Em uma cidadezinha, coisas estranhas começam a acontecer. Um pai busca pelo filho desaparecido, um padre confronta entidades malignas que apenas ele vê e crianças de um orfanato adoecem sem motivo aparente. O enredo introdutório é uma síntese do livro “Sacramento”, cuja obra levou 10 anos para ser escrita e três para ser ilustrada por dois autores, de Ibirubá e Passo Fundo, que buscam agora arrecadar fundos de financiamento para a impressão da novela gráfica.
O trabalho extenso, de quase uma década, foi idealizado pelo escritor Marcos Nogueira para ser uma ficção destinada ao público adulto por “conter cenas chocantes que podem ser ofensivas a algumas pessoas”, conforme consta na descrição do projeto literário na plataforma colaborativa Catarse. É por lá que as palavras do autor e as ilustrações do publicitário passo-fundense, Eduardo Leon de Camargo, podem se converter em 200 páginas de narrativa em preto e branco que conduzem o leitor à jornada de um pai, convencido do sequestro do filho por um fugitivo, em uma busca para recuperá-lo. “A tensão é de que um trabalho longo e exaustivo pode não ser financiado, nada é certo”, comenta Leon. “Esse dinheiro vai direto para o custeio de impressão e envio. E 13% fica com o próprio Catarse, se for financiado. Caso não conseguir, o dinheiro volta para o bolso de quem tentou ajudar no apoio”, explica ainda.
A HQ, dividida em introdução, capas, miolo e extras, tem um custo aproximado de R$ 15 mil reais para a tiragem inicial. A campanha iniciada por eles há 10 dias, no entanto, arrecadou 20% do total necessário para que a impressão em capa dura seja viabilizada. “São obras maduras, adultas, longe de parecerem algo infantil ou mesmo bobo. Há muito espaço para isso nessa área”, avalia ele sobre o formato da narrativa.
A história contada em traços
O universo de terror da história, a cada página, ganha feições humanas pelas mãos do ilustrador. Em traços escuros, Leon criou os personagens, cenários e ambientações detalhadas para que o leitor consiga ter uma experiência de imersão na narrativanessa que é a primeira obra do publicitário como quadrinista. “No nosso caso, havia um personagem, um caminhoneiro serial killer que capturava prostitutas na estrada. Só que eu sentia que deveria deixá-lo único, fazer alguma coisa pra transformá-lo numa espécie de personagem central no sentido visual nessa obra”, relata.
Embora o título do livro seja homônimo ao nome da cidade em que os acontecimentos se desenvolvem nos quadros, o espaço temporal e de localização territorial é suspenso ao longo de toda história, contribuindo para a interação imaginativa. “Cada um tem suas vontades e interesses. O desafio é aliar essa personalidade ao desenho, seja na própria aparência e postura, como também nos semblantes”, completa Leon.