Curiosidade como marca registrada

Muitas mãos erguidas insistiam em saber tudo sobre os autores presentes na Jornadinha na manhã de ontem

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Crianças em contato direto com seus autores preferidosCrianças em contato direto com seus autores preferidos
Crianças em contato direto com seus autores preferidos
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Quem quer fazer pergunta? Ao contrário de constrangimento, muitas mãos erguidas. O clima da Jornadinha é de curiosidade, energia, atenção. Todos querem ouvir os autores, questioná-los, pedir o porquê de uma coisa ou outra. Foi assim na manhã de ontem (3), com os alunos do 1º ao 5º ano das escolas da rede pública e privada que visitaram o Portal das Linguagens. Nas tendas que homenageiam a escritora Clarice Lispector – Yara, Malazarte, Negrinho do Pastoreio e Curupira – oito autores circularam em rodízio para atender todos os questionamentos das crianças.

E haja fôlego para responder tantas perguntas. As crianças pediam de tudo um pouco: sobre os livros, sobre inspiração, sobre como ou por que o autor escreveu isso e não aquilo. “Por que vocês não escrevem gibi?”, pediu Carolina, de sete anos. “Vou responder rapidinho: por que eu não desenho bem”, respondeu rindo a escritora Márcia Leite, que encarava a sabatina junto do escritor e ilustrador Daniel Kondo. Márcia participa da Jornadinha com os livros ‘Cadê o Pintinho?’ e ‘Poeminhas da terra’. Além destes dois, os livros ‘Os incomodados que se mudem’ e ‘Pé-de-bicho’ também são obras indicadas para leitura nas escolas. Já Kondo traz as obras Monstros no Cinema e Opostos on the table e Coletivos on the table. Mais uma pergunta: novamente, muitas crianças querendo falar. A escolhida foi Maria Eduarda, de oito anos. “Eu queria saber qual é a inspiração de vocês”, disse, em voz alta, no microfone. “A minha inspiração vem das coisas que eu observo, das coisas que vejo. Como autor, dependo muito disso”, respondeu Kondo.

Em seguida veio a Eduarda, de sete anos, que pediu o que eles queriam, quando criança, ser ou fazer quando virassem adultos. Para Márcia, o ideal seria ser dona de uma banca de jornal, para ler todos os gibis e revistas que quisesse. E Kondo, quando questionado sobre seu monstro favorito, não teve dúvida em responder que era o Frankstein. Na tenda ao lado, Ariel, de 11 anos, que vinha de Concórdia, erguia o braço para fazer uma pergunta para Alexandre de Castro Gomes – autor da obra ‘O livro que lê gente’. “É porque eu percebi que tinha livros na estante que meus filhos foram crescendo e nunca abriram. Como sou muito curioso e gosto de observar as pessoas, como se comportam – e sempre que isso acontece fico imaginando histórias sobre elas – pensei: por que não escrever um livro que perceba, que leia, as pessoas?”, contou o autor. Já o Marcos, nove anos, de Panambi, queria saber qual é a sensação de ver que tem gente que lê os livros que os autores Alexandre e Eliandro Rocha leram. Rocha, por exemplo, participa da Jornadinha com os livros ‘Escola de príncipes encantados’ e ‘A ponte’. Além de ‘O livro que lê gente’, Alexandre também escreveu ‘Condomínio dos monstros’. A resposta veio certeira. “O livro mudou a minha vida. Se sou o que sou hoje, é porque descobri a biblioteca pública da minha cidade. Então é ótimo quando vejo alguém lendo meu livro. É minha forma de retribuir o que ler mudou na minha vida. É como dizem: livro bom é livro aberto”, falou Eliandro. “É verdade. A gente se sente muito feliz quando vê que alguém nos reconhece na rua, ou algo do tipo. E isso por que não estamos na televisão, nem no Rock in Rio e nem no Youtube: estamos no livro. Para vocês nos conhecerem, precisam ter lido o que escrevemos. Então é muito legal”, completou Alexandre.

Seguindo o rodízio de tendas, chegaram as escritoras Lúcia Hiratsuka e Selma Maria. Mal chegaram e já foram bombardeadas de perguntas. A primeira foi sobre a obra ‘O livro do palavrão’, para Selma. Paula, de oito anos, pediu se a autora costumava falar muito palavrão quando criança. “Não, não falava tanto assim”, ela respondeu, rindo. Seu livro trata das palavras no aumentativo. O personagem João queria ser adulto e, por isso, começou a falar tudo em ‘ão’ – pá virava pão, Ana virava anão, leite virava leitão. Por trazer esta dualidade, também foi questionada do porquê “enganar” as crianças com o nome no título. “Foi enganar no bom sentido, né?”, começou ela. “Eu adoro as palavras. Quando estive em Portugal, percebi que todos falavam muito no diminutivo: beijinho, inho, inho. Aí pensei: por que não falar em ‘ão’?. Também foi para lembrar que tem muita família que trata as crianças com palavras feias. A gente tem tanta palavra bonita, porque não usar?”, contou. No fim, as duas ganharam cartas feitas pelos alunos da escola Notre Dame.

O trabalho desenvolvido antes da Jornadinha nas escolas é perceptível. Os alunos falavam com propriedade das obras. “Fiz três perguntas”, exclamou o aluno Luis Henrique Rodrigues, de oito anos. Ele estuda na Escola Estadual Casemiro de Abreu, de Caseiros. As professoras trabalharam os temas em todas as séries. Prova disso é a participação da Eduarda Ribeiro, de 11 anos, estudantes do 5º ano. “Para mim, o melhor livro foi ‘Adélia’, de Jean-Claude Alphen, porque é mais para a minha idade”, contou. “Nós lemos, relemos, fizemos atividades. Foi bem intenso. Tanto é que agora eles estão aproveitando muito”, relatou a professora Juliane Zembruski. Outra escola que também aproveitou sua estadia antes e durante a Jornadinha foi a Escola Estadual Polivalente, de Soledade. As turmas do 3º e 4º ano estudaram as obras ‘O livro que lê gente’, de Alexandre de Castro Gomes, e a ‘Escola de príncipes encantados’, de Eliandro Rocha. “No ‘Livro que lê gente’, cada aluno criou um livro e deu uma habilidade a ele. Também trabalhamos a questão dos monstros, de Daniel Kondo, onde gravamos um clipe com todos vestidos de monstros dançando ‘Thriller’, de Michael Jackson”, contou a professora Ana Pedroso.

Programação

A programação com os alunos das séries iniciais vai até hoje, apenas. A partir desta quinta-feira (5), chegam os autores que atenderão os estudantes do 6º ao 9º ano. Aí então participam os autores Felipe Castilho, Renata Tufano, Heloísa Prieto, Luiz Antônio Aguiar, Pablo Morenno, Edson Gabriel Garcia, Renata Ventura, Ondjaki e Rosana Rios. O rodízio de conversas acontece pela manhã, das 9h às 11h30, e pela parte da tarde, das 14h às 16h30.

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