No mês em que completa 161 anos, Passo Fundo lembra mais uma vez o motivo pelo qual carrega uma consolidada história de destaque no país, com conquistas em diversos setores, especialmente na cultura. Neste ano, é em agosto, dez dias depois da data de aniversário de Passo Fundo, que o município recebe o Festival Internacional de Folclore, por exemplo. O evento é só um dos tantos outros para os quais a terra serve de palco - a Jornada de Literatura conhecida nacionalmente, feiras culturais constantes e mostras teatrais anuais são outros exemplos de iniciativas que tornaram Passo Fundo um polo regional cultural.
A cidade é conhecida, inclusive, como Capital Nacional da Literatura, Capital do Planalto Médio e leva a fama de ser a terra do Teixeirinha. Mas mais do que títulos colecionados ao longo dos anos, não há dúvida que quem pode dizer ainda mais sobre o município são seus quase 200 mil habitantes. Afinal, são os munícipes que fazem o município e, neste sentido, não há ninguém mais apto do que eles próprios para citar o que torna esta cidade tão querida por tantos - e, por outro lado, o que ainda precisa ser aprimorado.
Desenvolvimento acelerado
Não é necessário mais do que uma conversa com alguns dos moradores locais para perceber como é difícil falar de Passo Fundo sem destacar as questões relativas ao desenvolvimento. Os títulos agregados à cidade não ficam somente no papel, são comentados e comemorados por aqueles que ajudaram e seguem ajudando a cidade a alcançar tais conquistas. Músico e atual secretário de Cultura do Município, Pedro Almeida destaca que, para ele, os pontos positivos ligam-se diretamente aos fatores que colocam Passo Fundo como referência no Rio Grande do Sul. “Sexta economia do Estado, destaca-se no campo da saúde, na educação e na cultura. Nos últimos cinco anos, tem apresentado desenvolvimento e crescimento notáveis na contramão de um período difícil da economia do país”, comenta.
Em consonância com o depoimento de Almeida, quando fala sobre as partes positivas da cidade, o ator e pesquisador do grupo de teatro passo-fundense Timbre de Galo, Edimar Alexandre Rezende, ressalta com orgulho os setores de referência. Ainda, lembra a dimensão das atividades realizadas dentro do município como um dos pontos pelos quais tem maior afeto. “A Jornada Nacional de Literatura e o Festival Internacional de Folclore são eventos que fazem a cidade respirar cultura. Mas, fundamentalmente, em minha opinião, o principal ponto positivo em nossa cidade são os munícipes, as pessoas que vivem e fazem a cidade pulsar”. Para ele, o que poderia tornar a cidade ainda melhor seria repensar a logística do trânsito, já que ela está crescendo, sua silhueta urbana se modifica a cada ano e o trânsito deveria seguir os mesmos avanços. “Neste sentido, seria necessário investir em meios alternativos para a mobilidade urbana”, opina.
Quem também tem muito a dizer sobre a cidade é o ator Marcio Meneghell. Apesar de ter nascido em Erechim, encontrou nas ruas e nos palcos de Passo Fundo um espaço para chamar de lar e, mesmo que deixe o município constantemente para realizar trabalhos fora daqui, acaba sempre retornando para a cidade que lhe acolheu. “Passo Fundo tem inúmeros pontos positivos, conheço boa parte do Brasil e aqui não fica a dever para ninguém. Tem comida de primeira qualidade, diversão (principalmente noturna, para os maiores de dezoito anos), praças revitalizadas e a cidade transpira progresso. Passo Fundo anda de vento em popa. O progresso é visível e incrível”, comenta com carinho, enquanto, em contrapartida, aponta algumas ressalvas. “Não só aqui mas em qualquer cidade se busca o aprimoramento, temos muito o que melhorar pois esse é o sentido da vida. Ainda falta a real valorização do ‘santo de casa’. Falo mais diretamente no meio artístico, é claro. Tantos já fizeram tanto pela cidade, levando o nome de Passo Fundo aos quatro cantos sem o mínimo feedback e apoio”, desabafa.
Cultura por todos os lados
Três figuras importantes para a consolidação da cena passo-fundense como polo cultural da região, Pedro Almeida, Edimar Rezende e Marcio Meneghell não poderiam deixar de citar especialmente este cenário em seus depoimentos. Almeida enfatiza que a cidade é uma das poucas do Brasil a ter grandes avanços administrativos recentes nesta área. “Possui secretaria exclusiva; desenvolveu o seu Plano Municipal de Cultura, que dará as diretrizes e metas para dez anos; tem um conselho de políticas culturais setorizado, amplo e forte; além de um Fundo Municipal de Cultura com editais anuais garantido por lei”, exemplifica. “O futuro é desenvolver editais que possam apoiar ainda mais as iniciativas culturais, além de aproximar a cultura do empresariado, do turismo e fortalecer a vocação da cidade como polo regional”.
Além disso, nos últimos anos, muitos espaços públicos que auxiliam a cidade na pulsação da arte vêm sendo revitalizados. O Teatro Municipal Múcio de Castro é um deles. “Após a reinauguração do teatro, ele seguiu com uma intensa produção acolhendo espetáculos teatrais e shows musicais, tendo um espaço público adequado para desenvolvimento da arte produzida em nossa cidade”, pondera Rezende. “Esperamos tanto tempo por um Teatro Municipal revitalizado e aí está ele, lindo, após tantos anos de descaso”, Meneghell complementa.
Rezende cita também a importância do Sesc que, neste ano, mais uma vez, foi um grande incentivador da cultura local ao promover a Mostra Sesc de Teatro, com intervenções urbanas e espetáculos nacionais, proporcionando ao público o que de melhor está sendo produzido no país e contribuindo para a formação de plateia. “Além disso, [entre os pontos positivos está] a consolidação da Casa de Cultura Vaca Profana, que mantém uma intensa programação com temas que nos fazem refletir sobre vários aspectos culturais, assim como o Rito Espaço Coletivo. Nas artes visuais, a interferência urbana é notória, com a sua arte estampada nos muros, escadarias e outros espaços públicos, por meio da Confraria das Artes”, cita.
Comunidade e poder público lado a lado
Como cidadão passo-fundense e, ao mesmo tempo, trabalhando junto ao poder público, Almeida destaca que as responsabilidades para manter o progresso devem partir das duas esferas. “Acredito que o cidadão deve ser um otimista em relação a cidade onde vive, onde trabalha. Acreditar no desenvolvimento da cidade é acreditar no seu próprio desenvolvimento. Se eu quero uma cidade melhor, preciso também ser melhor, é uma consequência da ação de cada um. E é, claro, um compromisso diário do poder público promover esse entendimento além do trabalho e das ações/metas”.
Rezende concorda ao dizer que a comunidade tem papel fundamental no processo de promoção das mudanças necessárias, dialogando junto ao poder público municipal, que, por sua vez, tem o dever de entender os anseios, segundo ele. “Isto pode ser feito através dos conselhos municipais de políticas públicas, que é um canal que viabiliza esta conversa. A cidade está em constante transformação na esfera política, econômica e principalmente cultural e cabe ao poder público estar atento às solicitações para melhorar a cidade”.