Flexibilidade é o seu nome. Poderia ser controverso e cheio de contradições, mas preferiu a flexibilidade de viajar entre um mundo e outro. Machado de Assis foi capaz de, através da escrita, falar de um mundo fantasioso e, também, da realidade da vida e morte do modo mais cru e desvelado possível. Cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, Machado nasceu no Rio de Janeiro, em 1839, para se tornar um dos maiores escritores do país. Inspiração para o Núcleo Rindo à Toa, o universo de Machado de Assis é o cenário para o novo espetáculo do grupo: O Bruxo, com texto e direção de Edson Bueno e produção de Elisandra Assunção, traz a atuação de Marcio Meneghell em um retrato de sensações e percepções que dão início às comemorações dos 20 anos de carreira do ator.
Mergulhando em Machado
O espetáculo surgiu em meio a conversas sobre autores relevantes e singulares literatura brasileira. Marcio Meneghell sobe ao palco vivendo o próprio Machado de Assis que, depois de morto, volta para contar para a plateia seus contos, pensamentos e ideias. Em cena, a interpretação persegue o humor cáustico, a inteligência, sagacidade e talento do maior romancista do país. Para o dramaturgo, Edson Bueno, escrever e dirigir um espetáculo inspirado na obra de Machado de Assis é ao mesmo tempo um desafio e um presente. “Sua prosa é de uma complexidade e de uma sofisticação enormes. Ler Machado de Assis, com certeza, não é a mesma coisa que ouvir Machado de Assis. Machado e seu pessimismo poético e irônico é, por outro lado, um ponto de partida excepcional. Ele nos dá todos os elementos para uma bela dramaturgia teatral e, principalmente, material para um exercício de interpretação complexo e original”, revela.
Com uma obra que é capaz de se manter contemporânea, apesar de sua origem, Machado de Assis tinha um olhar característico, único e próprio de ver a realidade ao seu redor. Ora usando da subjetividade, ora abusando da objetividade, foi capaz de transformar a literatura brasileira em um retrato puro de um cotidiano que difere dos contos de fadas. “O personagem machadiano é sempre uma espécie de Don Quixote batalhando com ele mesmo. Machado de Assis é gênio, cruel, engraçado, irônico, profundo, impiedoso e também apaixonado. Apaixonado, principalmente, pelas palavras. As palavras em sua prosa são tintas, notas musicais, pedras de escultura e temperos perfeitos para alimentos da alma e da literatura”, complementa o dramaturgo.
Um desafio para Marcio
Para Marcio, O Bruxo é um novo passo na carreira. O ator Passo-Erechinense - ele assim se intitula por ser natural de Erechim e adotado por Passo Fundo -, conhecido por seus shows de humor e por fazer parte do elenco do Zorra Total entre 2012 e 2013, comenta a felicidade de encarar um novo trabalho: “Machado de Assis cai como uma luva para mais esse degrau que me é assustadoramente delicioso, um dos maiores escritores brasileiros com uma visão única sobre a vida e a morte de uma forma irônica, divertida, poética e por que não dizer, docemente cruel”, reforça. A busca por tentar absorver o personagem e a densidade da obra de Machado, exigiu de Marcio dedicação, tempo e esforço. “A proposta dessa peça e levar o público a uma reflexão dos reais valores que nos cercam cotidianamente, retratado muitas vezes por metáforas. Foram noites e mais noites em claro, tentando absorver e entender esse universo Machadiano de uma linguagem que, por vezes, não encontramos em nenhum dicionário e, mesmo assim, é de uma contemporaneidade singular. O coração parece que vai explodir e a alma se transportar para o século XIX, onde durante uma hora de espetáculo vou dividir momentos únicos com o público”, complementa.
Final de semana com Machado
Buscando aproximar o público de um mundo absurdo-incrível presente nos textos do gênio brasileiro, O Bruxo está em cartaz neste sábado e domingo, 13 e 14 de dezembro, às 21 horas, no Teatro do Sesc, em Passo Fundo. O espetáculo é uma promoção do Núcleo Rindo à Toa e os ingressos variam de R$ 20 a R$ 40 de acordo com o lote e podem ser adquiridos no 2º andar do Sesc, das 16 h às 19 horas. “Encenar Machado de Assis é prêmio para artistas e público. Assistir Machado de Assis é experimentar o melhor da arte e compreender que da literatura de Machado ninguém sai incólume. É experiência para o resto da vida!”, finaliza o diretor, Edson Bueno.