Simplicidade de um monólogo

Simples e minimalista, Os Bons Serviços, do Teatro Depois da Chuva, será apresentado nesta quarta-feira, em Passo Fundo

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Simples do início ao fim, Os Bons Serviços é o retrato de uma empregada, de vida modesta, contratada para cuidar dos cães de estimação dos participantes de uma grande festa dada na principal mansão do bairro. A partir do encontro inusitado com um dos ‘grã-finos’ na festa, Francinet, a empregada, se vê envolvida em uma trama surreal e misteriosa. O espetáculo é uma produção do Teatro Depois da Chuva e será apresentado nesta quarta-feira, às 20h, no Teatro do Sesc.

A peça nasceu do encontro da atriz Betinha Mânica, do Teatro Depois da Chuva, de Passo Fundo, com o diretor Jefferson Bittencourt de Florianópolis. Juntos, deram origem a um espetáculo que é capaz de emocionar e inspirar. O impulso essencial da peça vem do escritor argentino Julio Cortazar. Os resultados são significativos. Em 2012, por exemplo, o espetáculo foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.

A parceria deu certo. Os Bons Serviços já roda palcos pelo Brasil há mais de dois ano, mas, mesmo para quem já viu, a cada novo encontro, novas experiências. No palco, apenas um banquinho. O que muda, entre uma cena e outra, é o figurino e a intensidade da interpretação de Betinha Mânica, que dá voz a Francinet. Para ela, um desafio. “[O espetáculo] é calcado, essencialmente, no trabalho do ator. É um desafio fazer solo porque não há a força e a energia dos colegas. Num espetáculo com mais atores, mesmo quando a gente erra, há uma energia dos colegas. Em Os Bons Serviços há uma troca somente com o público. Eu sinto o público e preciso dosar o que sinto”, explica a atriz.

De fato, o espetáculo é desafiador – para quem faz e para quem assiste. É intimista. Para Betinha, o espetáculo é a prova de um amadurecimento. “Há, nesse espetáculo, algumas nuances que representam a maturidade do meu trabalho. É desafiador, de fato”, completa. Além da atuação, ela é responsável pelo figurino, adereços e produção. O resultado do trabalho é, em palco, a história de sensibilidade e observação que Francinet apresenta a cada fala. É, sim, um monólogo, mas o diálogo com a plateia se dá na medida em que toda a confissão da personagem tem como foco cada indivíduo do teatro. Não entendendo a situação em que se encontra (sozinha, numa casa de ricos, cercada por cães) ela acaba questionando o próprio público.

Um dos diferenciais do espetáculo é a fuga do real: segundo Betinha, não há a intenção de se trabalhar com cães ‘reais’ ou mesmo um grande cenário que possa representar a casa. Tudo, em cena, é fruto da sugestão e da imaginação. Entre falas, gestos e música, público e atriz embarcam, juntos, em um estranho caminho dramático que, ao se transcorrer, questiona, convida, instiga. Não há como pensar ou tentar entender o que se passa em cena, é preciso entregar-se. O trabalho de interpretação da atriz procura levar o público à dúvidas com o intuito de gerar um misto de compaixão e estranheza com a personagem, à medida que a história avança. Funciona.

O espetáculo acontece hoje, quarta-feira, 3, às 20h. Os ingressos serão vendidos no local, a partir das 18h30 e estão sendo comercializados por R$ 20 – inteira – e R$ 10 para idosos e estudantes. Comerciários portando RG podem garantir ingresso antecipado no SESC, pelo valor de R$ 5,00.

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