Madrugada. Avenida brasil. Ruas trancadas noite a dentro. O silêncio de uma terça-feira que pouco a pouco se anuncia é quebrado pelo barulho intenso e alto do motor de um Maverick dos anos 70. Transformado em preto, o carro foge, em alta velocidade, de um caminhão que o persegue. Não há um perigo real, mas, sim, o perigo que surge em meio à gravações de um filme de ação: “Maverick: Caçada no Brasil” está sendo gravado em Passo Fundo há três semanas, tem previsão de estreia para 2016 e busca, agora, incentivo e apoio para entrar no circuito comercial de cinema. A pretensão é grande: “Maverick” quer mostrar Passo Fundo para o mundo.
O nascimento de Maverick
Ainda que tenha tido apenas um ano e meio de pré-produção, “Maverick” parece morar no coração e na mente de seus criadores desde sempre. “Quando a gente pensou na Dia Indústria da Arte, pensamos que seríamos, de fato, uma indústria com vários ramos relacionados à arte: ensino teatral, companhia, pesquisa e produtora. E como produtora trabalhamos em diferentes eventos, espetáculos, shows e cinema. Sempre tivemos esse desejo de fazer cinema”, inicia IussenSeelig, produtor executivo do filme, ao lado de Felipe Lemos, e sócio da Escola de Atores, da dia Indústria da Arte, também junto com Felipe. O desejo de Iussen e Felipe foi ao encontro dos ideais de Emiliano Ruschel que, há muito tempo saiu de Passo Fundo para tentar fazer arte no Rio de Janeiro e, depois, Los Angeles.
O contato de Iussen, Felipe e Emiliano nasceu pela arte e continuou, também, por ela. “Em 2011 trouxemos o Emiliano para um bate-papo teatral e há dois anos começamos a nos organizar para pensar no que ofereceríamos na Escola de Atores. Pensamos em uma oficina de interpretação para cinema com o Emiliano. Somos amigos e ele foi meu professor, então fizemos esse desafio para ele: vir dos Estados Unidos para dar uma oficina de um mês. Em contrapartida ele nos lançou um desafio: no final da oficina fazer um filme. Como tínhamos quase dois anos de Dia, baixamos a cabeça e começamos a sonhar juntos”, complementa.
Concretizando planos
O sonho, pouco a pouco, foi se tornando realidade. “O Emiliano trouxe junto com ele a Trinidad Giachino, que é uma roteirista argentina bem conceituada para fazer o roteiro. E, a partir da história da cidade e de um personagem que tínhamos na cabeça, foi escrito “Maverick”. A ideia é mostrar a cidade. Mostram o Rio de Janeiro, o samba, São Paulo. Queríamos mostrar como é Passo Fundo, o Rio Grande do Sul, as pessoas em geral. Criamos cenas para a cidade: para a Catedral, para o Sétimo Céu, para a UPF, para o Aeroclube, para a Avenida Brasil, para o Capingui, para a Cascata de Maringá, emVila Maria”, conta Iussen. “Passo Fundo sempre foi polo de cinema, antes mesmo de Teixeirinha. E desde o Gaúcho de Passo Fundo não foi feito mais nada. Existem trabalhos acadêmicos, trabalhos independentes, mas com um investimento, com a questão empresarial e com vontade de colocar Passo Fundo no circuito de cinema é a primeira vez em quase trinta anos. É um desafio muito grande”, admite.
Desafio esse que só se concretizou com a ajuda de quem ouviu a proposta e abraçou a ideia. “Buscamos parceiros ao redor do mundo. Começamos a pensar a ideia com os alunos da escola, depois entrou produtores dos estados Unidos e São Paulo, a roteirista argentina. Todo mundo trabalhando por um mesmo sonho. Tivemos grande apoio aqui em Passo Fundo”, lembra Iussen. “Tínhamos uma estrutura muito boa. O Corpo de Bombeiros, o Batalhão de Operações Especiais e a Guarda Municipal de Trânsito nos acompanharam em todos os momentos, com profissionais pra cuidar da segurança de todo mundo. E todos eles de forma voluntária. No centro do país não tem essa estrutura. E aqui todo mundo apoiou o nosso sonho. Fizemos um filme com pouco dinheiro e muitas pessoas. É claro que recebemos muitos nãos. Mas, no momento em que Cláudia e Lourenço Gasparin nos ouviram e foram os primeiros a investir no filme e acreditar que poderia dar certo, fomos em frente e aos poucos vimos que todo mundo iria ajudar pela simples vontade de fazer o filme”, relata.
