No dia 1º de setembro de 1939 teve início a guerra mais letal da história. A Alemanha nazista, liderada por Adolf Hitler, tinha o objetivo de dominar a Europa. Os alemães fizeram um grande investimento bélico, aviões e tanques foram construídos, e soldados foram treinados. Há exatos 81 anos, tropas do exército alemão atacaram a Polônia e conseguiram uma vitória rápida. Essa invasão foi o início da Segunda Guerra Mundial, que se estenderia até 1945, e provocaria 80 milhões de mortos.
Especialista em Segunda Guerra Mundial, o historiador passo-fundense Samuel Schneider já escreveu três livros sobre o assunto. É professor de História, palestrante e possui um canal no YouTube. Fez mestrado e já estudou na Alemanha. Em entrevista para ON, ele fala sobre a participação brasileira na guerra e sobre como essas lembranças ainda podem ser vistas no cotidiano de Passo Fundo.
ON: Como Hitler tentou dominar a Europa durante a Segunda Guerra?
Samuel: A Alemanha nazista era uma ditadura que desprezava o Direito Internacional. Os nazistas invadiram vários países, destruíram cidades e massacraram inocentes. Os alemães conseguiram derrotar a França, mas fracassaram na invasão da União Soviética, em 1941. A partir da batalha de Stalingrado, na Rússia, os alemães foram derrotados por seus inimigos, especialmente pelos russos. Americanos e ingleses também ajudaram a derrotar as tropas de Hitler.
ON: Quais foram os crimes cometidos pelos nazistas durante este período?
Samuel: Adolf Hitler era um racista que desprezava povos estrangeiros. Ele odiava os povos eslavos (poloneses, ucranianos e russos) e odiava ainda mais os judeus. Na mente genocida de Hitler, esses povos deveriam ser deportados, explorados e fuzilados para que os alemães dominassem a Europa. Cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas durante a guerra. Muitos foram fuzilados, outros envenenados com gás em campos de extermínio como Auschwitz, na atual Polônia. Além dos judeus, outras minorias também foram perseguidas: ciganos, homossexuais, comunistas, deficientes, padres, intelectuais.
ON: Nas escolas brasileiras, como se estuda o tema Segunda Guerra Mundial?
Samuel: Nos últimos anos, eu fiz dezenas de palestras em escolas públicas e particulares, para divulgar meus livros. A maioria dos alunos participa e faz perguntas. A Segunda Guerra Mundial faz parte da disciplina História, no Ensino Fundamental e também no Ensino Médio. O assunto é muito cobrado em vestibulares e abordado em filmes, geralmente é por causa desses filmes que os jovens conhecem os horrores do nazismo e do Holocausto contra os judeus.
ON: Que relação o Brasil teve com a Segunda Guerra Mundial?
Samuel: Na época, o Brasil era governado por Getúlio Vargas, um gaúcho de São Borja. A capital federal ainda era o Rio de Janeiro. Vargas até simpatizava com fascistas italianos e com nazistas alemães. Mas quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939, o governo brasileiro se aproximou dos Estados Unidos. Os americanos ofereceram recursos financeiros para o Brasil investir em fábricas e armamentos. Porém, a situação ficou crítica quando submarinos da Marinha alemã afundaram navios na costa brasileira. Aproximadamente 500 marinheiros morreram nesses ataques alemães. Pressionado pela opinião pública, Vargas declarou guerra contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 1942.
ON: Como foi a participação dos soldados brasileiros na guerra?
Samuel: Os militares brasileiros foram treinados segundo o padrão americano. Usavam armas e uniformes americanos. Mais de 25 mil brasileiros, entre soldados e oficiais, foram mobilizados para a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que acabou enviada à Itália, via navios, para lutar contra os alemães.
ON: Como você avalia a participação brasileira no contexto geral da guerra?
Samuel: Muitos nacionalistas gostam de elogiar a FEB, mas, na verdade, o número de soldados brasileiros que lutaram na Itália foi muito pequeno se comparado com o número de soldados alemães, japoneses ou russos mortos na guerra. Na Europa, a União Soviética foi o país que mais perdeu vidas, aproximadamente 20 milhões de pessoas. A Polônia, a Grécia e a Iugoslávia também perderam muitas pessoas, sobretudo judeus. Na Ásia, os japoneses mataram milhões de inocentes na China.
ON: Como foi a participação de Passo Fundo e região na guerra?
Samuel: Nos anos 1940, Passo Fundo tinha 80 mil habitantes. Claro que pessoas daqui foram convocadas para lutar na guerra. O Rio Grande do Sul sempre foi um dos Estados brasileiros com mais bases do Exército. Na época, vale lembrar, o presidente brasileiro era Getúlio Vargas, um gaúcho. É curioso que Vargas é descendente de pessoas nascidas em Passo Fundo, ali do distrito do Pulador.
Em 2019, uma banda do Exército Brasileiro tocou em um shopping de Passo Fundo, em homenagem a Delsi Branca da Luz. Ele foi um dos brasileiros enviados para a Itália lutar contra os alemães. Eu, moro perto da Praça “Santa Terezinha”, que na verdade essa praça se chama Capitão Jovino. O Capitão Jovino foi uma pessoa que morou naquela vizinhança e que lutou na guerra, já morreu fazmuitos anos. Ele lutou na batalha de Monte Castello, por isso que uma escola estadual do bairro se chama Monte Castello.
Mas a pessoa mais famosa envolvida na guerra foi Fredolino Chimango. Ele nasceu em Passo Fundo, em 1921, foi um dos “pracinhas” enviados para lutar na Itália contra os alemães, mas acabou morrendo na Batalha de Montese, a batalha mais sangrenta travada pelos soldados brasileiros. Ele morreu atingido por um morteiro da artilharia alemã. Segundo uma versão, seu cadáver ficou escondido embaixo de escombros e só foi descoberto décadas depois. Em Passo Fundo, Fredolino Chimango é considerado, por vezes, um herói, há uma escola municipal com seu nome, e o campo na frente do antigo quartel do Exército também leva seu nome.