De riso fácil e forte sotaque porto-alegrense, Carlinhos Carneiro já é figura conhecida no cenário musical de dentro e fora do estado. É ele quem lidera, desde 1998, uma das maiores bandas do rock gaúcho, a Bidê ou Balde. Enquanto o projeto que o alçou ao protagonismo da cena segue de férias – como os membros declaram – há pouco mais de dois anos, Carlinhos tem tocado outros trabalhos que, embora idealizasse há algum tempo, segundo ele, tinha dificuldade em encontrar tempo para desenvolver enquanto precisava se dedicar à Bidê.
Longe dos colegas de banda Vivi Peçaibes, Leandro Sá e Rodrigo Pillas, o gaúcho nascido em Cachoeira do Sul e criado em Porto Alegre divide a paixão pela música com o gosto pela literatura. Carlinhos é formado em jornalismo, tem no currículo dois livros lançados, atualmente é vocalista das bandas Império da Lã e Bife Simples e, mais recentemente, assumiu a função de produtor e ator no espetáculo musical “Coração de Búfalo”.
Além disso, Carlinhos integra o “Trinca Rock Gaúcho”, um show onde canta clássicos do rock gaúcho ao lado dos artistas Alemão Ronaldo e Mr. Pi. Na última sexta-feira (15), foi a vez de Passo Fundo receber o trio para um resgate da história do gênero, no palco do Porão Bar e Tabacaria. “É um show com todo mundo tocando junto, em um clima de encontro entre amigos”, descreveu em entrevista ao O Nacional. Na oportunidade, ele falou ainda sobre outros projetos que tem desenvolvido, a parceria com um selo passo-fundense e a possibilidade de retorno da Bidê ou Balde aos palcos. Confira na entrevista:
ON: No que você está trabalhando no momento?
Carlinhos: Nessa semana, estive trabalhando em um espetáculo. É uma peça de teatro chamada “Coração de Búfalo”, que estreou no dia 12 de fevereiro, no festival Porto Verão Alegre, e foram três dias de apresentação. Essa peça é uma mistura de musical com teatro... Ou de teatro com show, sei lá (risos). Tem músicas inéditas, completamente novas, com toda uma pesquisa de clássicos de bolero e samba canção. É um negócio bem diferente do que o pessoal está acostumado a me ver fazer. É dirigido pelo Bob Bahlis, com as atrizes Gisela Sparremberger, Adriana Deffenti e Denizeli Cardoso.
ON: Você faz parte da produção e do elenco?
Carlinhos: Estamos fazendo praticamente tudo junto nesse espetáculo. Eu produzo, fiz as músicas, apresento elas, ajudei na criação do roteiro juntando textos de autores diversos e atuo um pouco também. Por enquanto tivemos apenas essa temporada de estreia dentro do Porto Verão Alegre, no Teatro de Arena, mas a ideia é justamente levar para outros lugares. Tomara que a gente consiga levar para o Teatro Municipal Múcio de Castro.
ON: E está tocando quais projetos musicais?
Carlinhos: Eu tenho um projeto com vários amigos, que trabalham em várias bandas, chamado Império da Lã. Nós estamos com um disco pronto. A gente gravou ele no ano passado e vai sair agora em março. Além disso, há uns seis ou sete anos a gente fez um bloco de carnaval do Império da Lã e, nesse ano, mais uma vez, o nosso bloco vai sair de Porto Alegre. Mas não somente de lá, nós vamos botar o nosso bloco em outros lugares. Estamos desde 2018 fazendo shows com o bloco em outras cidades. Vamos estar no carnaval de rua de Santa Cruz, na Praia do Rosa, na Atlântida... E mais algum lugar que eu não estou lembrando agora (risos).
ON: Você tem também a banda Bife Simples.
Carlinhos: Sim, eu acabei de lançar um EP com o Bife Simples e O Carabala. Foi no finalzinho do ano passado. Agora em março, provavelmente no começo do mês, deve sair um single novo do Bife Simples e um clipe da música “Beto Bruno”. É uma música em homenagem ao vocalista da Cachorro Grande, que faz parte do disco “Saudades da Mesbla, do Beto Bruno, dos DJs, de Transar e do Tapete da Nossa Casa”. O clipe já está pronto, só falta ser lançado. E junto desse single vamos lançar alguns remixes diferentes da música também. São algumas brincadeiras que fizemos, porque eu inventei a música a partir de uma conversa minha com o Beto. Ela é cheia de áudios dele de WhatsApp.
