Um intercâmbio de três meses para Buenos Aires foi fundamental para mudar a perspectiva de vida de Daniele: aos 23 anos, artista plástica formada em Moda e estudante de Design Gráfico, ela é apaixonada por traços e vê neles uma forma de representar o que carrega dentro de si. Saiu do Brasil, em julho do ano passado, em busca de uma experiência capaz de a aproximar da cena artística da capital argentina. Daniele estudou na Escuela de Artes Del Pasaje e concebeu um olhar diferente para o seu trabalho. Na metade de 2015, um e-mail a avisou: Utopía de la Libertad, uma de suas produções, estava selecionada para fazer parte do livro Impacto Latino, que reúne as melhores ilustrações latino-americanos enviadas para o Encuentro Latinoamericano de Diseño, realizado pela Universidade de Palermo.
A notícia
A realização foi imediata, já que Daniele nem esperava mais qualquer resultado. A primeira listagem com cerca de dez selecionados saiu ainda na metade de 2014. Para a publicação do livro, que carrega, em suas páginas, as melhores ilustrações da América Latina, outros trabalhos foram selecionados. O e-mail recebido a informou que a sua produção estaria publicada na página 85. “Essa é uma ilustração que fiz há bastante tempo. Foi uma das primeiras que comecei a desenhar o corpo feminino. Queria mostrar algo sobre a mulher se sentir reprimida, não conseguir expressar o que sente, ou não ser ouvida, representada com base nos estereótipos”, conta Daniele. E é justamente a mulher um dos focos do seu trabalho. “Às vezes tenho ideia de algo que eu queira fazer, às vezes não. Sento e começo a desenvolver o conceito. São as influências do meu dia a dia. Gosto bastante da anatomia feminina e procuro sempre usar isso de alguma forma, com um traço mais delicado, feminino e feminista. O que eu desenho sempre acaba por representar a minha personalidade de alguma forma. Muitas mulheres apresentam dificuldades semelhantes nos seus cotidianos e acabam por viver uma liberdade vigiada. Ainda, apesar que dentro do movimento feminista existam em alguns casos linhas ideológicas mais radicais, o simples fato de querer ser ouvida em busca da igualdade de gênero, mesmo sem fazer parte diretamente da militância, já lhe faz feminista”, completa.
Uma nova visão
Ainda que o resultado do concurso tenha dado maior respaldo a sua arte, nem sempre Daniele apresentou abertamente suas produções. “Sempre tive envolvimento com o arte. Quando voltei da Argentina, me envolvi bem mais com artistas que me proporcionaram valorizar mais o meu trabalho. Comecei a me envolver mais, estudando e conversando com pessoas que já trabalhavam com isso de forma independente”, conta. O retorno veio: “Um dia, uma amiga disse que queria tatuar uma ilustração minha. Desde então, algumas pessoas me procuram por isso. Além das ilustrações para as tattoos, já trabalhei na construção de identidades visuais”.
A experiência que gera frutos
A experiência na Argentina possibilitou que a espontaneidade começasse a fazer parte do trabalho e desse, às ilustrações, um novo olhar. “A experiência foi algo que me surpreendeu, no que diz respeito ao impacto que isso gerou no meu trabalho. Estava acostumada a viver com um contato limitado em relação aos artistas independentes. Lá eu encontrava pessoas desse campo todos os dias”. A influência do que viveu em Buenos Aires motivou, ainda, o início de uma nova proposta cultural em Passo Fundo. “Sentia falta de um lugar como os que eu conheci. E aí conversei com várias pessoas sobre isso”, lembra. Da conversa com o namorado – Augusto Pereira – e com dois outros amigos – Felipe Faé e Caroline Trindade – surgiu a Casa de Cultura Vaca Profana, ainda em processo de estruturação. “Queremos algo espontâneo, um espaço onde as pessoas se sintam à vontade para se expressar artisticamente. E eu desenvolvi isso em Buenos Aires. Lá fiz alguns exercícios artísticos para tornar aquilo um processo natural”, ressalta. Ela acrescenta que a ideia é propor a diversidade da arte na cidade e região. “A proposta é ter um lugar onde vão ocorrer oficinas, workshops, exposições, encontros literários, mostras cinematográficas, experiências gastronômicas, etc. Nos finais de semana à tarde, por exemplo, pensamos em organizar feiras de vinil, quadrinhos e brechó. Principalmente, pelo fato de que fomentar uma cena artística local sem uma espaço físico seria inviável. A ideia é isso. Eu tinha muita vontade de voltar para cá e ter um lugar que eu pudesse acessar trabalhos recentes de outros artistas e trocar experiências culturais”, explica. Além dos quatro, outros organizadores estão envolvidos com o projeto que tem previsão de abertura para daqui um mês com sede na Rua Moron 1021 e que busca, também, ajuda financeira para investimentos no local.
Se a experiência na Argentina possibilitou que Daniele conquistasse uma nova forma de ver sua arte e, ainda, se o concurso possibilitou que tal arte pudesse ser vista, o desejo da artista é, agora, se expressar através do traço. Para conhecer mais sobre o seu trabalho, suas inspirações e produções, acesse a fanpage criada facebook.com/danistuani ou, ainda, contate Daniele pelo e-mail: [email protected].