Há tempos notava com curiosidade o letreiro de um ônibus na rodoviária de Passo Fundo (RS). Volta e meia dava de cara com aqueles destinos escritos: Posadas/Florianópolis. Até descobrir que se tratava de uma linha levava e trazia hermanos para curtir as praias catarinenses. Então, Posadas não era uma cidadezinha desconhecida do interior gaúcho. Fiquei mais curioso ainda. Será que nós poderíamos fazer o caminho inverso e ver que lugar é aquele? Precisaria levar passaporte?
Anos depois, deixei as especulações de lado e encarei a estrada. Antes de partir, descobri coisas que só alimentaram o desejo de conhecer aquelas bandas. Primeiro, não há ônibus que parta de Porto Alegre, rumo ao mesmo destino. Portanto, trata-se de uma exclusividade regional. Descobri também que a cidade argentina faz fronteira com o Paraguai. E para fechar o pacote turístico, Posadas e a lindeira Encarnación estão a poucos quilômetros das ruínas mais bem preservadas das antigas reduções jesuítico-guaranis.
Agora que fui e voltei vou contar o quanto valeu a pena. Antes, é preciso ressalvar que o serviço prestado pelo coletivo tem que melhorar. Há problemas de limpeza, carros velhos e muitas paradas na estrada. Mas é mais perto ir de Passo Fundo a Posadas (468km) do que ir a Florianópolis (508km). Mesmo assim, são pouco mais de 10 horas de viagem. E ainda há a opção de subir de carro. Pra um roteiro internacional, vale o esforço. Sem dizer que as praias doces, o conhecimento e a hospitalidade compensam.
Dia 1 - Trem, praia e pôr-do-sol
O ônibus parte da rodoviária de Passo Fundo entre 5 e 6 horas da manhã. O primeiro trecho, em solo gaúcho, é pontuado por cruzes de Lorena, indicando antigas reduções jesuítico-guaranis nos locais pelos quais vamos passando. A parada pra almoço ocorre em São Luiz Gonzaga, uma das cidades missioneiras. Logo depois, cruzamos a fronteira argentina, na divisa entre São Borja e São Tomé, outras duas protagonistas dos tempos em que padres e índios construíram uma civilização à parte de Portugal e Espanha neste sul do mundo. Nelas não há mais vestígios, portanto seguimos mais ao norte, até Posadas, chegando entre 17 e 18 horas.
Em território argentino, pegamos o novíssimo trem binacional, que começou a operar no início deste ano. É o transporte mais rápido e elegante para cruzar o rio Paraná. A viagem dura 7 minutos, mais uns 15 para os trâmites na aduana. Ao desembarcar em Encarnación, a paisagem muda em relação a Posadas, que recém conhecemos e deixamos pra trás. A estação do trem é no meio de um bairro residencial e comercial, onde a infra-estrutura urbana é precária se compararmos às cidades brasileiras. Mas os moradores e comerciantes garantem que é um lugar tranqüilo e seguro. Pegamos um táxi para nos instalarmos no hotel na praia de San José. Chegando lá, a paisagem mudava novamente. A beira do rio Paraná impressiona e cativa, com ruas recém abertas, calçadão, restaurantes, hotéis e toda a estrutura necessária para um balneário turístico.
Dependendo da época do ano que se for, dá tempo de assistir ao lindo pôr-do-sol, avistando as luzes e os prédios de Posadas do outro lado do rio. Recomendo ir no verão e aproveitar para tomar um banho de água doce e recuperar as energias depois da longa viagem. À noite, pode-se jantar e se divertir nos diversos bares na beira da praia.