ON: Você mesmo preparou esses remixes?
Carlinhos: Não. Um dos remixes é feito por dois amigos nossos, o Gabriel Gresele e o Eross. Nesses remixes colocamos mais áudios - tem áudios do Gross e alguns outros. E eu estou no aguardo de mais um remix, que ainda não saiu. Como não está pronto, é melhor eu não falar muito. Vai que não sai, né?! (risos)
ON: Todos teus trabalhos com o Bife Simples são lançados pelo Selo 180, aqui de Passo Fundo, certo? Como se deu esse contato com um selo passo-fundense?
Carlinhos: Exatamente, todos com o meu querido Garras. Eu sou fã do trabalho dele. A gente já é amigo há um bom tempo, eu sempre toquei em Passo Fundo e tudo mais. Sou fã dele desde a banda que a gente tinha. O Garras faz um trabalho sensacional. O Selo180 é um selo que dá um tratamento diferenciado para a música hoje em dia. O mercado fonográfico mudou muito e esses selos assim, que têm mais cuidado com o resultado final, com o modo de divulgar e colocar dentro das plataformas digitais, são verdadeiras pepitas de ouro atualmente. Quando a gente estava com o primeiro EP do Bife Simples, em 2017, eu mostrei para o Garras e perguntei “quer lançar?”. Ele me disse “bah, quero muito!”. Depois, ele mesmo já me pilhou para fazer o segundo disco, então a gente está numa parceria bem legal, bem prolífica.
ON: Além de fazer música, você já lançou algumas obras literárias... Para este ano, tem algum projeto novo nesse sentido?
Carlinhos: Eu estou com tanta coisa rolando na música, que eu não tenho nada de novo na escrita. Eu lancei um livro em 2015, o “Uns troços do Só Mascarenhas”, e em 2017 saiu um livrinho infantil com uma música da Bidê, “Mesmo que Mude”. Agora não estou conseguindo ter tempo. Eu tenho alguns contos já separados, alguma coisa na manga, e eu tenho uma ideia nova de um negócio para fazer, meio de memórias, mas tudo isso ainda é muito incipiente. É um projeto para o ano. Esse de memórias vai misturar escrita com a criação de um disco feito aqui dentro da minha casa. Eu estou montando um estúdio caseiro e quero receber amigos para me visitarem. Vou convidar eles para passarem uns dois dias aqui na minha casa, aí a gente vai entrar no estúdio para gravar algumas coisas ligadas às minhas memórias junto com esses amigos, e a partir disso abrir a minha caixa preta de recordações. A ideia é contar um pouco da minha história na música, a partir dessa experiência. É esse é o meu projeto, mas é uma coisa para ser feita bem aos poucos, bem tranquilamente.
ON: Por falar na tua história musical, o que aconteceu com a Bidê ou Balde? Vocês têm algum plano de voltar a tocar?
Carlinhos:A Bidê está oficialmente de férias. O nosso último show foi no dia 23 de dezembro de 2016 e no começo de 2017 anunciamos que ficaríamos de férias. Paramos porque eu queria, justamente, me dedicar a essas outras várias coisas que eu desejava fazer e não conseguia por estar ocupado com a banda. Também porque a Vivi, que é a vocalista da Bidê, tinha um doutorado para fazer em Portugal. É onde ela ainda está. O Sá, nosso guitarrista, também está morando em Portugal, trabalhando com videogames. Quando acabar o doutorado da Vivi, ela vai voltar para o Brasil e a gente vai combinar de fazer alguma coisa, mas ainda não sabemos o que. Sem muita combinação, que é para não estragar e nem criar possibilidades de frustração.
ON: Então esse contato e a vontade de voltar continuam, apesar da distância?
Carlinhos: Sim, sim, nós mantemos contato. Eu passei o último fim de semana com eles. Eles vieram visitar Porto Alegre e a gente se encontrou. Fizemos dois churrascos juntos e conversamos sobre essas ideias, mas tudo isso vamos fazer com calma. Primeiro, as primeiras coisas. Vamos esperar a Vivi voltar de Portugal para todo mundo poder se dedicar à banda. Enquanto isso, eu vou tocando essas minhas loucuras paralelas.