Você já leu uma história que te fez viajar por outros lugares? Já aprendeu sobre um conteúdo específico por meio de uma obra de embasamento teórico ou mesmo leu poemas que expressavam sentimentos e emoções? Pois é, tudo isso e muito mais é possibilitado pelo livro, ferramenta fundamental para o desenvolvimento da sociedade e que promoveu grandes transformações pela leitura e a educação.
Nesta quinta-feira, 29 de outubro, Dia Nacional do Livro, o coordenador do curso de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF), professor Dr. Miguel Rettenmaier, que também é um dos coordenadores das Jornadas Literárias, destaca a importância da leitura por meio de bons livros para a formação humana e profissional. “Eu prefiro pensar na importância da leitura na formação das pessoas, o que inclui, é claro, bons livros e, acima de tudo, obras literárias. O texto literário guarda em si elementos que o particularizam na formação dos sujeitos, e isso se dá pelo contato com o estético, no desenvolvimento da sensibilidade. Pela literatura visitamos alteridades que estão além de nossa interioridade isolada, no sentido de que podemos nos deslocar para outras linhas e outras perspectivas de vida”, comenta.
As experiências possibilitadas pela leitura de obras promovem experiências únicas que impactam na vida e na formação do ser humano. “Ler literatura é sempre viver a vida de outro, as desventuras de um personagem, os sentimentos de um outro “eu” apaixonado e em expressão... ler literatura é “ouvir” um outro alguém, é saber das dores que jamais poderíamos imaginar sentir. É, também, dar nomes às nossas angústias, para as quais muitas vezes não encontramos palavras. Por isso, a arte literária é ainda capaz de nos iluminar no sentido de que encontremos outra alteridade – a que está dentro de nós e que ou não conhecíamos ou ainda não havíamos construído claramente. A leitura da literatura, assim, jamais é silenciosa ou solitária: é um ato mágico de comunicação com o mundo e com nossa própria subjetividade”, afirmou.
Primeiras obras
Mas como despertar interesse para a leitura para crianças? O cuidado e a atenção por meio de momentos de leitura entre pais e cuidadores aproximam dos livros. “Quando falo sobre leitura penso também no que de afetivo pode haver entre as pessoas. Despertar para a leitura não pode ser independente de despertar para o amor, para a atenção, para o cuidado, para a curiosidade, para o interesse. Não é um engano pensar que nossos primeiros “livros” são as pessoas que amamos, que o contato com as primeiras páginas em nossa vida se dá pelo afago e pelas histórias que ouvimos na voz das pessoas que nos cuidam, que nos ensinam, que se preocupam. Aliás, muitas histórias para crianças vêm da oralidade com esse propósito: ensinar a ver (ou ler) o mundo e as coisas, seus perigos e suas oportunidades, seus desafios, suas maravilhas e fatalidades... Os livros, na formação de jovens leitores, devem representar, mais tarde, o mesmo carinho e o mesmo desejo. Como diz Pennac, ler é como amar, não suporta imperativos”, disse.
Para Rettenmaier, não há fórmulas definitivas para despertar para a leitura, mas sim maneiras de mediar as descobertas literárias. “Há maneiras de mediar, as quais se inscrevem em várias formas de envolver os sujeitos nas descobertas das leituras, nos encantos da sensibilidade. Nenhuma delas se diferencia ou supera o que há de essencial na leitura: o diálogo, a conversa. Da mesma forma como o texto conversa com o leitor, seus atributos menos evidentes (até algum segredo ou chave de enigma) podem se revelar na conversa entre os leitores. Falar sobre o que se leu e ler novamente, mas junto... e isso é sempre muito bom. E jamais pode ser imposto”, finalizou.