Sobre a vida e gratidão

Em novo livro, ?EURoeA noite das tartarugas?EUR?, o médico psiquiatra Jorge Alberto Salton propõe uma reflexão sobre o sentimento de gratidão

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Crístofe é um jovem brasileiro, de 19 ou 20 anos  que, assim como outros, almeja ter uma profissão para mudar o destino de sua vida. Ele viveu grande parte do tempo em um subúrbio e lá presenciou cenas que não gostaria que nenhum outro adolescente visse.

Na família, o rapaz teve uma relação conturbada com a mãe e os irmãos e o o salvou foi ter encontrado o Vô Viz. Vô Viz não era de fato seu avô mas o adotou como se fosse e transferiu para o menino o gosto pela leitura e pela busca do conhecimento.

Para se tornar o economista que sempre sonhou, Crístofe conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade dos Estados Unidos. Só não esperava ter de lidar com a intolerância aos estrangeiros na terra ianque. Para lidar com essas situações e fugir do suicídio, como aconteceu com a personagem Hanna, da série americana 13 Reasons Why, Crístofe vai conhecer o sentimento de gratidão. Gratidão pelas pessoas que conheceu e pelas coisas que teve a oportunidade de aprender, o que o levou a seguir um caminho diferente do esperado. 

Essa história poderia ser real e quem sabe até aconteceu em alguma cidade brasileira, quem sabe americana. Crístofe e Vô Viz são personagens do novo livro do médico psiquiatra e professor Jorge Alberto Salton, “A Noite das Tartarugas”. O lançamento do livro faz parte das atividades da Pré-Jonada Nacional de Literatura, que ocorre de 02 a 06 de outubro em Passo Fundo.

O escritor aproveitou o cenário da eleição americana do ano passado, que teve como vencedor o republicano Donald Trump, para compor a história. Em “A noite das Tartarugas”, a universidade em questão foi alvo de um ataque de um aluno estrangeiro, que vitimou dezenas de alunos.

Salton explica que a ideia de escrever o livro surgiu após uma palestra que ministrou para alunos da rede pública de ensino da cidade, adolescentes que segundo o médico se interessaram muito pela leitura, o que o surpreendeu de certa maneira. “Então eu pensei: Será que eu consigo escrever um livro que possa interessar as pessoas mais jovens? Vou tentar. Eu escrevo por prazer e sempre construo um personagem com base em um sentimento,mostrando o interior do personagem”, diz.

Para isso, Salton inspirou-se em um autor alemão chamado Karl May, que em seus romances trazia a aventura como ponto principal. “Meu personagem precisava ter alguma aventura, ele vai viver momentos de dificuldade nos Estados Unidos e vai ser grato as pessoas que conheceu por terem preparado ele para enfrentar aquelas situações de tristeza, de preconceito, aí eu comecei a história”, relata.  

Ele ainda comenta que no início teve um pouco de dificuldade em escrever por conta da diferença de gerações entre ele e os jovens. “Eu não posso querer escrever como um jovem, não posso forçar, então eu pedi ajuda a um youtuber de Blumenau, que comenta sobre literatura, Vilto Reis para me dizer se estava no caminho certo. Ele me disse que sim, então segui”.

Gratidão

Quando questionado sobre o porque de ter escolhido a gratidão para dar vida à história de Crístofe, Salton diz que quando se é focado nisso, os sentimentos ruins dão espaço aos bons. “Eu acho que as pessoas ainda sentem gratidão, para sentir isso é preciso refletir sobre o passado, a maioria das pessoas se sentem gratos a alguém cuja ajuda não era esperado e de quem já é esperado, o sentimento de gratidão é menor. Em geral, poucos tem o sentimento de gratidão pelos pais, pois acham que é obrigação deles ajudar.O sentimento de gratidão tem muito a ver com as expectativas que criamos”, diz. 

No livro, o personagem principal reflete sobre tudo o que passou até chegar nos momentos de dificuldade e encontra no que aprendeu com o Vô Viz, com a mãe e os irmãos, a saída para continuar vivendo.

13 reasons why

Ao final do livro, é possível encontrar um apêndice onde Salton estimula um contraponto entre as histórias de Crístofe e Hanna. Ambos são jovens que passaram por situações de rejeição, são depressivos e querem, de alguma maneira, se livrar do sentimento ruim que sentem. “Ela [hanna] não busca nenhuma solução para o problema e vemos na história que o suicídio já era algo programado, ela queria apenas provar que as pessoas eram más”. diz. Ele complementa: “Tentei demonstrar com este apêndice que nem todo mundo que sofre bullying ou rejeição pode seguir por um caminho destrutivo, a maioria até não acha, acha uma saída melhor, finaliza.

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