No domingo é a vez de Clary Costa dividir o palco com o irmão Pedro Neves e o cantor Ricardo Pacheco. Os três se apresentam na casa de eventos Juca Porto, localizada na rua João Catapan, ao lado do CTG Tropel de Caudilhos, na Santa Marta. O show inicia às 20 horas, e terá participação de Wagner Ghelen. O valor do ingresso para o show e jantar é de R$ 35.
Natural de Tapejara, Clary fez história na música do Rio Grande do Sul, ao lado do marido, Algacir Costa, com o conjunto Os fronteiriços. Criado em 1971, na vila Vera Cruz, o grupo, formado inicialmente por cinco músicos, passou a tocar em fandangos pela região a bordo de uma Kombi. Aos poucos, foi ganhando fama e alcançando cidades mais distantes do Rio Grande do Sul. Mais tarde, já com um ônibus próprio no lugar da Kombi, percorreu diversos estados do Brasil.
“Levamos nossa música para praticamente todo o país. Naquela época era muito difícil. Tocávamos em lugares que não havia asfalto, luz elétrica. Era preciso um gerador para iluminar o salão. Era muita luta mesmo, mas não deixávamos de cumprir nossa agenda. O Algacir era muito firme e a equipe muito gente boa. Éramos uma família” recorda.
No início da década de 80, a família abriu o Galpão dos Fronteiriços, também na Vera Cruz. A churrascaria com intensa programação musical prosperou rapidamente, mas como a essência do grupo era estar na estrada, conciliar carreira artística com a administração da churrascaria inviabilizou a continuidade do negócio. “Tinha muito movimento, mas não havia ninguém para administrar. O Algacir era muito bom, não cobrava dos amigos, dos músicos. O negócio dele era a música. Tanto que passamos a tocar outros ritmos e a participar de eventos como formaturas e bailes do chope. Fechamos o galpão uns dois anos depois” conta.
Nos anos 80, Os Fronteiriços também deixaram seu nome gravado na história dos festivais nativistas que pipocaram pelo Estado. Na 3ª Tertúlia de Santa Maria, em 1983, levaram o troféu de melhor grupo vocal.
“Pisamos no palco do teatro Treze de Maio e o público começou a gritar Teixeirinha e Mary Terezinha. Aquilo nos arrepiou. Quando abrimos a boca foi um silêncio total. Interpretamos Ode ao Peão de Estância, composição de Rubens Dario Soares e Algacir. Um momento inesquecível. Sinto arrepio só de lembrar” conta pelo telefone.
Os Fronteiriços encerram a trajetória no início dos anos 90. Nos quase 20 anos de existência, gravaram sete discos. Com a separação do casal, Clary mudou-se para Porto Alegre, levando os filhos Diego e Yamandu, à época com três anos, e seguiu carreira solo.
Mudança para a Capital
É nesta nova fase da família Costa que começa a despontar precocemente o virtuosismo de Yamandu. “Na Capital tinha um bar chamado Pulperia. A gente se apresentava lá. Yamandu tinha uns quatro anos, cantava algumas músicas e chamava a atenção do público. Já com uns sete ou oito anos, uma noite, vendo o Lucio Yanel tocar, nosso amigo desde os tempos de Passo Fundo, disse que um dia tocaria como ele e não largou mais o violão” conta a mãe.
Clary lembra que alguns anos depois, Yamandu foi passar uma temporada com o pai, que estava adoentado e morando na cidade de Canarana, no Mato Grosso. “Ele ficou mais de um ano lá. Como Algacir estava muito doente fui buscá-lo para se tratar em Porto Alegre. Assim que cheguei, ele me chamou para um canto e disse baixinho. ‘Gringa, esse guri está tocando lá do céu. Ele vai ganhar o mundo’” revela. A previsão do pai, que faleceria em 1997 em Porto Alegre, não levaria muito tempo para se confirmar.
A mãe brinca ao lembrar a época em que chegou a pensar em procurar ajuda de um psiquiatra porque o filho não largava o violão. “Tinha uns 14 ou 15 anos, quanto mais tocava mais queria tocar. Fiquei preocupada. Aos 19 anos ele ganhou a Califórnia como melhor instrumentista. Chegou em casa dizendo que tinha um convite para ir a São Paulo e que iria ganhar o mundo com seu violão e realmente foi” conta.
Encontro
No domingo, Clary vai interpretar alguns clássicos da época dos Fronteiriços e também canções de seu disco Amiga, homônimo do programa apresentado por ela na rádio Tertúlia Web.
O show contará também com o irmão Pedro Neves e o cantor Ricardo Pacheco. Com 33 anos de carreira, Pedro iniciou profissionalmente na música junto com os Fronteiriços, onde permaneceu por cerca de um ano. Autor de mais de 300 músicas, já gravou nove discos e prepara o 10º para o ano que vem. Em mais de três décadas, integrou diversos grupos, sem esquecer das origens. “Saí do quartel e fui para os Fronteiriços em 1978. O Algacir era um maestro, tocava vários instrumentos, aprendi muita coisa com ele naquele período” afirma.
Sobre o show de domingo resume “Vai ser interessante, um ping pong, cada um cantando dentro de seus estilos”. O show é uma realização da Relicário Produções, do músico Ricardo Pacheco que retorna a Passo Fundo para investir no trabalho de produtor.