O menor palco do mundo

Por Luiz Carlos Schneider

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O menor palco do mundo
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Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo. Não, não! Aqui, abre-se a cortina. Apenas uma, até porque não haveria espaço para mais do que isso. Sim, é o menor palco do mundo. E fica na Indep em Passo Fundo. É um pedacinho de chão dependurado no teto do Batatas, cujo nome de batismo é Sweet Swiss Potatoes. Por que é pequeno? Lembram-se daquela historinha de que os melhores perfumes estão nos pequenos frascos? Fechou. É bem melhor a intimidade de um local microscópico com música boa do que a amplitude de um salão expelindo gritos semitonados pelas janelas. E é nesta caverna que encontramos intimidade e aconchego. Espaço? Ora, somos urbanos e já vivemos amontoados.
 
(O que vem a seguir não é um parágrafo. É um espaço para mais um gole)
O menor palco do mundo fica numa espécie de minimezanino. De acordo com imprecisos cálculos do nosso Departamento de Engenharia Empírica - DEE, teria 2,76m de largura (apenas 1,80 de vitrine), 1,23m de profundidade e 1,35m de altura. Sim, alguns bateristas acabam penteando o cabelo na espuma do forro acústico. O músico que ficar no canto direito pode esticar uma perna para fora. A proximidade com o público multiplica o espaço. É como se todos estivessem de olho num pequeno televisor. Porém, com a sinergia que só a música ao vivo propicia. As vibrações nos aproximam da banda e focamos o olhar para um recorte de imagem de onde vem a arte. O bom gosto do público é afinado, mesmo diante de ecléticas origens, conceitos sociais ou quilometragens percorridas.
 
(Espaço para outro gole)
De agora ou das antigas, a galera é massa. E a sonzera é amplificada ao rebater na exígua área. Sim, o palco é proporcional ao espaço ocupado pela plateia. Seriam, também de acordo com levantamento do DEE, uns 9,58m². Parece pouco, mas para o nosso querido Zé Tendéu aquele corredor é uma imensidão. Tipo ninja, ele passa com garrafas de um lado para outro. Também tem uma vassourinha mágica, que entra em ação quando a compressão dos corpos elimina copos. Com a banda sobre a cabeça, Léo Britadeira prepara drinques com mirabolantes manobras. Bem mais silenciosa, Ivone Maravilha surge na portinha numa fração de segundos para entregar mais um prato. Essa agitação excita uma adrenalina que provoca a alegria contagiante.
 
(Com licença, mais uma)
Noite de show é sempre diferente. Pouco muda em relação a um coletivo urbano em hora de pico. Quase todos ficam em pé. Alguns privilegiados conseguem um banquinho nos balcões laterais ou nas mesinhas. Já aqueles que nasceram com os glúteos virados para a Lua ficam embaixo da escada. É um espaço VIP, com sofazinho onde longos beijos ascendem as melhores das intenções. Confortável e com direito a sentir a vibração do contrabaixo reverberar no assento. Seria uma nova massagem tântrica? Mas nesta área VIP quase não se visualiza o menor palco do mundo. Mas isso pouco importa. O que vale mesmo são essas vibrações. Por cima e por baixo.
 
(Vê a saideira, Zé)
O que rola no palco? Rock. Muito rock and roll. As bandas já são conhecidas da galerinha e os músicos excelentes. Sem nomes para não perder votos no futuro por falta de memória. Os repertórios variam um pouco. Alguns tocam mais o rock nacional. Outros trazem temas internacionais. Mas tem aquelas que nunca faltam, como Stand By Me, de Ben E. King. Nossa, é contagiante. Tem quase 60 anos e todos cantam junto. Entre os aplausos, surgem beijos compulsivos ou inesperados. Ora, ninguém nasceu para não ser feliz. Ainda mais num clima sem rigores da idiotice ou preceitos hipócritas. E, cá entre nós, beijar é sempre ótimo. Ainda mais de olho no menor palco do mundo.
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(*) Jornalista, filho de Oxalá e Iemanjá, é boêmio convicto, quase alcoólatra, ex-fumante e gente da noite.
 
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