A história se repete na sua casa. Na minha casa. Na casa do seu vizinho. Junto com a chegada de um novo filho, chegam, também, as preocupações. Conforme ele cresce, as preocupações parecem escolher crescer junto. Como provar que o caminho escolhido pelos pais é o melhor para o filho trilhar? Como entender que esse filha necessita de um novo trilho para percorrer? Como aceitar que os pais têm, sim, razão? Como conciliar pensamentos daqueles que cuidam com os daqueles que são cuidados? Assim, entre escolhas, questionamentos e caminhos, estreia o novo espetáculo do Grupo Ritornelo: Zé Vagão da Roda Fina e sua Mãe Leopoldina tem sua primeira sessão nesse domingo, às 16h, no Teatro do Sesc.
No palco, a história de uma família de locomotivas. Em cena, três personagens se desenvolvem e apresentam um roteiro. De um lado, uma mãe que busca, a todo custo, manter o filho em um caminho correto, em um trilho já conhecido e percorrido por ela. Do outro, um filho em busca de autonomia para trilhar o próprio caminho. “O caminho da história modifica os próprios personagens e torna tudo mais imaginativo”, avalia a diretora Adriane Mottola, da Cia. Stravaganza de Porto Alegre. Para ela, o trabalho do ator é capaz de dar vida a um universo que, antes, só existia no papel. “A relação que os personagens conseguem criar entre si possibilita apresentar um novo mundo que, através do mesmo pensamento ou da discordância e conflito, cria um mundo tão verdadeiro, sincero e emocional que vai chegar direto nas pessoas e nas crianças”, comenta.
Um passo além
O anseio por um novo espetáculo surgiu ao mesmo tempo em que Faixa de Graça, espetáculo que completa um ano no fim de abril, começou a ganhar as praças. Do desejo pelo novo à busca por uma história, o grupo parece ter encontrado o texto certo. “Estávamos pensando em fazer um espetáculo infantil já há algum tempo. Temos uma admiração por Sylvia Orthof e aí pesquisamos textos dela e chegamos a este. Depois disso, buscamos a direção da Adriane para a organizar a nossa bagunça”, conta Guto Pasini, ator que dá vida à Zé Vagão e que, além disso, assume a produção da peça. Entre idas e vindas para Porto Alegre, Andriane acompanhou o Grupo e ajudou a dar vida à uma história que traz afeto e limite como pilares das relações. Zé Vagão da Roda Fina e sua Mãe Leopoldina traz para o palco elementos da vida real e os explora a partir de diferentes pontos de vista e talvez seja a oportunidade para pais e filhos olharem para a relação construída.
Espetáculo criado especialmente para as crianças, a história de Zé Vagão é capaz de chegar aos pais. Prova disso é o próprio grupo. Enquanto Liz Schuster, que interpreta a Mãe Leopoldina, enfrenta, na vida real, o desafio de ser mãe de um adolescente e Miraldi ainda dá os primeiros passos ao lado de um bebê de 1 ano e 2 meses, Guto está no aguardo do primeiro filho. “É um momento interessante para o grupo e isso tudo, inconscientemente, guiou nossa escolha. Tudo é muito significativo. É interessante explorar como se dá essa relação de cuidado com os filhos, explorar as questões do limite e questões de preservação de identidade do sujeito” explica Guto. Para Miraldi Junior, que, em cena, interpreta a Bruxa Jubilosa, personagem que passeia e contrasta entre mãe e filho, os pais têm espaço garantido na peça. “Estamos há três meses ensaiando esse espetáculo que fala sobre uma história que nos identificamos bastante. É importante falar dessa relação de mãe e filho, do ir e vir e sobre a questão dos limites. Eu acho que as crianças vão se identificar com vários momentos, mas os pais vão se identificar com muitos outros”, comenta.
Do palco para a rua e dela de volta ao palco
Depois de quase um ano na rua com o espetáculo Faixa de Graça, o Ritornelo volta aos palcos. “A princípio é um espetáculos para sala, não foi pensado para a rua. Existem alguns espaços que têm necessidades de linguagem. Enquanto o Faixa de Graça funciona melhor na Rua, Zé Vagão funciona melhor em uma sala. A ideia é que ele transite em espaços alternativos, como escolas”, explica Guto. Andrea concorda e acrescenta que tanto na rua, quanto em frente à crianças, a emoção é a mesma. “O teatro infantil e o teatro de rua tem um público muito generoso. É extremamente prazeroso porque parte direto da emoção. Não há interferência de um pensamento na recepção da peça. A criança reage conforme o que sente e na rua o espetáculo se torna um presente para quem está ali”, avalia.
Com traços claros da cultura brasileira, Zé Vagão da Roda Fina e sua Mãe Leopoldina estréia nesse domingo, 19, no Teatro do Sesc, às 16h. Ingressos estão sendo vendidos de R$ 7 a R$ 20. Mais informações no local.