Há dez anos, um ciclo de histórias era concluído com o encerramento das atividades do Grupo Viramundos. Por anos, grande parte dos atores de Passo Fundo participou da iniciativa, que levava a arte teatral pelos bairros do município afora, em espetáculos de rua, até seu abrupto fim em 2008. Felizmente para a cena cultural, até hoje as ideias do Viramundos continuam vivas em cada um dos artistas que fizeram parte dessa experiência, mesmo que em novos projetos, como é o caso do Grupo Ritornelo de Teatro. Formado por um coletivo de artistas que trabalharam juntos no Viramundos, o grupo segue dando continuidade à criação de um teatro popular e acessível. Agora, para recordar as vivências do extinto grupo, o Ritornelo faz uma remontagem do seu mais conhecido espetáculo, “O Ferreiro e a Morte”, dando um novo título: “Auto da Miséria”. A estreia acontece na tarde deste domingo (16), no Rito Espaço Coletivo. Marcio Bernardes, que já dirigiu a peça no Viramundos, é novamente responsável por assinar a montagem.
O texto se baseia em uma fábula cômica de origem medieval e suas raízes mais profundas assentam na forma do cordel e de outras manifestações literárias mais populares. Narra a trajetória de um simples homem do povo que consegue, após a passagem de Jesus Cristo na terra, três desejos. Desta forma, o anti-herói da narrativa, o Cumpadre Miséria, consegue enganar a todos: do Governador até as fantásticas figuras de Deus, do Diabo e até da Morte. A partir desse evento, uma série de problemas começam a surgir. De acordo com o ator Miraldi Junior, que participa da peça ao lado de Guto Pasini, Jandara Rebelato e Dani Dalforno, a ideia de revisitar o texto surgiu em maio deste ano, no leito de um hospital. “O Guto estava fazendo um tratamento e começou a conversar pela internet com o Marcio, que está morando em Salvador. Durante a conversa, o Marcio sugeriu que montássemos o ‘Ferreiro’, já que faz dez anos que o Viramundos acabou”, conta. “O Guto falou da ideia para o grupo e na hora topamos. Em julho, o Marcio veio para Passo Fundo e ficou quase um mês trabalhando com a gente para levantar a peça. Agora ele está acompanhando pela internet”.
O espetáculo segue a mesma linha dos trabalhos realizados pelo Grupo Ritornelo desde a época do Viramundos: é cômico, mesclando elementos da farsa e da palhaçaria, tem a música sempre presente em suas cenas e estabelece uma relação com a rua. Alguns pontos, no entanto, precisaram ser readaptados para a nova equipe. “A primeira montagem era grandiosa, já pelo fato de o Viramundos ter um ônibus que virava palco. Além disso, ‘O Ferreiro e a Morte’ de 2001 tinha sete atores mais equipe técnica. Nessa nova montagem tudo é menor e os atores têm que se virar em dobro, literalmente, para dar conta das cenas. A única semelhança é a interpretação do personagem principal Miséria, que [ainda] é feito pelo Guto Pasini”, Miraldi explica.
Homenagem
Dois motivos em especial motivaram o grupo a reviver a peça. O primeiro deles, segundo Miraldi, é o fato de neste ano completar uma década desde o fim das atividades do Viramundos. O segundo é a oportunidade de prestar homenagem ao diretor Mario Santana, falecido no início de 2018, vítima de um afogamento. “Mario Santana foi diretor de dois espetáculos do Viramundos e foi ele que dirigiu o Marcio Bernardes em uma montagem do Ferreiro no Rio de Janeiro. A partir daquele momento as relações se ligaram. Acaba sendo uma homenagem a nosso grande mestre que partiu”.
Planos para o espetáculo
O grupo planeja levar as apresentações da peça para praças e parques da cidade, mas datas e locais ainda não foram definidos. “Vamos circular onde nos chamarem. Queremos apresentar em todos os cantos do estado e do Brasil”, adianta o ator.
Serviço
O que: Estreia “Auto da Miséria”
Quando: Domingo (16 de setembro), às 16h
Onde: Rito Espaço Coletivo (Rua Aníbal Bilhar, 900A)
Quanto: Contribuição espontânea