Um passo-fundense no palco do Rock in Rio

Tiago de Moura, guitarrista da banda de viking metal Armored Dawn, sobe ao palco do festival pela primeira vez nesta sexta-feira (4). Em entrevista ao ON, ele relata um pouco da trajetória que trilhou até conseguir espaço em um dos maiores eventos musicais do país

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Os velozes riffs de guitarra que, durante doze anos, foram apresentados para modestas dezenas de ouvintes que circulavam por um dos shoppings de Passo Fundo, agora, se voltam para a multidão fervorosa que percorre a Cidade do Rock, no Rio de Janeiro. Nascido em Passo Fundo, onde viveu a maior parte da vida antes de mudar-se para São Paulo, o músico Tiago de Moura – apontado como um dos grandes guitarristas brasileiros da última década – sobe ao palco do Rock in Rio (RiR) na noite desta sexta-feira (4), com a banda de viking metal Armored Dawn. Eles são um dos headliners de um novo palco do festival, o Supernova, que tem como proposta reunir novos expoentes da música brasileira, de diferentes estilos.


Embora seja a primeira vez que, assim como Tiago, a Armored Dawn participa do RiR, experiência é um quesito que não falta no currículo de todo o grupo. Formada também pelo vocalista Eduardo Parras, o baixista Fernando Giovannetti, o tecladista Rafael Agostino, o baterista Rodrigo Oliveira e o guitarrista finlandês Timo Kaarkoski, a banda tem chamado a atenção por sua ascensão meteórica e a qualidade sonora e visual dos trabalhos apresentados. Com dois álbuns lançados no mundo todo e um terceiro disco com lançamento marcado para o dia 18 deste mês, em apenas cinco anos de estrada, alguns números ligados à Armored Dawn são dignos de admiração: ela coleciona mais de 600 mil seguidores em uma única rede social, além de milhões de visualizações em seus videoclipes.


O desempenho acima da média não é difícil de ser compreendido: a banda não pega leve na hora de investir em profissionais experientes. No seu primeiro disco, “Power of Warrior”, a Armored Dawn contou com a produção de Tommy Hansen, produtor das gigantescas bandas do metal Helloween e Jorn. Já o segundo, “Barbarians in Black”, recebeu os cuidados do americano – e não menos experiente – Kato Khandwala. Se estes nomes ainda não impressionam, vale lembrar que eles foram a única banda brasileira a participar do cruzeiro do Motörhead e, recentemente, chegaram a se juntar às bandas Helloween, Whitesnake e Scorpions, no Rockfest. Em entrevista ao ON, Tiago de Moura fala sobre os caminhos que o levaram até a Armored Dawn e como, aos poucos, a banda conseguiu alcançar espaços tão importantes dentro do mercado.


ON: Como começou a sua trajetória na música?
Tiago de Moura: Eu comecei cedinho, com sete anos. Eu morava em Passo Fundo e meu pai, que era músico de MPB, me deu um violão. Cheguei a aprender algumas musiquinhas, mas na época não bateu. Só senti vontade de tocar mesmo em 1991, durante a segunda edição do Rock in Rio, quando eu assisti as bandas de rock tocando. Fui direto para a guitarra e, quando peguei o jeito, montei algumas bandas de metal. Foi o estilo que mais me chamou a atenção dentro do RiR – fiquei encantado por Megadeth, Judas Priest, Faith no More... Cheguei a ter uma banda com o Gross [ex-guitarrista da banda Cachorro Grande], que estava morando um tempo em Passo Fundo. Foram várias experiências. Cheguei a estudar dois anos na Universidade de Passo Fundo, mas não terminei o curso, e fiz diversos cursos e workshops em Curitiba e São Paulo. A partir daí, segui e lancei seis trabalhos solos, todos discos instrumentais. Graças a eles, em 2008, fui indicado a melhor instrumentista no Prêmio Açorianos e, em 2011, a melhor disco. Também em 2011, eu me mudei para São Paulo, para dar aula no Conservatório de Música Souza Lima. Sou professor lá até hoje. A oportunidade de entrar na Armored Dawn surgiu pouco tempo depois, em 2012, quando ela ainda se chamava Mad Old Lady.


