Depois de dois anos, a peça “Comunicado à Academia”, do grupo de teatro Madame Frigidaire, volta à Casa de Cultura Vaca Profana para nova apresentação nesta quinta-feira (12), às 20h. A montagem é uma adaptação do texto homônimo de Franz Kafka e trata-se da história de Pedro, um macaco que se comporta como homem e, na peça, faz um relato sobre sua trajetória de habitante das florestas a cidadão comum de classe média. Os ingressos custam R$ 15 e podem ser adquiridos na entrada do evento.
O grupo passo-fundense de teatro experimental é formado por jovens interessados pela arte dos palcos, mas que antes da iniciativa pouco tinham contato com o universo de produção teatral. Assim, a Madame Frigidaire é um espaço de constante estudo e criação, de mentes inquietas, que buscam por meio das peças e do entretenimento proporcionar ao público um momento de reflexão. Em “Comunicado à Academia”, o protagonista é um macaco que, após ser capturado e preso em uma jaula onde acabaria, com o tempo, a morrer sem outra saída, decide tornar-se humano para poder ser aceito e viver em sociedade. Hoje, ele vive dando palestras pelo mundo para contar como se deu esse processo de "hominização".
Protagonista da peça e fundador do grupo, Lucas Quoos comenta que Kafka tem essa característica: consegue recriar, a partir de fatos absurdos e fantasiosos (como um macaco se tornando humano), acontecimentos reais, naturais, provocativos, fazendo com que essas situações estranhas se transformem em reconhecimento. “Afinal de contas, todos nós passamos por um processo ‘civilizatório’, todos nós já sentimos a necessidade de nos adaptar ao mundo e ao mesmo tempo estamos às voltas em busca da construção de uma identidade que seja nossa. É uma questão extremamente humana, a partir de uma história de fantasia: quem ou o que sou eu? Como vim a sê-lo?”, explica. Lucas, que é também professor de teatro, conta que, antes de virar peça, o texto era usado como exercício teatral nas aulas que ministra na Casa de Cultura Vaca Profana. “Esse caráter de usar a fantasia e o absurdo para falar do ser humano é a maior qualidade do teatro, penso”. Ele acredita que todos que já foram assistir à peça, mesmo sem nunca ter lido a obra de Kafka, se encantaram com essa figura simpática, irônica e também um pouquinho obscura que é Pedro.
A apresentação acontece na Casa de Cultura Vaca Profana, como tem sido sempre com as apresentações da Madame Frigidaire. “Gostamos muito do espaço, pois ele proporciona um encontro mais próximo com a platéia, que divide uma pequena sala com 30 lugares na mesma altura do palco”, o ator complementa. Além disso, o público pode consumir café ou cerveja durante o espetáculo, sem necessidade de comprar no local. Após o final da peça, a Casa permanece aberta para quem desejar ficar por lá, batendo um papo e, quem sabe, discutindo Kafka.