Em julho deste ano, sonoridades típicas da América do Sul ganharam destaque na Europa. Pelas mãos do músico passo-fundense Ghadyego Carraro, uma turnê com participação em festivais de jazz e de arte deixou em terras italinas um pouquinho de três vertentes musicais que representam um pedaço do que é o Brasil: essa mistura de melodias e culturas. A fusão de ritmos sul-americanos com influência da música fronteiriça, da música popular brasileira e do jazz, a marca registrada de Carraro, rendeu inclusive contatos para futuros shows pelo continente no próximo ano. Desta vez, na Alemanha e na França.
Contrabaixista, compositor, educador e pesquisador com mais de 20 anos de experiência musical, Ghadyego Carraro coleciona no currículo uma gradução em Música, um mestrado em Contrabaixo e uma mala cheia de lembranças das andanças que a carreira lhe proporcionou pelo Brasil afora. Em 2011 residiu, inclusive, durante um ano na Itália, a fim de estudar ainda mais a fundo o mundo musical. Uma oportunidade que lhe rende frutos até hoje, conforme ele conta. “Esses eventos recentes na Itália surgiram a partir de pessoas que já conheciam o trabalho que eu venho desenvolvendo. É um trabalho que faz um diálogo entre essas três vertentes em uma linguagem de música instrumental. Eu tenho tido um bom retorno disso nos últimos tempo, felizmente. Tenho me apresentado em vários lugares e outros eventos estão surgindo, inclusive tenho conversado com pessoas na China e na Coréia a respeito de concertos futuros, para poder divulgar mais ainda a música instrumental brasileira”, o músico compartilha.
Na turnê pela Itália, Carraro foi acompanhado por músicos que já atuam na cena europeia. O baterista Márcio Pereira, embora brasileiro, estuda e trabalha na área do jazz na Itália há um bom tempo. Já o guitarrista de jazz fusion Duccio Spacca, também integrante da banda durante a turnê, é um músico italiano bastante respeitado na indústria de lá, segundo Carraro. “Foi ele que de certa forma intermediou esses concertos. Ele conheceu o meu trabalho e acabou entrando para tocar junto com a gente e fez essa turnê conosco na Itália”, expõe.
Difundindo a música regional
Embora, após alguns anos longe da terrinha, Carraro tenha retornado a Passo Fundo para continuar estudando - agora, ele faz doutorado na Universidade de Passo Fundo - e dar continuidade ao seu trabalho por aqui, os sons dos seus instrumentos são bem mais ouvidos fora desse espaço. “O meu trabalho tem se dado mais fora da cidade do que propriamente aqui. Hoje a internet ajuda bastante a divulgar o nosso trabalho, nesse sentido de ter ele na rede e nas mídias como Spotify e YouTube. Pessoas de outros lugares vão conhecendo”, expõe. “E eu acho de extrema importância poder levar para outros lugares a música que a gente faz, a arte em que a gente acredita, pesquisa, estuda. Eu percebo que no Sul a gente ainda tem um pouco de resistência para isso. São Paulo e Rio de Janeiro estão um pouco melhor nessa questão. Lá, você tem mais espaço para divulgar a música no Brasil”.
A resistência citada pelo contrabaixista em nada se assemelha àquilo que ele diz ter encontrado em outros países, especialmente no solo europeu. “A gente percebe que os europeus têm uma receptividade muito grande para a música brasileira e para as diferentes vertentes de música, de modo geral. Eu, por exemplo, trabalho justamente com os ritmos sul-americanos, que têm uma matriz afro muito forte, misturando o jazz com essa linguagem da música brasileira e essa pulsação de ritmos mais quentes, como o próprio samba. Meu trabalho acaba tendo uma junção disso tudo, eu vou do samba ao milonga. Então fico bem feliz de poder estar apresentando [para novos públicos] um trabalho autoral que envolve isso”, conta.
Novos projetos
Para quem trabalha com a criatividade, circular por novos espaços e vivenciar outras culturas costuma ser uma grande fonte de inspiração. Talvez por isso Carraro esteja tão animado com os projetos que pretende realizar ainda neste ano, como é o caso do álbum “Tribute”. “Esse projeto surgiu justamente para eu poder apresentar um pouco das minhas influências musicais. Eu pensei que estava na hora de fazer um disco homenageando os músicos que me influenciaram ao longo da minha carreira”, explica. Ainda conforme o artista, a ideia inicial foi trabalhar com obras de grandes artistas, por isso o álbum inclui, entre outros, Piazzolla, Tom Jobim, Milton Nascimento, Dominguinhos e Arthur Maia. “A maior alegria que eu estou tendo é de poder contar com outros grandes músicos para gravar comigo o disco. Alguns são os próprios artistas que eu homenageio, como o Alegre Correa, o Ronaldo Saggiorato, a Denise Fontoura, o Pirisca Grecco, o saxofonista de jazz espanhol Joaquim De La Montagna, a violonista americana Lauren Conklin. Muita gente, de vários lugares, e ainda virão outros”.
Ele já adianta que, apesar de ter muito da linguagem instrumental, o disco também terá voz, estabelecendo um diálogo entre a parte instrumental e o canto. “Eu acho muito bacana. É a voz atuando não só como expositora da letra, mas trabalhando conjuntamente com a parte instrumental e dialogando dessa forma, construindo algo de uma maneira um pouco fora do convencional. Acho que é um projeto que vai agregar bastante ao meu trabalho, até pela quantidade de artistas que vão participar. São grandes músicos, que eu admiro muito e eles estão me dando a honra de trabalharmos juntos. Estou muito feliz e trabalhando para finalizar o quanto antes esse disco. A minha ideia é poder lançar até o fim do ano”, finaliza.