Nos anos 2000, quando o Festival Internacional de Folclore já se encaminhava para a sexta edição, Rodrigo Cavalheiro ensaiou os primeiros acordes de Circo da Paz. Lá, ele não imaginava, mas a canção, 16 anos depois, ainda é a descrição perfeita do que acontece debaixo da lona quando as portas do Casarão da Cultura finalmente se abrem. “Dentro dele é pura emoção: raças se unindo, preconceitos se partindo, cantando é que a paz tem salvação”. O XIII Festival Internacional de Folclore iniciou, oficialmente, na noite desta sexta-feira, 12, e, sim, dentro dele tudo é emoção: se emociona o público que anseia pelo momento que as luzes se apagam; se emocionam, também, os grupos - aqueles que chegam ao Brasil pela primeira vez e aqueles que já são velhos conhecidos do evento; se emocionam os voluntários, a coordenação, os jornalistas. O Festival, um dos maiores eventos de Passo Fundo, mesmo 24 anos depois do seu nascimento ainda é capaz de emocionar a cidade que, durante nove dias mergulha em uma viagem pelos quatro cantos do mundo sem sair do lugar. Basta abrir os olhos, a mente e o coração.
A cidade que encontra o folclore
Até parece um ritual: quando o anoitecer chega, por volta das 18h30, o caminho de toda a gente pelas ruas parece ser o mesmo. Ainda que o espetáculo de abertura inicie, pontualmente, às 19h30, a ansiedade pelo reencontro parece caminhar sozinha, sem se importar com o horário. Ninguém questiona o que encontrará debaixo da lona, quais países estarão no palco, o que vale a pena ser visto ou não. Ninguém questiona, porque todos sabem que o Festival de Folclore é mais que um evento de dança e música. Vai além: ali, entre as arquibancadas e cadeiras instaladas no chão batido, o palco parece ser pequeno pela carga nele depositada; são culturas, tradições, cores e, especialmente, histórias que viajaram quilômetros para serem depositadas, de forma simples, diante do povo. Parece ser uma troca e, de fato, é: Passo Fundo entrega sua acolhida, seu anseio e desejo por ouvir; as delegações trazem parte da sua história no desejo de compartilhar.
Simões Lopes Neto: história e emoção
E essa troca, que já se dá nas ruas nos dias que antecedem o espetáculo de abertura, se intensifica no momento em que as luzes se apagam e um véu de silêncio parece percorrer a lona para que Simões Lopes Neto, através do seu legado, se engrandeça diante do público. No palco, o gaúcho e suas tradições foram exaltados através dos contos de Simões Lopes Neto, autor que retratou a alma rio-grandense. Do amor de um casal, representado pelo peão e pela prenda, ao retrato do campo gaúcho, Simões parece ter ganhado vida em cena através da interpretação do grupo Timbre de Galo, com apoio da Baillar Centro de Danças e da Cia. de Artes Caripaiguarás, da cidade de Guaporé. Ali, autor foi representado a frente de uma máquina de escrever enquanto os contos que escrevia ganhavam o palco e eram apresentados ao público.
Quatorze
Depois dele, ao som da nova versão do hino do Festival, as quatorze delegações convidadas para esta edição do evento percorreram os corredores do Casarão no tradicional desfile com as bandeiras. Pouco a pouco, no palco, um resumo das próximas noites se construiu: lado a lado, os grupos apresentaram sua nação, suas cores, seus sorrisos e, principalmente, sua felicidade em participar de um momento tão importante para a cidade.
E o público sorri. Seja pela intensidade de grupos como Uruguai e Argentina, pela tradição e disciplina da Letônia, pelo colorido e descontração carregados pela Bolívia, pelo misticismo que a Ilha de Páscoa e Guam apresentam, pelo característico country do grupo dos Estados Unidos, pelo sorriso de Goiás, pela musicalidade de Mato Grosso do Sul, pelo ritmo imposto pelo México, pela força apresentada pela Bélgica, pelas cores da Colômbia ou pela alegria que os grupos do Peru e do Senegal impõem ao público.
E a emoção de quem acompanha o espetáculo se reflete nas palavras de Paulo Dutra, coordenador do evento. Queremos desejar que todos os grupos sejam acolhidos pela comunidade de Passo Fundo. Sejam bem-vindos! A comunidade é a prova de que existe o desejo de que o evento continue. Que nunca deixemos morrer essa vontade que temos de mostrar nossa cultura e de conhecer outras culturas!", pediu o coordenador que encerrou sua fala agradecendo o trabalho dos voluntários e a dedicação da comunidade.
O presidente da seção nacional do CIOFF, Marcos Antônio Carvalhães Pereira destacou a visão que o país tem do festival. "O Festival de Passo Fundo é reconhecido como o melhor festival de folclore do país. Todos os passo-fundenses estão de parabéns pela sua participação e pela dedicação", colocou.