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Com um texto inédito e trilha sonora original executada ao vivo, o espetáculo “Frida Kahlo, à Revolução!” é a atração deste domingo, 24, no palco do Teatro do Sesc. O espetáculo, que acontece às 20h, é inspirado na vida e nas obras da pintora mexicana e conduz o público para a redescoberta ética e estética, focada no princípio revolucionário da arte como denúncia solidária. A dramaturgia da peça concentra-se nos aspectos humanos da personagem para construir um cenário que faça emergir o que pode transcender a condição de mito. Ingressos e mais informações podem ser obtidas pelo telefone (54) 3311.9973.

Confira a entrevista do Segundo Caderno com a atriz Juçara Gaspar:

Segundo Caderno: Como surgiu a proposta de falar sobre Frida Kahlo?
Juçara: 
Desde que iniciei meus estudos em teatro me inquietou muito as abordagens do pensamento feminino na história ou a escassez dele, já que vivemos tempos de escravidão e exploração do gênero feminino e fomos construindo nossa mitologia aos poucos, conquistando direitos civis e ocupando espaços.  Desde então o teatro tem sido um canal constante de contar histórias de mulheres, ou o imaginário feminino, como forma de empoderamento, de inspiração pra que mais e mais mulheres sigam firmes seus sonhos e sejam protagonistas de sua própria história. A Frida é um universo puro e profundo pra diversas dessas inspirações do feminino revolucionário: em seus últimos dias de vida pinta a natureza morta ‘Viva la Vida”, nos mostrando mais uma vez o quão invencível e frágil era sua persona e quão firme e forte era seu amor pela vida, mesmo vivendo a muitos anos em um corpo destroçado. Ela escreveu suas páginas, compôs uma coleção de quadros totalmente femininos e combatentes; viveu seus amores, lutou por sua arte, foi solidária no engajamento político e marchou ao lado de seu povo.

SC: Na tua opinião, qual a importância de falar sobre a obra e a vida desta mexicana?
Juçara: 
A representatividade de gênero é fundamental na busca pela justiça e direitos humanos das mulheres.  Os grandes pintores são homens. As artes plásticas assim como tudo que nos foi legado da história nos mostra um universo totalmente masculino, os próprios livros de história e documentos que chegam até nós foram escritos unicamente por mãos de homens, foram eles os cientistas, os matemáticos, filósofos.  É claro que isso têm mudado, justamente porque algumas expoentes e resistentes nadaram contra a corrente pré-estabelecida, afastaram suas fronteiras pré-determinadas pelo status-quo de uma época bem mais difícil, abrindo caminhos e possibilidades pra estarmos no estágio em que estamos agora. A Frida além de ser pintora e viver de sua arte, foi cidadã e revolucionária no dia-a-dia, seu próprio modo distinto de se vestir, honrando sua natividade e herança indígena mexicana era uma forma de combate dos modismos e uma incitação a auto-descoberta de um estilo próprio. Provocante.

SC: Como você desenvolveu o processo de caracterização? Envolveu estudo? Como foi?
Juçara: 
O espetáculo com uma hora de duração estreou em setembro/outubro de 2009, mas desde 2008 eu vinha trabalhando na pesquisa.  A criação da personagem se deu concomitantemente à escrita do texto, pensando teoricamente, que iniciei em meados de 2008, através de biografias, fotos, filmes e música mexicana, além de buscar saber sobre o povo azteca e toda a história da ‘conquista’ espanhola. Outro foco de estudo são os escritos da própria Frida, sua correspondência e Diário. Assim a personagem foi surgindo de dentro pra fora. Claro que ainda está em processo e cada ano ou nova leitura, ou nova vertente de pesquisa que aparece sobre ela, cria temperos e fazeres novos também para nossa construção. Uma imersão que nos causou comoção profunda foi os trinta dias que estivemos no  México em 2015, investigando de perto cada passo que havíamos dado em busca dessa mulher e de seu legado.

SC: Qual a ideia do espetáculo? O que ele pretende?
Juçara: 
O espetáculo completa 7 anos no segundo semestre de 2016. Cada vez mais a vida e obra da poderosa pintora mexicana incita e sugere a abordagem de temas que precisam ser incentivados, tais como o protagonismo feminino, a acessibilidade e inclusão, a liberdade artística e a denúncia a uma sociedade machista e patriacal. Agora o grupo busca ampliar as formas de trocas com o público, promovendo oficinas e encontros temáticos/artísticos com a intenção de intensificar o diálogo e a troca de experiências com a comunidade que o acolhe, que já inicia na temporada de aniversário em agosto de 2016, de 04 a 14, no Teatro da Santa Casa.

SC: Qual a importância de falar sobre a história de Frida diante da atual sociedade? Como o tema da revolução é abordado?
Juçara: 
A peça conta sobre arte e personalidade feminina, revolução política e coletiva, mas principalmente sobre revolução pessoal, sobre coragem pra continuar, sobre amparo ao próximo e desobediência civil. Sobre superação e humanidade apaixonada. Sobre uma artista de gênio com imensa e agônica ternura que inspirou seu ‘pueblo’ e empodera mulheres no mundo inteiro.

SC: Por fim, o que o público pode esperar?
Juçara: 
Música, diversão, paixão, amor e revolução! <3

 

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