Acomodado em uma das cadeiras estofadas da sala de refeição do Maitá Palace Hotel, o cantor, compositor e ex-deputado federal pelo Partido Republicano de São Paulo (PRB/SP), Sérgio Reis, recebe os jornalistas com a serenidade de quem abre as portas de casa enquanto termina de tomar o café da manhã, naqueles goles finais no copo de iogurte, observando o tráfego de ônibus e carros no sentido bairro Petrópolis – Centro.
A camisa de mangas longas em cores azuis, “colorida”, como ele mesmo brinca entre uma pergunta e outra, já contrasta com os cabelos grisalhos e as sobrancelhas em um tom avançado de descoloração de alguém cuja carreira dedicada à música sertaneja ultrapassa os 50 anos. “Esse vínculo com o Rio Grande do Sul é muito antigo”, enfatiza ele com um tom de voz sereno que é interrompido várias vezes durante a entrevista por trechos de músicas que começa a cantar durante as falas, como o Canto Alegretense. Ao lado dele, o músico Oswaldir acena com um sorriso conhecedor das letras pampeanas das décadas que dividiu o canto gauchesco com o parceiro Carlos Magrão.
Agora, no entanto, junto ao Grupo Quinteto Nativo, lança o projeto Panela Nova. O nome é uma brincadeira alusiva à canção Panela Velha, gravada por Sérgio Reis, na década de 1980. “Eu quero ficar um ano trabalhando no Sul”, diz o cantor paulistano. O projeto, com o Oswaldir, começou a ser gestado há três meses junto ao músico passo-fundense Pedro Almeida. “No repertório, entra músicas do Sérgio e as minhas”, explica.
Cruzando a porteira
“Você quer que eu coloque o chapéu pra foto”, pergunta o cantor acomodando o acessório preto afivelado no topo da cabeça. Naquela altura da manhã de sexta-feira (20), Sérgio Reis falou por uma hora sobre a carreira, a vida na política no exercício do único mandato parlamentar pelo PRB, em 2015, e sobre a transição de gênero musical. Em um baile de debutantes, no Triângulo Mineiro, o artista abandonou o rock açucarado da Jovem Guarda para cantar ao homem interiorano. “Não tem música mais famosa no Brasil que ‘O Menino da Porteira’, considerou. A moda de viola que versa sobre sentimentalismo e o cotidiano de lida no meio rural alçou Reis aos topos das paradas musicais e das listas de reprodução dos fãs que, meio século depois, ainda abordam o artista no saguão do hotel em Passo Fundo para demonstrar carinho e registrar o encontro no flash de um câmera. “A gente nasce nessa vida de música e vai aprendendo”, fala ao se recordar da primeira violinha que ganhou do pai e que guarda até hoje. “Cantei ‘O Menino da Porteira’, mas penso em gravar ‘O Menino da Canseira’ porque eu estou cansado”, diverte-se ele.
Aos 79 anos, Sérgio Reis deve aventurar-se, agora, pelo batuque ritmado do pagode ao gravar, no próximo ano, a música “Filho Adotivo” acompanhado do som da cuíca e do pandeiro. Antes, porém, vai percorrer as cidades gaúchas, como na mesma sexta em que passou pela cidade conservada na voz de Teixeirinha, lembrado por ele em algumas falas da entrevista, à noite em um show na cidade de Frederico Westphalen dividindo o palco e os anos de estrada com Oswaldir e o Grupo Quinteto.
Em 19 de março do próximo ano, se não houver conflitos de agenda, a dupla vai ecoar os acordes de canções como “Coração de Papel” no Gran Palazzo, na segunda passagem do cantor por Passo Fundo.