. Dois anos depois, a maturidade do espetáculo garante novas possibilidades para a peça. “Esse foi o primeiro espetáculo do Grupo Timbre de Galo concebido para o palco, mas nossas raízes da rua acabou levando esse espetáculo para ser apresentado em espaços abertos. E isso só é possível devido a larga experiência do Timbre de Galo. Hoje nossos espetáculos são apresentados em qualquer espeço, por que o trabalho está focado na atuação, o trabalho do ator é quem possibilita transitar da rua para o palco e consequentemente para outros espaços”, complementa Edimar Rezente, ator e pesquisador do grupo. E todo o empenho para conquistar a melhor forma para a peça, gera resultado no público. “A plateia é sempre receptiva e acolhe bem o espetáculo, pois fala não apenas da relação de um casal, mas sim da relação humana”, conclui o ator.
Comemorando no palco
Além do roteiro, escrito por Leandro Scalabrini e dirigido por Guedes Betho, a peça é estruturada em cima do próprio cenário e na forma como este se constrói com a peça – desde o figurino até os objetos que caracterizam o devaneio e a realidade. O Bilhete não é uma superprodução, mas faz o sucesso de uma. No fim das contas, Rosiméri e Pedro Paulo não ficaram ricos, mas a peça é, sim, um grande bilhete premiado do grupo Timbre de Galo. E, para comemorar, nada melhor que o palco: Neste domingo, 30 de novembro, o grupo se apresenta no Teatro do Sesc, às 21h. Os ingressos estão disponíveis no local.