Uma das bandas mais queridas e conhecidas no cenário passo-fundense, a General Bonimores começa o ano cheia de gás e dando o pontapé em uma nova fase de trabalho. Vencedora do Digital Music Experience 2017 na categoria Novo Talento, na oportunidade, a banda foi agraciada com um contrato com uma das principais gravadoras do país, a carioca MZA Music, e lançou neste mês o primeiro fruto desta parceria, o EP “Hipernova”. Composto por quatro canções que misturam uma série de influências da banda, indo desde o rock, eletro, indie e música popular brasileira, o trabalho é o primeiro de quatro EPs, que devem ser lançados ao longo do ano. Juntas, as quatro partes formarão um disco.
Surgida em Passo Fundo no fim de 2009, a General Bonimores é formada atualmente por Chico Frandoloso no vocal, violão e guitarra, JeiSilvanno na guitarra e vocais, DigDembinski no baixo e Zeh Dala Lana na bateria. São quase dez anos de estrada e uma coleção de prêmios em festivais na mala. No entanto, apesar do alcance e das conquistas, o grupo continuava circulandoespecialmente pelo cenário independente da região Sul. Agora, contratada por um selo de prestígio nacional, o plano daqui para frente é subir geograficamente e levar o show para novos espaços e públicos, conforme conta o vocalista. Confira na entrevista:
O Nacional: Pode contar um pouco sobre o Hipernova?
Chico Frandoloso:Nós lançamos recentemente esse novo EP que, na verdade, faz parte de um disco. Ele já foi todo gravado e está pronto, mas vai ser lançado como se fossem quatro EPs, até formar um disco no fim do ano.Tem todo um cronograma de lançamento, com mais alguns videoclipes. Ainda vai vir muita coisa legal daqui para frente. Tudo isso está sendo feito com a distribuição e planejamento de shows da gravadora MZA Music, do Rio de Janeiro. Quando a gente ganhou a categoria Novo Talento no festival Digital Music Experience (DMX) em 2017, com a música “Não Esqueça”, conseguimos esse contrato.
ON: Comesses novos trabalhos, por qual região vocês têm tocado mais?
Chico:A gente fez uma pausa no fim do ano, depois de terminar a agendano Rio Grande do Sul e agora no início do ano começamos a agenda da banda fazendo uma turnê por Santa Catarina. Como eu e o Zeh estamos morando em Santa Catarina (o Jei mora em Itajaí e o Dig segue com alguns trabalhos em Passo Fundo, mas possivelmente ele vai se deslocar para Santa Catarina junto com a gente também), em março vamos retomar alguns dessesshows por aqui. Também já estão sendo organizadasalgumas agendas para São Paulo e Rio de Janeiro para o lançamento dos EPs, mas isso é tudo pela MZA. Nós não temos mais cuidado tanto dessa parte. O que temos tentado organizar são alguns shows em abril para voltar à região gaúcha. Possivelmente passaremos por Passo Fundo, Santa Rosa, Três de Maio, Porto Alegre... São cidades nas quais o nosso trabalho está bastante focado e onde a gente tem um público muito bacana.
ON: Vocês estão divulgando o “Hipernova” como uma nova fase da banda. O que mudou em comparação com os trabalhos passados?
Chico:A principal mudança é que a banda está partindo para uma nova logística de funcionamento daqui para frente. Desde quando morávamos em Passo Fundo, nós sempre trabalhamos para que a General Bonimores alcançasse não só um público regional, mas também nacional. Nesses quase dez anos de banda, nós temos buscado fazer um trabalho de qualidade e com bons produtores, para que a nossa música possa alcançar outros espaços, algo mais mainstream, mais de música pop brasileira, digamos assim. E falamos pop no sentido popular, independente de qual seja o estilo musical. Queremos que as pessoas possam escutar a nossa música independente do gênero preferido dela ou da região que ela mora.
Então, quando falamos em nova fase, é justamente esse novo projeto que está sendo feito em parceria com a MZA.Nós ficamos gerando esse novo disco desde 2014, praticamente.Então, a partir desse novo lançamento, desenrolamos um pouco coisas que estavam paradas pela questão de trabalho da banda. Durante todos esses anos, nós precisávamos estar sempre na estrada, até por uma questão financeira. Nós não tínhamos o tempo que grandes bandas têm para parar e apenas gravar o disco. Bandas independentes não têm essa disponibilidade. Agora é que de fato viemos com um grande material para mostrar para o nosso público e para alcançar públicos novos. Nessa nova fase, as coisas começam a mudar e a gente começa a ter um pouco mais de tempo para cuidar da parte artística, com mais “tranquilidade”. Entre aspas porque tranquilidade mesmo a gente nunca tem (risos).
ON: Quanto tempo vocês ficaram em estúdio gravando o disco?
Chico:Entre captação, mixagem e masterização, a gente ficou uns dois anos gravando, mas lógico que não foram dois anos direto em estúdio. A gente demorava um mês para deixar um material pronto, depois ia lá e fazia outra coisa, esperava alguém para uma parceria, e assim foi indo o processo. Geralmente, uma banda que já tem um suporte financeiro por trás para de trabalhar na estrada durante dois ou três meses e fica apenas gravando o disco, mas essa não é uma realidade comum para bandas independentes. É algo que temos trabalhado para alcançar um dia.
ON: Qual conceito vocês buscaram trabalhar no disco novo?
