Como pode um palhaço ser, ao mesmo tempo, melancólico, dócil e cruel? Como pode, ainda, que esse mesmo palhaço seja capaz de falar de amor, sonhos e desejos em meio a números circenses? O espetáculo da VI Mostra Sesc de Teatro desta terça-feira, 05, é exatamente assim: La Perseguida, do Grupo de Teatro Vagamundo, é inspirado em grandes números clássicos da palhaçaria e apresenta, em cena, o palhaço Rabito que espera - e persegue- o grande amor de sua vida em meio a um circo. Nutrido pelo improviso, o espetáculo será apresentado, gratuitamente, às 20h no Teatro Múcio de Castro.
Jogo com o público
Apesar de ser um espetáculo centrado na figura do palhaço, La Perseguida é capaz de falar sério: enquanto apresenta Rabito em sua espera - e perseguição - pelo amor, apresenta, na verdade, uma metáfora para tudo aquilo que desejamos na vida - e que nem sempre perseguimos. No palco, o palhaço faz a opção de interagir com o público através de armadilhas e provocações em busca de um encontro com a plateia. “Penso que o riso aproxima as pessoas. Ao entrar em cena, estou em busca do outro. Minhas ações dependem das reações do outro. Então nesse jogo de abertura, respeito e escuta, vou sutilmente aguçando minha percepção diante daquela plateia, diante do que tenho naquele momento, buscando um contato real com cada pessoa. A cada nova apresentação o espetáculo se molda ao público”, comenta Daniel Lucas, ator do grupo e intérprete do palhaço.
A escolha pelo palhaço
Assim, entre uma brincadeira e outra, o riso torna-se companheiro do início ao fim e Rabito, ao fechar das cortinas, será muito mais um amigo do que um personagem distante. “O palhaço Rabito é uma figura transgressora, que representa um comportamento às avessas, é um ser que perdeu sua dignidade porque a sociedade lhe roubou. Mas o que faz dele um ser admirável e cativante é a sua capacidade de subverter e reinventar a lógica do mundo, rir de tudo que o cerca, e por isso ele pode cativar o público de todas as idades”, acrescenta.
Rabito explora com entusiasmo cênico cada minuto do encontro com o público. A espontaneidade desse faz da espera um momento de entrega ao acaso, um instante mágico que merece ser vivido com intensidade ao lado de um palhaço. “Escolhemos essa figura porque o palhaço só existe com a presença do outro. O lugar do palhaço é o mundo, necessitamos de palhaço, ele nos faz lembrar do quanto ainda podemos brincar. O palhaço está em todos os lugares porque o mundo precisa dessa figura, que é um detonador de padrões e convenções. Acredito que quando o palhaço está no picadeiro envolvido no seu universo, ele, de alguma forma, está curando a humanidade. Curando através do riso, por isso essa arte é conhecida como a arte do coração e da alma.”, complementa o ator.
Transformado através da arte
O grupo, que já participou do Palco Giratório Nacional do Sesc em 2013, circulou por mais 16 estados brasileiros e dialogou com diferentes públicos – seja na praça, na rua ou no palco. A experiência possibilitou expandir a ação e a vivência do palhaço em cena e, a cada novo início de peça, a proposta é, sempre, se transformar e transformar o espetáculo a ser apresentado. “A cada nova apresentação o espetáculo se transforma através da relação com o público”, conclui Daniel.
Serviço:
La Perseguida
Teatro Múcio de Castro
5 de abril, 20h
Ingressos: gratuitos (retirar no Sesc)