Cinquenta tons de quê?

Cinema: Sucesso mundial, o filme Cinquenta Tons de Cinza, baseado no livro homônimo, lota as salas de cinema da cidade e anda de mãos dadas com a polêmica. Tudo isso porque fala de sexo!

Por
· 4 min de leitura
 Crédito:  Crédito:
Crédito:
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Quase dois milhões de brasileiros saíram de casa para encontrar, no cinema, uma história que mistura paixão, medo e sexo. Fenômeno mundial, o filme Cinquenta Tons de Cinza, que estreou no dia 12 de fevereiro, já arrecadou mais de U$ 265 milhões na bilheteria mundial. No Brasil foram quase R$ 30 milhões. Esses números só comprovam que a história, que nasceu nas páginas de E. L. James, é acompanhada de expectativa, anseios e uma dose extra de polêmica.

Ainda que divididas entre aqueles que amam ou odeiam o proposto por Cinquenta Tons de Cinza, é impossível admitir que, hoje, depois de quase quatro anos do lançamento do primeiro livro e uma semana da estreia do longa, exista alguém que desconheça o conteúdo da trama. O enredo é básico e segue o clichê romântico do homem envolto em uma aura de poder e popularidade que se apaixona pela mocinha sem qualquer atrativo ou consciência da beleza que tem. A diferença, em toda a trilogia Cinquenta Tons, é o acréscimo de sexo na história.

A polêmica, em si, nasce das algemas, vendas, chicotes e outras técnicas sadomasoquistas apresentadas no livro e recriadas no cinema. “Tudo que é ‘proibido’ gera curiosidade e consequentemente polêmicas. O filme aborda temáticas que são verdadeiros tabus na nossa sociedade, entendendo como tabu algo que não é discutido abertamente. O fato de mexer com coisas da intimidade de alguns casais, por vezes secretas, gera toda essa comoção social”, acredita a psicóloga Pâmela Rosa Coser que leu os livros e gostou da história.

E é justamente diante do incômodo gerado pelo filme que surgem os questionamentos. A delegada Claudia Crusius, que acompanha os comentários e críticas ao longa, acredita que é preciso estar atento aos limites da submissão. “Há mais de trinta anos trabalho com violência doméstica e a experiência me mostra que a mulher não pode e não deve se submeter a nada que lhe faça mal, física ou psicologicamente falando. Terá a personagem feminina dos livros/filme realmente exercido sua liberdade sexual em plenitude, ou o quanto houve de comprometimento de sua vontade por outras coisas que estavam em jogo?”, questiona. Ela acrescenta, ainda, que o equilíbrio é o que define se a prática é positiva ou não. “Entendo que a liberdade sexual só é plena quando a mulher pode usufruir do sexo sem medo, sem culpa e sem consequências negativas, em um equilíbrio perfeito do seu físico com seu emocional. Sexo é bom quando é bom para todos, não somente para um dos lados.”, opina.


De Anastasia e Christian, a possibilidade de escolha

O sucesso da história é inegável: os três livros já acumulam 100 milhões de cópias vendidas e foram traduzidos para mais de 50 idiomas; o filme está em cartaz em 1090 salas de cinemas do Brasil e com pouco mais de uma semana em cartaz, já é a maior bilheteria do mês de fevereiro da história. Tudo isso porque traz, de forma explícita, desejos ligados à sexualidade. Patrícia Carla Barazetti é psicóloga especializada em intervenções psicossociais, terapeuta educacional e mestranda em educação com foco em temas da sexualidade humana e para ela a polêmica se concretiza porque afeta a individualidade de cada um. “Abordar a sexualidade instiga, de forma consciente ou inconsciente, fantasias internas em relação ao sexo. Quando uma cena de sexo explícito é apresentada de forma mais chocante, faz com que a sexualidade de cada um se manifeste de alguma forma”.

Para Patrícia, é preciso estabelecer o que é ou não violÊncia dentro do contexto sexual. “Quando os atos são permitidos, ultrapassa a questão da violência. Quando há permissão, não há violência. O que eu considero uma violência, pode não ser para aquele sujeito inserido na cena”. Ela explica, ainda, que é importante diferenciar o que o filme apresenta da agressão doméstica sofrida pela mulher. “Uma mulher que apanha do marido é diferente de uma mulher que gosta e permite atos de violência durante o sexo”. E é a partir dessa diferença que se estabelece o limite do que será praticado. "O limite é o casal que estabelece, depende de cada um. Independente do que seja, se algo te violenta, não é legal", enfatiza.

Independente de ser qualificado como bom ou ruim, Cinquenta Tons de Cinza possibilitou a ampliação de um território que, por muito tempo, foi desconhecido. "Acredito que estamos vivendo um movimento social importante. É um momento de quebra de tabus e não só para a mulher. O maior ganho [com a obra] é a oportunidade de avaliar suas possibilidades. Não é porque no filme o sadomasoquismo é bom que a mulher precisa aderir. Mas ela avalia se deseja isso ou não. E é essa liberdade de escolha que é importante. A liberdade de ver qual o meu desejo, o que eu quero e posso me permitir.”, conclui. 

Mas... não é tudo isso!

Como todo livro/filme polêmico, Cinquenta Tons de Cinza tem milhares de críticas espalhadas pela internet que divergem a respeito de um conceito final para o filme. Há quem o ame. Há quem o odeie. Há quem acredite na persuasão do público através das cenas e há quem faça piada delas. Por isso, sem preconceito ou opinião formada, fomos ao cinema. A conclusão? Cinquenta Tons de Cinza só é polêmico porque o público quis assim. Não foi feito para ser. E, embora seja construído na premissa de paixões intensas e de sexo selvagem – que é o que o livro apresenta -, o que acontece, em cena, é um filme bem produzido, mas sem qualquer intensidade – nem no romance e nem no sexo. Mas isso é só a nossa opinião.

 

Gostou? Compartilhe