Ao longo da história, Passo Fundo serviu de berço para inúmeros talentos na indústria musical, cujos trabalhos romperam até mesmo as fronteiras do estado. Apesar disso, o município ainda carrega um hábito culturalmente enraizado e comum a grande parte do país, exceto nas metrópoles: seus habitantes são pouco abertos a ouvir novos sons autorais. Para driblar esse cenário e incentivar artistas locais que desejam expor seus trabalhos, a alternativa tem sido promover eventos culturais descentralizados e voltados exclusivamente a quem toca composições próprias. É nesse contexto que o Ensaio Aberto da Toca do Ratão chega à sua 16ª edição, na tarde deste domingo (7), a partir das 16h, no Rito Espaço Coletivo. Apresentam-se as bandas Dezert Sons, Los Marias, Os Araújos e Melisse Delavy. A entrada é gratuita.
Servindo como uma espécie de celebração musical, em um tom descompromissado e que mais parece um encontro entre amigos, o evento abre espaço para artistas locais que sentem dificuldade em inserir seus sons no circuito comercial do município. “Em qualquer bar ou pub, se você tocar uma música que saia daquela coisa radiofônica, provavelmente você não vai tocar mais de uma vez. As pessoas não se abrem para escutar bandas autorais. Nesses lugares, elas estão sempre esperando por covers”, lamenta o músico André Zitto, que atualmente ajuda na organização do evento. Não é a toa que no Ensaio Aberto a apresentação de covers não ganha vez.
Apesar de hoje ser organizado por um coletivo de músicos e amigos, o Ensaio Aberto foi uma iniciativa do músico Leonardo Barbosa Sacramento, carinhosamente apelidado de Ratão. A ideia nasceu dentro da casa de Leonardo – ou, melhor dizendo, dentro da toca do Ratão –, na época em que o músico, residente em Passo Fundo, cedia a própria sala de estar para o ensaio de bandas com as quais ele tinha alguma ligação. Entre um ensaio aqui e outra conversa ali, amigos sugeriram que em alguns fins de semana ele deixasse a porta da sala aberta para quem quisesse entrar. Assim, sem nenhum fim lucrativo, o Ensaio Aberto da Toca do Ratão nasceu, sempre sob os olhos atentos de Leonardo, um músico bastante ciente da necessidade de haver apoio e não rivalidade entre as bandas locais.
Hoje, Leonardo acompanha tudo de longe: há quase três anos, ele mora em São Paulo, com os colegas da banda Picanha de Chernobill. A distância, no entanto, não serviu de empecilho para que os ensaios abertos continuassem vivos, mesmo que em um novo local. “Na verdade, a ideia de dar continuidade foi mais do Ratão do que nossa”, conta André. “O Ratão só está de corpo ausente. Em alma, satisfação, organização e ideias ele nunca deixou de fazer parte da Toca. Depois que ele foi embora, a gente começou a fazer os encontros lá no Rito, mas ele sempre ajuda na organização e na escolha de bandas. São coisas que a gente faz pelo WhatsApp mesmo. A proposta tomou uma forma maior, ela cresceu bastante, e a gente não queria parar de fazer algo que era importante para os artistas de Passo Fundo. A gente precisava de um local onde a gente pudesse mostrar o nosso trabalho e não tocar cover. Sem falar que a Toca abrigou outras vertentes artísticas também. Teve exposição, teatro... Está tudo interligado”, salienta.
Propósito beneficente
Além de ceder um palco e reunir ouvidos interessados em admirar canções que ainda não chegaram às paradas musicais, o Ensaio Aberto abriga também comerciantes locais. Nesta edição, estarão presentes a Cerveja Cervage, o Sucesso Burger, a Etc e Tal Bottons e a loja de camisetas Máquina Ligada. “Todas as vendas fazem parte dessa ideia da Toca de incentivar pessoas daqui. Todos esses negócios são negócios locais, produções nossas”, explica André.
O lucro arrecadado com as vendas é totalmente revertido para algum projeto beneficente. Nas edições passadas, era destinado à campanha “Um olhar para o Theo”, organizada pelo próprio André Zitto, pai de Theo. A campanha visava arrecadar recursos para o tratamento do menino, diagnosticado com uma distrofia retiniana. Nesta edição, porém, ganha uma nova destinação: a Associação Passofundense de Cegos (APACE).
Programação
O evento começa às 16h, com a apresentação de atividades organizadas pela APACE, com o objetivo de mostrar para as pessoas algumas das dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais no dia-a-dia. Depois, às 17h, acontece um sorteio para definir a ordem da apresentação das quatro bandas. A dinâmica para participar é simples: basta chegar e curtir, sem pagar nada por isso. “Para quem quer conhecer arte produzida em Passo Fundo, essa é a pedida para esse domingo”, convida Zitto.