Chico:Nós abrimos as portas para essa nova fase com o lançamento do compacto em Vinil “Não Esqueça”. Por mais que tenha muitas coisas que a gente demorou para lançar e que algumas delas perder um pouco do sentido com o tempo, desde lá, o conceito que a gente tem carregado por de trás do disco é o mesmo. Parece até que, com todas essas mudanças que ocorreram desde 2015 até hoje, as coisas fizeram mais sentido ainda. Desde a música até a parte visual, o nosso conceitoestá na percepção de que a banda e todas as pessoas, como indivíduos, são como raízes. Essas raízes podem até enfrentar maus tempos ou solos difíceis, mas elas resistem. Nós cravamos nossas raízes ali e, de um jeito ou de outro, isso vai frutificar. Isso faz muito sentido para nós porque nesse meio-tempo teve muita coisa que a gente passou que poderia ter matado essa árvore, mas a gente resistiu. Passamos por momentos muito peculiares, individualmente e como banda, e mesmo assim dissemos para nós mesmos que íamos seguir firme. As canções passam um pouco disso.Está em nós decidirmos o que queremos frutificar ou não.
ON: Como vocês costumam descrever o som de vocês?
Chico:Nós somos uma banda de rock com influências da música popular brasileira – nosso estilo é bem abrangente, por que tem elementos de todas as regiões do Brasil. Nós misturamos um pouco disso tudo no nosso som, é o que traz uma identidade mais peculiar para a banda. Por exemplo, se você analisar esse nosso novo EP, vai ver que começamos com uma versão eletrorock da canção “Chance” e finalizamos com “Vivências”, que tem a participação da Glaucia Freire, de Belém do Pará. Então é uma canção que traz características, como a guitarrada, diferentes do que vemos no Sul. Mas, essa coisa de estilo musical, eu acho que é tudo uma questão do que você quer dizer na hora que você escreve a música e do que o seu coração está sentindo. O ritmo e a forma de fazer aquilo acontecer surgem naturalmente. Se formos falar de influências, eu teria que falar desde John Lennon até Teixeirinha, porque era o que eu escutava quando era criança.
ON: Nessa quase uma década de estrada, quais marcos você considera que tenham sido os mais importantes na carreira da banda?
Chico:A gente tem várias conquistas musicais legais: o Samsung Festival em 2014, em que a gente pôde tocar com o Gilberto Gil;a vitória no DMX em 2017, que deu esse pontapé para nós com a MZA; no ano passado dividimos o palco com o Tom Morello, que é um cara internacional e fantástico; fizemos a abertura do show de John Mayer... Somos guris de Passo Fundo e já dividimos palco com artistas internacionais que eu nunca imaginaria. Tivemos essa oportunidade graças a um bom trabalho e a todas as pessoas que gostam da gente e fazem o nosso show valer a pena. Elas levam a gente além. Agoratambém vivemos uma nova fase geograficamente falando, por termos mudado de cidade. Penso que é um novo tempo. A gente vai aos pouquinhos subindo no mapa. Se o pessoal não escutar a gente em uma trilha de novela, eles vão nos escutar pelo menos tocando violão na frente da casa deles (risos).
ON: Vocês já participaram de diversos festivais e concursos. De que maneira isso impactou na carreira da banda? Contribuiu para construir uma base sólida de admiradores que acompanham o trabalho da Bonimores, por exemplo?
Chico:Com certeza. É sempre importante participar de festivais, especialmente como uma banda autoral, porque é aí que você vai realmente tocar o seu som. Tocar em pubs de Passo Fundo é barbada, porque a gente está com pessoas que gostam da gente. Agora, se você sair da sua região e partir para outros lugares, a melhor forma de conseguir fãs é participando de festivais, porque as pessoas vão lá justamente para conhecer bandas novas e consumir trabalhos autorais. Senão você acaba caindo naquele vício de fechar shows em pubs e ter que ficar tocando covers. Infelizmente, os pubs que têm intuito de tocar som autoral costumam durar muito pouco.Principalmente quem curte rock tem o costume de reclamar por existirempoucos espaços e reclama dos outros segmentos musicais, mas eles não apoiam a cena. Eles vão nos lugares para escutar sempre as mesmas coisas.
Se a Globo não colocar um Beatles cantado pela Rita Lee como abertura de novela, as pessoas não vão escutar mais essas músicas. A gente fica refém de uma mídia que mostre o que nos agradaria por estilo musical. Quando tem um lugar que você pode prestigiar o som de uma banda autoral, o pessoal vê o show, reclama e vai embora porque não tocou a mesma música que ele sempre quer escutar. Isso é um problema cultural que vemos no Brasil todo, salvo em alguns lugares que têm uma cultura um pouco diferente. Eu percebo que o nordeste abraça mais os seus artistas e é por isso que nós temos tantos artistas nordestinos tocando seus trabalhos por aí desde sempre. É uma crítica para todos nós, como consumidores de música. Precisamos aprender a apoiar novas bandas e não esperar apenas que elas toquem covers clássicos. Tem que dar espaço para elas mostrarem seus trabalhos.
Passo Fundo é celeiro de bandas f****, que têm um som autoral bom, e muitas vezes a galera enjoa de ir aos shows e não apoia certas bandas porque querem escutar cover. O que acontece é que essas bandas acabam tendo que migrar para se fazer valer do som autoral. Isso vai acontecer sempre. Por outro lado, o que eu gosto demais e gostaria que continuasse acontecendo em Passo Fundo, é o Ensaio Aberto da Toca do Ratão. É um evento sensacional, porque as bandas vão lá para tocar seu próprio som e as pessoas que vão lá, vão para escutar o som das bandas, independente de quais elas sejam. Só que ainda é um evento solidário entre bandas e público. A banda vai lá porque ela quer fomentar uma cena cultural. Por mais que isso seja lindo e maravilhoso, ainda precisa terno Brasil mais lugares que promovam essas iniciativas para que as bandas possam seguir em frente trabalhando. Senão vai ser sempre aquela coisa meio sucateada, com bandas que não podem fazer um bom trabalho porque não ganham nada para isso financeiramente falando.