Um misterioso mercenário, dirigindo um Maverick preto dos anos 70, contratado por um milionário americano para investigar um suposto suicídio. Acontecimentos relacionados ao tráfico de drogas e uma grande conspiração, envoltos em ação e mistério. A princípio, pode parecer a premissa de um filme de Hollywood, ambientado em alguma cidade dos Estados Unidos, mas essa é a história do filme “Maverick – Caçada no Brasil”, gravado em Passo Fundo no ano passado e lançado na última semana.
O longa-metragem, com produção no Brasil pela Sky Pictures e nos Estados Unidos pela Wild Road, estreou nos cinemas de Passo Fundo, na última quinta-feira, com sessão lotada. Quem comemora o resultado positivo é Emiliano Ruschel, que, além de roteirista e diretor, atua como o investigador Jack Maverick, protagonista do longa. O artista é natural de Lagoa Vermelha, mas se mudou para Passo Fundo quando tinha cinco anos de idade. O amor pela cidade fez com que ele, que hoje mora nos Estados Unidos, voltasse para o lugar que considera como terra natal, trazendo a bagagem profissional que carrega e o projeto que guardava com carinho há anos.
Como nasceu “Maverick”
Ainda jovem, Ruschel decidiu arriscar a vida como ator no Rio de Janeiro, onde morou por dez anos. Lá, a ideia de fazer um filme de ação em que o protagonista dirigisse um Maverick, modelo de carro que sempre adorou, o motivou a escrever uma sinopse e, também, um título para este filme: “Maverick – O Assassino das Sombras”. No entanto, o material permaneceu anotado, por anos, entre as diversas sinopses que esperam para sair do papel. Em 2014, após atuar no filme “Para Sempre Nunca Mais” e ser premiado em um festival em Los Angeles como melhor ator, Ruschel recebeu o convite de empresários americanos para ficar morando na Califórnia, mas a vontade de dirigir seu próprio filme jamais deu trégua. Ao rever as ideias guardadas, o sonho de fazer um filme com o carro e protagonista Maverick falou mais alto e Ruschel passou a planejar as locações onde colocaria a ideia em prática. “Eu estava com muita saudade de Passo Fundo e da minha família e decidi juntar o útil ao agradável”.
A escolha por Passo Fundo
Mais do que a saudade da família, a escolha por Passo Fundo como local de gravação foi motivada pela vontade de mostrá-la para o mundo. Quando se mudou para os Estados Unidos, Ruschel percebeu mais do que nunca a visão estereotipada que os estrangeiros têm do Brasil. “Eles veem o Brasil e só pensam em Rio de Janeiro, futebol e Carnaval. E é uma coisa que me incomoda”, desabafa o ator. Apesar de ter a opção de filmar no Rio de Janeiro ou em alguma cidade europeia, Ruschel decidiu arriscar e mostrar as belezas de uma cidade menor, além da visão global do que é o Brasil. “Eu comecei a trabalhar na sinopse de novo e mudei um pouco a história e o título do filme. Eu queria incluir a palavra ‘Brasil’. Quando eu levar o filme pros Estados Unidos e Europa e eles lerem o título do filme, a primeira coisa que vem na cabeça deles é a referência que eles têm de Brasil”. A intenção é que essa primeira impressão dada no título, como ele cita, seja claramente rebatida no decorrer do longa.
A construção do roteiro
Desde o início, o planejamento do roteiro tomou como base os locais onde Ruschel tinha interesse em filmar, mas o trabalho não foi feito sozinho. A argentina Trinidad Giachino, que já havia trabalhado com ele anteriormente, foi convidada a ser roteirista e, de prontidão, adorou a ideia. “Os argentinos têm um refinamento que eu gosto e eu achava que esse filme deveria ser escrito por uma mulher. É um filme que tem mais uma cara de homem, tem um pouco de ação, investigação, crime... Mas eu queria dar uma inteligência ao roteiro, para a gente ir descobrindo as coisas aos poucos. Não para ser apenas um filme de ação, ser um filme com história. Eu passei para ela [a roteirista] quais eram os locais que eu queria filmar e mandei fotos, aí ela pôde ver onde seriam gravadas as cenas. Foi assim. Pensado em Passo Fundo e escrito para Passo Fundo”.
A escolha do idioma
Embora o filme seja gravado em Passo Fundo, todos os diálogos são em inglês. A escolha se deve à pretensão de levar o filme para o circuito internacional. Ruschel explica que o público americano e europeu está acostumado a assistir filmes da indústria hollywoodiana e reluta em apreciar filmes estrangeiros, que sejam legendados. “Como eu moro lá e estou trabalhando em produções americanas, é uma forma de continuar nessa linha voltada para o mercado internacional. Eu quero fazer filmes que eu possa levar para fora, que tenham uma aceitação melhor”, explana. Segundo ele, a escolha se justifica até mesmo pela história. “O personagem é um cara estrangeiro que está vindo para cá. Ele não fala português, então as pessoas têm que se comunicar com ele nessa língua. Fica muito natural”.
Recepção
Surpreendente. É assim que Ruschel descreve a recepção do público e se diz emocionado. “Está sendo melhor do que o esperado, eu não imaginei que seria tão legal. Todo mundo está tão feliz, amando o filme, curtindo muito. O que eu estou ouvindo com a maior frequência é ‘Nossa, o filme me surpreendeu, não achei que era tão legal, fiquei muito preso na história’. Isso para mim é o maior presente, o maior prêmio”. Os elogios ficam ainda mais claros quando ocorrem os aplausos nas sessões de exibição – durante o filme, no meio do filme, até quando o filme acaba.
Projetos futuros
Em 2017, a produção continuará levando “Maverick” para outros cinemas, inclusive fora do país. Ruschel comenta com muito carinho a respeito do projeto que está sendo desenvolvido com os apoiadores e patrocinadores: levar o filme para cidades pequenas que não têm cinema (a expectativa é que mais de 100 cidades sejam contempladas), em sessões ao ar livre. Uma opção de entretenimento que custará somente 1kg de alimento como ingresso, destinado à doação para comunidades carentes. A equipe vê a iniciativa como uma forma de ajuda social e de levar a mensagem de combate às drogas, presente no filme, às comunidades. “O filme é sobre um cara tentando resolver um problema de drogas, a mensagem do filme é uma mensagem antidrogas. Nada melhor que um justiceiro para tentar equilibrar essa luta desigual dos caras do tráfico, armados, violentos, que acabam, muitas vezes, além das vendas dos entorpecentes, matando muita gente por disputa de território”, conta.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=dxNoDWqPnH0