Para quem gosta de cinema, a noite de domingo foi completa. As atenções se voltaram para Los Angeles, em uma cerimônia de entrega do Oscar, realizada no Teatro Dolby, que seguiu a regra do que vem acontecendo nos últimos anos: escolhas lineares e sem qualquer traço de novidade. Não se pode negar, no entanto, que os prêmios foram, sim, merecidos – especialmente a Leonardo DiCaprio que, depois de quatro indicações frustradas – finalmente conquistou o prêmio de Melhor Ator. Quanto ao grande prêmio da noite, Melhor Filme, foi Spotlight – roteiro que carrega a investigação jornalística como centro – que levou a melhor, arrecadou, ainda, o prêmio de Melhor Roteiro Original e parou por aí. Por fim, foi Mad Max quem saiu consagrado: das 10 indicações que tinha, arrecadou seis delas.
Para Fábio Rockenbach, professor e especialista em cinema, a premiação foi uma das menos atrativas dos últimos tempos. “Com exceção da torcida por Mad Max e por Stallone – mais por questões nostálgicas do que qualquer outra coisa – o prêmio teve sua atenção concentrada, por exemplo, em questões raciais e nos memes de DiCaprio. É muito pouco quando os filmes ficam em segundo plano com tanta facilidade”, avalia. Para ele, o fato de Spotlight ter ganho reflete isso. “O melhor filme da noite não ganhou nenhuma outra categoria, além de roteiro. Nada em termos técnicos, nem diretor e nem atuações. Difícil saber se espelha a diversidade e equilíbrio dos filmes produzidos nos Estados Unidos – e não exatamente uma grande qualidade - ou a complexidade do sistema de votação. O fato é que o Oscar costuma deixar os melhores filmes de fora pelo conservadorismo de seus votantes. Nem todos que trabalham na indústria sabem, realmente, avaliar a qualidade de um filme”. Crítico, Fábio acredita que filmes importantes ficaram de fora da disputa. “Filmes estrangeiros como Mia Madre ou o brasileiro Que Horas ela volta? Deveriam estar na relação final. Beasts of No Nation foi solenemente ignorado, inclusive em seus intérpretes. Carol, de Todd Haynes, nem sequer foi indicado a melhor filme. Sicario, de Dennis Villeneuve, é filme para ter no mínimo 5 ou 6 indicações fortes, inclusive a melhor filme. Como tem disso comum, Hollywood deixou os melhores de fora da festa”, conclui.
O especialista fez uma avaliação das principais categorias. Confira:
Melhor filme: Spotlight!
“Spotlight bebe na fonte de outros filmes de investigação jornalística, principalmente Todos os Homens do Presidente, e tem seus méritos: a força da narrativa é dividida igualmente entre um elenco equilibrado – não existe um protagonista que se destaque – e o ritmo é constante ao longo de todo o filme, méritos do roteiro (também premiado). Tem até algumas construções simbólicas interessantes, como a presença constante de Igrejas e símbolos religiosos dividindo a tela com vários personagens, mas como filme, não é exatamente o melhor dos indicados. A Grande Aposta, O Regresso e Mad Max apresentam mais qualidades em diferentes quesitos. Mas o próprio sistema de votação do Oscar, bastante complicado, privilegia filmes equilibrados, que não ousem tanto e que costumam agradar a todos, em vez de conquistar adoradores ou detratores nos dois extremos.”
Melhor diretor: repetição de 2015
“O Oscar adora recompensar diretores icônicos pela carreira, e aí os prêmios a Ridley Scott e, principalmente, George Miller seriam justificados. Mas Scott sequer foi indicado. O grande merecedor é mesmo Miller, que já idoso dá uma lição de como fazer cinema de qualidade em um gênero pouco lembrado pela academia. Iñarritu me incomoda em seu filme por querer aparecer demais, fazendo os malabarismos técnicos sobressaírem à própria história. Em certo momento, começa a ficar cansativo perceber que ele quer a todo momento dizer que está ali, atrás das câmeras.”
Sobre a consagração de Mad Max
“O grande apelo de Mad Max é resgatar a beleza de fazer um cinema mais natural e menos apoiado no artificialismo dos efeitos de computador. Tem um trabalho técnico surpreendente – não por acaso ganhou 6 prêmios técnicos – e um cuidado na produção pouco usual nos dias de hoje. Há quem não goste, achando que o filme não tem história. Particularmente acho que uma boa história não necessita de inúmeras pontas e tramas, apenas ser contada de forma poderosa. Isso o filme de Miller faz como poucos...”
DiCaprio, finalmente
Muito se fala de como DiCaprio era ignorado pelo Oscar, mas a coisa vai além: o Sindicato dos Atores já o havia indicado OITO vezes, e somente agora ele conseguiu receber seu prêmio. O Regresso não é sua melhor performance, mas com certeza é a mais visceral e aquela que exigiu mais esforço físico. Em termos de interpretação, gosto mais de seus desempenhos em O Aviador e O Lobo de Wall Street. Mas não foi prêmio de consolação, ele está realmente bem na comparação com seus concorrentes, todos merecedores, mas nenhum dono de uma performance avassaladora.”
Uma volta em Melhor Atriz
“Alicia Vikander pode ser talentosa e o nome do momento, mas era hora de reconhecer e premiar o talento de Jennifer Jason Leigh em Os Oito Odiados, até por representar o retorno de uma das mais versáteis atrizes que o cinema americano teve nos anos 90 e 2000.”
O Menino e o Mundo x Divertida mente
“Já era difícil competir com a PIXAR, e quando Woody e Buzz surgiram para anunciar o vencedor, já se imaginava o que aconteceria. Mas estar entre os finalistas já é um grande prêmio para a equipe perseverante e talentosa de Alê Abreu”