Ele é intenso. Se entrega. Não tem medo da ignorância, não tem medo da intelectualidade e não tem medo das letras. Para ele, poucas coisas importam. Importa, por exemplo, que a leitura impulsione um crescimento. A inquietude de Sérgio Vaz, poeta paulista, pede que se esqueça do que impede de seguir em frente e propõe a focar no destino: se puder encontrá-lo nas palavras, melhor. Teimoso, contemporâneo e compenetrado na mudança da realidade, Vaz faz parte do time dos poetas que encontra público nas ruas, na periferia, nas margens. Faz parte do time dos que veem na leitura o prazer de uma descoberta. E é com ele que os passo-fundenses poderão se encontrar na próxima semana: na próxima sexta-feira, 21, Sérgio Vaz participa da 2ª edição do projeto Conversas Transformadoras, promovido pelo Grupo Transformar, no Centro de Eventos da UPF. A entrada é 2kg de alimento não perecível.
A proposta é aberta: Sérgio estará a disposição do público. A ideia é que se converse sobre tudo, que se responda tudo e que a mente se abra para uma conversa sobre arte. Sérgio Vaz é o criador de um dos projetos mais abrangentes do país: o Cooperifa. Há mais de dez anos anos, toda quarta-feira, centenas de pessoas se reúnem em um boteco, no meio da periferia paulista, para ouvir e recitar poesia. Ali, nas horas em que o boteco lota, não importam raças, idades ou objetivos de vida. Importa a comunicação das vozes e do coração. Quando questionado sobre a motivação para criar o maior sarau do Brasil, Sérgio suspira, engata a primeira marcha e joga na mesa tudo o que tem para falar: “Vivemos um momento trágico e estamos entorpecidos. Nos preocupamos em ter uma TV melhor, um carro melhor, mas esquecemos de pensar em um curso melhor”, desabafa. “As pessoas não sentam na mesa pra falar de ideias, mas falam de fatos. É preciso falar sobre ideias!”
Para ele, a mudança vem de dentro: de dentro da pessoa e de dentro de casa: “O que falta é que as pessoas digam que gostam de literatura. Falta o pai, enquanto assiste novela, segurar um livro. Os filhos imitam os pais. Falta o exemplo. O fato de as pessoas não lerem é culpa do escritor, culpa do governo, culpa do professor, culpa dos pais. É um reflexo”. O projeto de Sérgio, segundo a crítica, é a própria democracia, em seu estado puro – com política de acolhimento e aprendizagem. O Cooperifa é responsável pela mudança de vida de centenas de jovens que passaram pelo boteco. “O conhecimento deve levar à simplicidade. Ninguém é obrigado a ajudar o próximo e ninguém é obrigado a ficar de braço cruzado. Cada um escolhe. O Cooperifa escolheu trabalhar a literatura”, orgulha-se.
Além do Cooperifa, Sérgio se entrega aos livros. O último deles - Literatura, Pão e Poesia que já foi, inclusive, Livro do Mês por aqui – transforma o poeta em cronista. Doce e ao mesmo tempo selvagem, Vaz propõe uma reflexão: a modernidade trouxe o moderno, mas será que também não foi capaz de enterrar a evolução? Sobre o livro Sérgio acredita que a proposta é encontrar o ponto certo entre o ‘ser duro’ e a ternura: “Há horas em que é preciso ser delicado e há horas em que é preciso dar porrada mesmo. É preciso dar um beijo no murro ou um murro no beijo. Você só descobre seu caráter quando descobre esse equilíbrio”, comenta.
Quando questionado, Sérgio Vaz não responde com objetividade e se orgulha disso. Ele não busca satisfazer uma dúvida, busca, sim, instigar descobertas. A missão do poeta é despertar um pedaço do Brasil que, mesmo de olhos abertos, dorme na sombra de um estigma. “Quando você entrega um livro pra alguém, não quer dizer que ele vá ler ou vá gostar, mas, poxa, faz tua parte!”, apela. “Eu quero um bairro melhor. O país está uma zona, e falta oportunidade de descobrir a literatura... Quando o artista se entrega, é porque não existe mais nada. A arte vem da indignação. Quando acaba a arte, acaba tudo”, conclui o poeta.
Sérgio Vaz – A poesia é para todos
21 de agosto, 19h
Centro de Eventos da UPF
Entrada: 2kg de alimento não perecível