O escritor que desenha frases em guardanapos

Conheça a obra de Pedro Gabriel, um dos autores convidados da 16ª Jornada Nacional de Literatura

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Pedro Gabriel e sua obra em guardanapos
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“Primeiro o encanto. Depois desencanto. Por fim, cada um pro seu canto”. Em um pedaço de guardanapo, em uma mesa de bar carioca, Pedro Gabriel deu vida ao seu - ora alter ego, ora personagem – Antônio, em uma poesia que ele define como a ciranda de uma paixão que acabou. Com trocadilhos melancólicos, escrevendo sobre o amor e a saudade, o escritor, que diz ser o bar seu escritório e os guardanapos sua matéria-prima, conquistou mais de um milhão de seguidores com a fanpage: Eu me chamo Antônio.

Desde que nasceu, Antônio é um canal que ajuda Pedro a expressar as coisas que ele sente. “Eu criei um personagem, apesar de que ele tem meu nome: Pedro Antônio, mas como ninguém me chama de Antônio, nem meus pais, eu dei meu nome ao personagem. Isso porque eu sempre fui muito reservado e tímido para falar das coisas que eu sentia e queria expressar. Com esse personagem eu consegui quebrar a barreira do silêncio, então eu digo que o Antônio é a minha coragem para dizer as coisas que eu sinto. É um personagem e também é verdade quando se diz que ele é um alter ego”, explica.

A primeira poesia foi desenhada em 2012 e desde então, ele tenta assassinar a nostalgia da sua língua materna – o francês – e transferir para o papel suas memórias.  Ou, como ele mesmo diz: “eu só versifico para ver se fico menos só”. Africano, o escritor nasceu em N´Djamena, capital do Chade, no ano de 1984. Filho de mãe brasileira e pai suíço, foi alfabetizado em francês. Quando chegou ao Brasil, em 1996, sofreu pela falta de contato com a língua portuguesa.

“Eu acho que cada guardanapo que eu faço é uma forma de matar essa saudade dessa língua, de tentar redesenhar minha infância na África. Eu acho que meus guardanapos carregam esse peso, eles são memórias desenhadas do que eu sinto, por isso eu falo tanto de liberdade. Eles são lembranças mesmo, fotografias desenhadas de coisas que eu sinto”, expressa.

Os guardanapos

Quando chegou nos 2 mil guardanapos, Pedro Gabriel parou de contar. Mas estão todos guardados em álbuns de fotografia, tamanha importância essas memórias têm para o autor. O lance guardanapo, porém surgiu por acaso. O Café Lamas era o ponto de parada depois do trabalho. Ficava perto do ponto de ônibus em que Pedro descia depois do trabalho.

“Eu tinha o hábito de andar com um caderno de bolso, só que nesse dia eu esqueci. Eu desci do ônibus eu percebi que estava sem nada para anotar. Eu estava com minha caneta no bolso e queria anotar algumas coisas, então anotei no guardanapo. E eu gostei de desenhar naquilo. O guardanapo foi evoluindo depois, mas eu fui criando hábito e gostando daquela plataforma”, relembra.

Inicialmente, as poesias desenhadas, como ele gosta de definir, iam para o Facebook. Em 2013, elas se transformaram em livro que leva o nome de sua página: Eu me chamo Antônio. “Segundo - Eu me chamo Antônio”, chegou às livrarias em 2014. O terceiro livro, Ilustre Poesia, chegou às livrarias em 2016.

Além dos guardanapos

Já no terceiro livro publicado no formato de frases desenhadas, Pedro pensa em se renovar. Antes disso, deve concluir um livro de romance que ele prometeu aos leitores. “Eu vou escrevê-lo e depois eu queria dar um tempo. Eu queria mostrar as outras coisas que eu faço. Eu não quero ficar preso a um personagem, eu acho que tenho mais para mostrar seja com tirinha, história em quadrinho, crônica, talvez seja com texto que não tenha, necessariamente, a ver com desenho. Eu quero dar um tempo dos guardanapos porque eu acho que é bom para me reciclar. Eu acho que uma artista que não se recicla, ele vai parar no lixo criativo”.

Jornadas Literárias

Pedro Gabriel participou da 16ª Jornada Nacional de Literatura, na noite de ontem (3). Ao lado de Zeca Camargo, Rafael Coutinho e Roger Mello, o escritor participou do debate “Literatura e imagem: além dos limites do real”, no Espaço Suassuna.

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