Um festival de histórias

Nove dias de espetáculos e muitas lembranças: o XIII Festival de Folclore chega ao fim e soma, em seu currículo, muitas histórias construídas e compartilhadas

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Um casal chileno que escolheu a cultura gaúcha para fazer uma cerimônia simbólica de união. Um artista que há 20 anos é apaixonado pelo voluntariado. Uma guia que, depois de quatorze anos, reencontra o grupo que acompanhou ainda criança. As histórias que se constroem durante o Festival de Folclore ficarão marcadas nas lembranças de quem as viveu e nas memórias compartilhadas. Um evento que proporciona uma troca de experiências tão intensa é capaz, também, de proporcionar momentos que ficam marcados e que, mais tarde, serão contados com a certeza da saudade. O XIII Festival Internacional de Folclore de Passo Fundo se encaminha para a reta final. Além das lembranças e da saudade, fica a certeza de um espetáculo de diversidade, cultura e entrega.

“O amor, assim, é mais puro”
Acostumada com as roupas típicas da cultura da Ilha de Páscoa, Diane Castro, bailarina chilena de 25 anos, se viu em um vestido de prenda na noite de quinta-feira, 18. Diane não estava no palco, mas em frente a um espelho na casa de uma das guias que acompanha o grupo Tumu Henua no Festival de Folclore. Nervosa, conferia a maquiagem, olhava ao redor e não conseguia esconder o sorriso típico de quem está apaixonada. Namorada de Pablo Munõz - que também é dançarino do grupo – desde 2014, Diane confiou na cumplicidade dos guias para dividir um segredo: ela e Pablo haviam se desafiado a casar, de forma simbólica, em todas as culturas que conhecessem juntos. O Festival de Folclore em Passo Fundo seria a primeira oportunidade para colocar a proposta em prática.
Quando dividiu o desejo com os guias Rodrigo, Antonella e Bruna, sem que Pablo soubesse de nada, Diane não imaginava que a ideia seria tão bem aceita. Logo, os três encontraram a oportunidade perfeita para que ela e Pablo pudessem, enfim, se unirem diante da cultura gaúcha: uma janta de confraternização que reuniria todos os integrantes do Tumu Henua. Sem saber das intenções da namorada, Pablo vestiu a indumentária gaúcha com a proposta de participar de uma sessão de fotos ao lado da namorada. Logo que Diane entrou no lugar os companheiros de grupo a aguardavam, Pablo foi a seu encontro, a sessão foi desmentida e, na frente daqueles que dividem suas rotinas com o casal, os dois assumiriam um compromisso que parece já estar bastante firme em suas intenções.
Lado a lado, os três guias organizaram uma cerimônia simbólica, com trajes gaúchos, que selou o amor de um casal que busca a simplicidade do “dividir a vida” na cultura rio-grandense. Emocionada, Diane só conseguiu agradecer a oportunidade e declarar o sentimento. “Eu o amo e amarei para sempre. Por isso queremos nos unir em todas as culturas que conhecemos. Assim, sem uma lei por trás, o amor é mais puro, mais livre. É amor, de fato”, disse. Para Pablo, a cerimônia é apenas mais uma forma de oficializar aquilo que já é vivido ao lado dos dois filhos do casal que, apesar de não serem irmãos de fato, são criados como tal. “Somos uma família. Uma única família. É isso que queremos viver todos os dias. Não precisamos de um metal para simbolizar isso, precisamos do nosso sentimento. E vestir essa roupa é, para nós, motivo de honra e orgulho. Ficamos felizes que a primeira cerimônia ser assim, na cultura gaúcha”, concluiu.
20 anos de voluntariado

Em um evento capaz de proporcionar tantas experiências como o Festival de Folclore, histórias de amor não faltam. E esse amor, apoiado na cultura e na proposta de paz entre os povos, parece ser imune à ação do tempo. Prova disso é Rodrigo Vilanova que, na terceira edição do evento, pisou no palco, como dançarino, pela primeira vez e se encantou. Dois anos depois, em 1996, vivenciou o Festival de uma outra forma: se tornou voluntário e, hoje, 20 anos depois, segue apaixonado pela função. “É um prazer imenso fazer parte desta história cultural da cidade que oportuniza tanta troca, tanto intercâmbio. Enquanto artista, me sinto feliz de ter a oportunidade de participar destes momentos que, para mim, considero históricos para Passo Fundo”, conta o ator que, nesta edição, além de guia, interpreta um dos personagens de João Simões Lopes Neto no espetáculo de abertura do Festival. Para Rodrigo, a oportunidade de estar tanto no palco quanto na rotina diária do Festival é motivo de agradecimento e orgulho. “Agradeço ao Paulo Dutra e ao meu professor, na época do DT Industrial e, logo depois, do Tebanos do Igaí, que me apresentou ao Festival. Me sinto feliz. Representa a minha vida estar aqui. Enquanto artista, tento participar de todas as manifestações de arte e cultura da cidade. Temos que fazer isso. É minha obrigação, minha missão enquanto artista e é o meu combustível pra continuar trabalhando com arte até o dia que eu morrer. Até o dia que eu tiver forças, vou ser voluntário no Festival”, encerra.

Reencontro com o Chile
Antes mesmo de Antonella Menegat Basso nascer, a sua mãe, Claudete, já estava envolvida com o Festival de Folclore. Voluntária desde a primeira edição, Claudete não deixou de participar do evento quando ficou grávida de Antonella, em 1996. Guia do grupo da Itália, nome da mãe vivenciou o Festival de forma intensa e segurou a chegada de Antonella até quando pôde: no último dia do evento, as dores do parto anunciaram que a menina nasceria em meio ao Festival que a mãe sempre dedicou atenção. “O legal disso tudo, é que o grupo inteiro da Itália foi até o hospital para me ver, antes de retornarem ao país”, conta a garota que, hoje, aos 20 anos faz parte do time de guias do espetáculo.
O envolvimento dela, no entanto, não é desta edição. O nascimento em meio ao Festival anunciava que ela estaria ligada ao evento durante a vida. “Sempre acompanhei minha mãe, ficava com ela e participei do Festival desde criança”. Aos seis anos, Antonella acompanhou a mãe que, na época, foi guia do grupo Tumu Henua, representante da Ilha de Páscoa, Chile, no palco do Festival. “Lembro que ficamos muito próximos, o grupo foi jantar na casa dos meus pais”, recorda. Quatorze anos depois, Antonella soube que o grupo estaria novamente em Passo Fundo para participar da 13ª edição do evento e não pensou duas vezes: pediu para ser guia do grupo. “Eu já estaria entre os guias e, então, pedi que por favor me colocassem junto com o Chile. Apesar de eu ser criança quando o grupo veio pela primeira vez, eu lembrava deles e queria novamente estar com eles”, comenta. Deu certo. “Está sendo uma experiência muito legal. Eles são ótimos, são pessoas divertidas, estou encantada. Fico muito feliz com o carinho que estou recebendo deles. É muito gratificante. Eu estou adorando”, conta.

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