ON: Você sempre compôs a maior parte dos trabalhos em seus discos solo. Com a Armored Dawn, ainda consegue exercitar a habilidade como compositor?
T.M.: Sim, todos ajudam nas composições da banda. Neste terceiro disco, que vamos lançar agora, eu e o baixista pudemos contribuir bastante, mas as ideias partem mais do Eduardo Parras, que toca piano. Ele costuma gravar as ideias em casa, passa para nós e a gente ajuda a construir as músicas. Eu ainda componho solo também, mas hoje o Armored Dawn é minha prioridade.


ON: Vocês se descrevem como uma banda de viking metal, né? Por quê?
T.M.: É pelo cunho das nossas letras. São letras que levam para esse lado medieval. No primeiro disco, tinha uma música chamada Viking Soul. Foi uma música que a galera gostou muito e aí o segundo disco acabou sendo levado para esse lado em quase todas as letras. O novo álbum se chama Viking Zombie e conta uma história também ligada a essa temática. Todas as letras estão conectadas para contar a história de um viking, que morre em batalha e volta como zumbi.


ON: E como surgiu o convite para tocar no Rock in Rio?
T.M.: Foi graças ao nosso fã clube, o Dragon Clube. Em todas as postagens do festival, eles pediam Armored Dawn. Acho que a galera não aguentava mais ver nosso nome (risos). Acabou chegando nos caras da organização e eles nos chamaram para tocar nesse palco novo.


ON: Então vocês tem uma base de fãs muito ativa aqui no Brasil. E fora do país, onde vocês já tocaram em tantos lugares, como é a recepção?
T.M.: Curiosamente, nosso maior público está na Europa. Principalmente na Alemanha, por termos trabalhado com uma gravadora alemã. Já fizemos uns quinze shows por lá. Mas o show que mais me marcou foi na Dinamarca. Nós tocamos a música Sail Away, que é uma música de trabalho do nosso segundo disco, e toda a casa cantou. Estar do outro lado do mundo e ver todo o pessoal cantando as nossas músicas foi incomparável. Agora, estamos na expectativa tanto para o Rock in Rio, nesta sexta-feira, quanto para os shows de novembro, quando faremos uma nova turnê pela Europa. Vai ser uma experiência nova. Na turnê passada, fizemos treze shows pelo Leste Europeu e fomos descendo até a Grécia, mas era como banda de abertura. Agora, será nossa primeira turnê como banda principal. É diferente. Quando você é a banda de abertura, já conta com o público do outro grupo, acaba sendo uma segurança. Então, claro, ficamos ansiosos. Ultimamente, nós estamos direto no estúdio. Estamos há mais de dois meses ensaiando todos os dias.


ON: Quando vocês formaram a banda, já tinham a intenção de sair do país ou foi algo que aconteceu organicamente?
T.M.: Como a banda sempre fez as letras em inglês, nós já pensávamos em sair do país. É o ideal para o crescimento da banda, embora São Paulo seja uma cidade muito cultural e que nos comporta muito bem.


ON: E como é para você, pessoalmente, sair de um município do interior gaúcho e acabar rodando o mundo, fazendo shows tão grandes?
T.M.: É incrível, mas eu sempre imaginei que sairia de Passo Fundo. Era o ideal, na minha cabeça. Eu achava a cidade muito pequena. Eu toquei no Bourbon Shopping por doze anos, em um projeto chamado Música na Praça, que consistia em apresentações na praça de alimentação do shopping. Eu não queria passar o resto da vida tocando nisso. Nada contra. Vivi disso por muito tempo. Mas eu achava que podia alcançar mais lugares. Fui atrás disso e, aos poucos, foi acontecendo. Quando me falaram “por que você não vai para São Paulo?”, eu pensava que não daria certo porque existem muitos e muitos músicos ótimos em SP. No fim, felizmente, tem dado certo.

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