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Arte para quem é daqui
Quando pensaram em “Maverick”, a Dia Indústria da Arte e Emiliano pensaram, também, em oportunizar o contato dos atores de Passo Fundo com uma estrutura capaz de proporcionar grandes produções. “Antes de mais nada queríamos dar uma chance para os nossos alunos da Escola de Atores. Eu e Felipe estudamos aqui, mas para fazer cursos tivemos que ir embora. O próprio Emiliano saiu daqui para tentar a vida no Rio de Janeiro. E quando levamos nossos alunos escolas mais importantes de interpretação nós mostramos que só era preciso uma casa pessoas querendo fazer arte. Então lançamos o desafio para eles também: e se na nossa cidade a gente pudesse ter um mercado de trabalho para o ator?”, questiona. “Existe toda uma questão ideológica por trás disso. Como eu vou falar para os meus alunos que eu posso fazer um filme se eu não fiz um filme? Como eu posso falar que é possível fazer arte em qualquer lugar eles estejam, se eu não fizer arte no lugar em que eu estou? Resolvemos aceitar a proposta e estamos vendo o resultado e ficamos muito felizes”, completa.
Passo Fundo já foi cidade cenário para cinema. Você sabia? Saiba mais aqui.
De volta para casa
Emiliano Ruschel viu na interpretação uma forma de expressar aquilo de mais íntimo que tem dentro de si. Nasceu em Lagoa Vermelha, mas ainda criança se mudou para Passo Fundo e aqui encontrou um lar e um local para se entregar ao teatro. Hoje, é do mundo. Morando em Los Angeles há quase dois anos, Emiliano carrega uma bagagem pesada de experiências. Carrega, também, Maverick: diretor e ator do longa, Emiliano comprova que o clichê de que ator do interior não consegue se aproximar da arte do centro do país, ou, ainda, não consegue produzir arte com qualidade é, de fato, um clichê sem fundamento. Mesmo atuando em Los Angeles, Emiliano segue de olho em Passo Fundo e as oficinas em parceria com a Escola de Atores são um pretexto válido para voltar a cada ano e fazer de Passo Fundo um lugar receptível à gravação de um filme. Deu certo. Hoje, Emiliano – que saiu daqui para tentar a vida em um cenário maior – volta para fazer de Passo Fundo esse cenário maior. Não só para ele. “Eu não tenho palavras pra descrever o que sinto. Fiquei muito feliz porque comecei aqui e daqui saí e fui pro Rio de Janeiro para trabalhar. E poder voltar e voltar para cá é sensacional. Poder trabalhar cultura no Brasil já é maravilhoso. Me sinto duplamente recompensado de poder estar fazendo filme lá fora e agora fazendo aqui. Estou muito feliz. A acolhida da cidade foi fantástica e as cenas ficaram lindas. É um filme feito com muito amor e carinho e os atores daqui foram muito bem. Espero que o público goste do nosso trabalho e que esse seja o primeiro, que seja o início de uma jornada”
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Em busca das telas
O desafio, agora, é colocar Maverick no circuito comercial de cinema. “Queremos que as pessoas conheçam Passo Fundo e o nosso desafio agora é esse. Queremos mostrar que, em Passo Fundo, foi possível rodar um filme gravado todo em inglês, para o mercado internacional, com um olhar americano e com a qualidade de Hollywood”, explica Iussen. A equipe se concentra, agora, nas últimas cenas gravadas em Los Angeles e na finalização – que será realizada por lá. Depois disso, os esforços serão direcionados para a busca de incentivo e patrocínio para que MAverick chegue ao maior número de salas de cinema possível. “Agora o nosso desafio é levar isso para as pessoas. Queríamos mostrar que éramos capazes e conseguimos a ajuda de diferentes pessoas. O filme vai sair de qualquer jeito. Vamos exibir. Mas queremos colocar na maior quantidade de salas de cinema do Brasil”, encerra.
