Em meio a uma praça, surge um fusca azul e, pendurado nele, uma vela que, quando o vento sopra é capaz de impulsionar uma embarcação em alto mar. No fusca, no entanto, impulsiona a imaginação e uma viagem pelos delírios de um público que se entrega ao ato do faz de conta. O cenário poderia ser de um desenho que entrega ao telespectador tudo mastigado, pronto a ser consumido, mas não é: é, na realidade, o enredo do espetáculo teatral do Grupo Ueba “As Aventuras do Fusca a Vela” que será apresentado, neste final de semana, na VI Mostra Sesc de Teatro. Além da praça, o espetáculo invade a Rua Morom, em sua versão pocket, em um cortejo capaz de carregar não apenas os adereços de uma peça, mas a alegria de quem a vê.
O teatro vai para a praça
A inusitada montagem do Grupo Ueba, que invade, no domingo, a Praça Tamandaré, é uma obra com forte inspiração nas aventuras de Moby Dick, do norte-americano Herman Melville, e, neste caso, se passa em torno de um ferro velho, onde dois personagens se encontram em uma situação singular, confundindo realidade com fantasia. De um lado, o velho Ismael conta e experimenta sua história através do seu fusca que, pouco a pouco, se transforma em uma embarcação capaz de conduzir o espectador em uma viagem pelos seus devaneios. Devaneios esses que fazem parte da mente de um homem experiente que viu de perto a fúria da vingança de uma baleia que leva o nome da obra cujo espetáculo é inspirado. Do outro lado, ou quase ali, o jovem Jonas - nome que surgiu a partir da inspiração no profeta Jonas que foi engolido pela baleia - entra na história ao jogar uma bola contra o fusca e assim chamar a atenção do primeiro. Juntos, Ismael e Jonas partem, apesar das diferenças que vão além da idade, em uma aventura guiada pela mente: com o Fusca a vela partem e encontram, pelo caminho, tubarões, sereias, tempestades e um forte sentimento de vingança. Tudo isso em meio à praça. “Sem dúvidas esperamos que o público se aventure, mergulhe na história e vivencie o espetáculo. Fazer teatro ao ar livre é muito gratificante. O público é muito espontâneo, alguns estão indo de propósito para assistir, mas muitos estão passeando e se deparam com o espetáculo. É uma forma de chegar com o teatro mais perto do público, de ofertar uma atração cultural em um espaço democrático, sem barreiras, sem cobranças. É livre”, conceitua Aline Zilli, uma das fundadoras do Grupo Ueba e atriz.
Comandante: imaginação
Por se tratar de um espetáculo feito para ser apresentado em espaços abertos, o fusca – que é capaz de se transformar, até mesmo, em uma baleia vingativa – e os personagens – de carne e osso e, também, feitos de arame e tecido - são ingredientes únicos da peça. “Os bonecos ganham vida na mão de quem os manipula e aos olhos do público. Remete a infância, ao lúdico. E o mais legal é que, dentro da história, mesmo sendo montados de arames e tecidos, o público se encanta e se deixa acreditar”, conta. Juntos, os elementos exploram a imaginação do público e, a partir disso, abordam as obsessões de cada um e o quanto comportamentos extremistas interferem na vida das pessoas. Apesar deste objetivo, a peça é leve, divertida e ao mesmo tempo tem uma forte carga dramática porque busca explorar as nuances de cada sentimento em cena. “No palco há uma proteção, uma divisão entre público e atores. Na rua essa barreira é quase inexistente. Trabalhar com teatro é exercitar a criatividade e apresentar o público o lado lúdico de uma história. Quando estamos apresentando, nós atores, vivenciamos mesmo aquela história. Por isso que brincamos que o teatro é uma grande mentira, mas que tem que ser contada com muita verdade”, conclui.
Serviço
Cortejo Aventuras
Rua Morom, 2 de abril, 10h e 16h
Espetáculo As Aventuras do Fusca e a Vela
Praça Tamandaré, 3 de abril, 16h