A poesia da memória

Simples e carregado de delicadeza, Aldeotas, espetáculo de sábado da VI Mostra Sesc de Teatro, apresenta o resgate de uma amizade através de memórias e histórias compartilhadas

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Como resgatar a vida que já passou senão olhando dentro daquilo que carregamos de mais íntimo? Como encontrar o passado senão através de histórias, lembranças e experiências vivenciadas pelo caminho? E, quando tudo isso nos falta, o encontro se dá através das memórias do outro, daquele que nos acompanha e que recebe a nossa amizade como presente a ser levado pela estrada. Aldeotas, espetáculo desse sábado, 9, na VI Mostra Sesc de Teatro, traz, no palco, justamente isso: o encontro de dois amigos que compartilham memórias. O espetáculo traz Gero Camilo e Victor Mendes e será encenado no Teatro do Sesc a partir das 20h.

Opostos que se encontram
Aldeotas traz Levi - interpretado por Gero Camilo - que retorna, depois de muitos caminhos percorrer, à Coti das Fuças cidade fictícia onde viveu infância e juventude, ao lado de Elias – de Victor Mendes. Os dois cresceram juntos e vivenciaram, pouco a pouco, a experiência de ver uma amizade crescer e se solidificar.  Enquanto Levi é a personificação da poesia, Elias é o retrato vivo da crítica. Apesar das diferenças, os dois se reencontram, mais tarde, nos fragmentos de memórias vividos na pequena cidade. Ao retratar a amizade, Aldeotas é, essencialmente, um espetáculo forte, poético e capaz de arrancar o leitor/espectador contemporâneo do espaço e tempo hostis da modernidade e o transportar, através de recordações, para experiências de vida mais sublimes e delicadas. E tudo isso acontece pela força da interpretação da dupla e pela simplicidade das escolhas em cena.

Simplicidade com significado
A peça faz questão de ser simples do início ao fim. No palco, apenas um tapete delimita o espaço para a interpretação. Juntos, Levi e Elias parecem viajar e levar o público para viver as mesmas aventuras e descobertas que viveram. A comédia acontece sem qualquer esforço ou escracho; quase não há cenário, assim como as luzes pouco variam e a trilha sonora é, apenas, um pequeno complemento do ritmo inteligente e contagiante que a peça tem. Por mais contraditório que pareça, é, justamente, essa simplicidade que faz a plateia imaginar paisagens, bailes, quartos e mirantes.

Mais de dez anos
Elogiada pelo público e pela crítica, a peça tem o texto do próprio Gero Camilo e nasceu a partir de um conto de seu livro A Macaúba Terra e foi encenada, pela primeira vez, em 2004 – ano em que recebeu o prêmio Shell de melhor direção e, também, o Prêmio Qualidade Brasil 2004, categoria Melhor Ator para Gero Camilo. Desde então, percorreu o Brasil e, por onde passou, levou a poesia de uma amizade apoiada na beleza do respeito. Dirigida por Cristiane Paoli Quito, Aldeotas consegue, em pouco mais de uma hora e meia, apresentar a história não apenas de duas vidas, mas de vidas que se deixam tocar, ainda que por um instante, pela poesia da memória.

Aldeotas
9 de abril, 20h, Teatro do Sesc
Ingressos: R$ 10 para comerciários e dependentes com Cartão Sesc/ Senac, R$ 12,50 para estudantes e idosos (mediante identificação formal), R$ 15 para empresários e dependentes com Cartão Sesc/ Senac e R$ 25 para público em geral.

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