Conheça o enredo
Um estranho chega à cidade de Passo Fundo. E ele está à caça: na calada da noite Jack Maverick, faz o check-in em um hotel. Na manhã seguinte, esse estranho recebe um café da manhã em seu quarto. Junto do café vem um jornal: a matéria é sobre o suicídio de uma jovem mãe e a busca da polícia pela sua filha desaparecida. Junto ao jornal, um envelope, anexado com fita adesiva. Dentro do envelope, um travelcard, um passaporte com fotos de Jack, um telefone celular uma chave de carro antigo com endereço e uma pasta de abas duplas com fotos de uma jovem mulher e a cópia de uma certidão de óbito, concluindo o suicídio. Ainda no o envelope uma pilha de páginas com informações confidenciais da polícia e de outros casos. Todos suicídios. Maverick começa a investigar os suicídios e, de pista em pista, chega a uma rede de tráfico de drogas que o coloca como suspeito dos crimes investigados por ele. Jack se vê no meio de uma conspiração de venda de drogas e numa caçada de gato e rato, onde ele não só caça como também é a isca em uma luta onde tudo é um jogo de fumaça e espelhos. E um Maverick envenenado.
Saiba mais sobre as referências de Maverick
Ficha técnica
Direção: Emiliano Ruschel
Roteiro: Emiliano Ruschel e Trinidad Giachino
Produção: Lourenço &ClaúdiaGasparin
Produção Executiva:IussenSeelig& Felipe Lemos
Direção de Fotografia: Ricardo Rheingantz
Trilha Sonora:SkykoTavis (USA) – A trilha foi composta especificamente para o filme
Produção de Elenco: Daniel Vieira
Direção de Produção: Lucy Macedo (USA)
Produção nos Estados Unidos:Wild Road
Produção no Brasil:Sky Pictures
Parceira: FilmJournée
Quem fez Maverick
Cenas: 123
Cenas em Passo Fundo: 120
Cenas em Los Angeles: 3
Atores:20
Entidades, empresas e pessoas envolvidas: Prix Hotel, Museu do Automobilismo Brasileiro, Arquidiocese de Passo Fundo e Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, Batalhão de Operações Especiais, Comando Regional de Polícia, Prefeitura Municipal de Passo Fundo, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Desporto e Cultura, Teatro Municipal Múcio de Castro, Comando Regional dos Bombeiros, Tecnovisual, Universidade de Passo Fundo, Prefeitura de Vila Maria, Família Canalli, Família Gasperin, Intratec Energia do Grupo Geradores, Regison Cabelereiros.
De Passo Fundo para o mundo
Se as ruas de Passo Fundo serviram de lar para Maverick, foram os atores formados na cidade que deram voz e vida aos personagens pensados pelo roteiro. “A maioria dos atores são daqui, da Escola de Atores ou de grupos convidados”, explica Iussen. Alessandra Pires e César Scortegagna, que fazem parte da Metamorphosys Cia Teatral, encontraram em Maverick a oportunidade de migrar, por um instante, dos palcos para as telas. “Eu faço uma das vítimas, Flávia Gonçalves, que morrem no filme. Uma cena apenas, mas de uma intensidade enorme, pois é a cena que vai reproduzir o momento da morte da minha personagem”, inicia Alessandra. Para ela, o orgulho em participar da produção e a oportunidade de vivenciar diferentes experiências são o maior ganho.“Há uma troca de experiência com a equipe, com os atores, uma energia muito boa nos bastidores. O Emiliano como diretor nos deixa muito seguro e satisfeito com a cena. A estrutura é toda baseada no estilo americano de trabalhar, muita organização, muita correria, muito trabalho, o que dá muito prazer em fazer parte desse momento que vai ficar na história e com certeza será só o inicio de mais e mais produções”, comenta.
Para César, o desafio foi mergulhar no universo proposto pelo filme. “Eu gostei muito de ter participado de uma superprodução, como Maverick. Um diferencial é ter que atuar falando em inglês, pois o filme é todo rodado nessa língua e será voltado para o mercado internacional. Impressiona a qualidade da gravação e do nível de detalhe, sendo que algumas cenas foram gravadas madrugada adentro”, comenta. Interpretando o concierge do hotel onde Maverick se hospeda, César já foi parceiro de Emiliano por aqui. “E é excelente voltar a contracenar com o ator principal, e também diretor do filme, Emiliano Ruschel. Nós fizemos uma peça teatral juntos quando ele ainda morava em Passo Fundo, pela Metamorphosys Cia Teatral, que aliás ele ajudou a fundar antes de se mudar para o Rio de Janeiro e agora Los Angeles. E o roteiro é generoso com a cidade, passando por todos os pontos turísticos locais.A beleza da cidade, seguramente, vai estar presente nas telas”, conclui.